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Chamada para dossiê Ensino de Filosofia

2025-07-22

Pensamento e ação, via de regra, caminham juntos. O modo pelo qual se opera esse enlace, todavia, é deveras variável. Interessa-nos aqui aludir a uma experiência de pensar que reverbera nos atos humanos, na existência, na configuração do mundo, mas cujo enlace com o agir exige uma tônica outra, com graus variáveis de dissonância e reverberação. Essa experiência é filosófica. A saber, um pensamento que, orientado por uma perplexidade originária, transtorna os esquemas que normalmente orientam os quadros a partir dos quais damos como certas as significações e o sentido das palavras, das condutas, das coisas todas que existem e compõem nosso universo. Lançar-se na direção de tal experiência, que ousa transtornar nossa paisagem interna, exige uma desconexão, um desvio em relação aos imperativos pragmáticos, à lógica operatória e eficaz que norteia nossos intuitos de sobrevivência e de perenidade. Numa palavra, a filosofia enquanto experiência de pensamento por sua própria natureza, ainda que faça do real e de tudo que ele envolve seu objeto, requer uma distância do envolvimento técnico com a coisalidade e um desvio do puro desejo de conformidade.

Em vista disto, a questão que para nós se impõe, assim se configura: essa experiência pode de fato ser ensinada? Ao sermos assim interpelados, são várias as vertentes de reflexão que se descortinam. Mencionemos algumas delas.

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Edição Atual

v. 12 n. 23 (2025): Funções da arte
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Como órgão editorial da linha de pesquisa “subjetividade, arte e cultura” do programa de Pós-graduação em filosofia da Unifesp, a Revista Limiar pretende ser tanto a expressão da experiência intelectual que marca sua origem quanto apontar para além dela. Muito mais que a reunião casual de pesquisadores dedicados a campos distintos da reflexão filosófica, sua ideia está nos momentos de confronto do trabalho conceitual e teórico, que caracterizou a filosofia em sua história, com a multiplicidade dos fenômenos artísticos, sociais e culturais. Num ambiente acadêmico ameaçado pela padronização dos formatos de escrita e divulgação científica, Limiarprocura tornar viva a recordação de que a filosofia sempre se valeu das mais diversas formas literárias para aproximar-se com rigor de seus objetos e refletir sobre seus próprios fundamentos. O vigor do pensamento é uma força contrária à rigidez da exposição. Desconfiando das fronteiras previamente demarcadas entre as especialidades acadêmicas, Limiar pretende ser um ensejo ao diálogo com as disciplinas das artes e das ciências humanas no esforço comum de iluminar seus objetos de reflexão. Assim como os conceitos clássicos de subjetividade e de consciência foram desafiados pelo surgimento da psicanálise e pelos diversos desdobramentos da arte moderna, as teorias estéticas distantes da experiência com as obras de arte também se viram sem instrumentos para compreender as reviravoltas no domínio da arte. Da acentuada transformação técnica da obra de arte à contestação dos limites entre arte e realidade, passando pelos vínculos entre arte, subjetividade e mercado, a experiência artística é um lembrete à necessidade do pensamento exercitar-se no contato com os objetos caso não queria enrijecer-se e perder seu aguilhão crítico. Como a investigação científica não deve abrir mão da reflexão sobre seu próprio posicionamento histórico, discernir potenciais de liberdade e emancipação em um mundo permeado por formas de dominação social pode ser a medida de sua relevância. Esta revista pretende fidelidade a esta ideia, estimulando a receptividade da filosofia à diversidade da experiência artística e intelectual.