Entre a resistência e a mercantilização: uma análise crítica do turismo em comunidades quilombolas no Brasil

Autores

  • Larissa Boing Universidade Federal de Santa Catarina

DOI:

https://doi.org/10.34024/rbecotur.2025.v18.19658

Palavras-chave:

Turismo de base comunitária, Quilombos, Acesso à direitos, Mercantilização da etnicidade, Reparação

Resumo

As atividades turísticas vêm se expandindo nas comunidades quilombolas brasileiras, levantando questões sobre seu papel como ferramenta para promover e fortalecer direitos, bem como fortalecer a comunidade e sua cultura. Este artigo visa fornecer uma análise crítica desse fenômeno, destacando estudos de caso brasileiros que ressaltam as principais questões em jogo. Os resultados sugerem que, embora o turismo possa oferecer benefícios, como geração de renda, melhoria da infraestrutura e conscientização cultural, também apresenta riscos significativos. Estes incluem a intensificação das desigualdades socioeconômicas, a exclusão social e o aumento dos conflitos territoriais, particularmente quando as iniciativas turísticas são lideradas por agentes externos sem a devida consideração pelas demandas locais, como saúde, saneamento e educação. Além disso, o turismo pode induzir processos de folclorização e mercantilização da etnia, ameaçando a autenticidade e as práticas tradicionais dessas comunidades.

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Publicado

01.05.2025

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

BOING, Larissa. Entre a resistência e a mercantilização: uma análise crítica do turismo em comunidades quilombolas no Brasil. Revista Brasileira de Ecoturismo (RBEcotur), [S. l.], v. 18, n. 3, p. 507–519, 2025. DOI: 10.34024/rbecotur.2025.v18.19658. Disponível em: https://periodicos.unifesp.br/index.php/ecoturismo/article/view/19658. Acesso em: 5 dez. 2025.
Recebido 2024-10-30
Aprovado 2025-03-18
Publicado 2025-05-01