(ESCRE)VIVÊNCIAS EDUCATIVAS DE UMA JOVEM TRAVESTI DA ROÇA
DOI:
https://doi.org/10.34024/olhares.2025.v13.19021Palavras-chave:
Travesti da roça, Trajetória escolar, Sistemas de opressãoResumo
Quais obstáculos marcam as vivências educativas de uma jovem travesti da roça? Quais efeitos de sentido eles despertam em seu processo de humanização e subjetivação? Essas perguntas impulsionaram a realização de uma pesquisa que se deixou tocar pelas inspirações pós-críticas, as quais instigam a adoção de modos alternativos de fazer pesquisa, centrando-se nas relações de saber-poder presentes nas tramas curriculares e na adoção de procedimentos metodológicos mais livres, coerentes com objeto da investigação. Assim, cartas, áudios, registros fotográficos e mensagens de texto online escritas por Janaína Silva, uma jovem travesti da roça, se converteram em “escrevivências” que foram analisadas pela ótica foucaultiana e freireana. Dessa empreitada investigativa, destaca-se os seguintes resultados: “ser travesti” e “ser da roça”, vertentes da identidade da participante, foram produzidas em torno de um jogo de saberes e poderes que circulam na família, na ruralidade específica em que ela vive e em outras instâncias formativas. Na escola, a ausência de problematizações sobre as nuances da diferença e as situações de preconceito atuaram como obstáculos que a fez cogitar a possibilidade de desistir. Esse mesmo sistema de opressões, que gerou violências físicas e psicológicas, despertou rebeldias em Janaína Silva, “a guerreira”, que segue na luta por melhores condições de vida e alimenta a esperança na possibilidade de mudança através da educação.
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