A dialogicidade como prática educativa com implicações sociais significativas

Uma oficina com professores indígenas e sua demanda por um sistema de numeração

Resumo

Neste texto exploramos o conceito de dialogicidade, tomando uma oficina oferecida a professores indígenas em serviço como referência. Tal conceito vem sendo explorado há décadas na literatura acadêmica. Nos últimos anos, ganhou maior importância, na medida em que currículos oficiais em vários países passaram a enfatizar a importância de se desenvolver a educação mais centrada nas necessidades dos aprendizes. Embora as diretrizes gerais desses currículos estejam definidas, o exercício da dialogicidade em salas de aula passa pelo desafio de se equacionar as exigências formais dos diversos campos de saber com os interesses próprios dos estudantes. Assim, na maioria dos casos, os pesquisadores examinam os diálogos em sala de aula verificando em que medida os professores permitem aos alunos que se expressem sobre assuntos próprios do conhecimento escolar. Nesse sentido, ainda não são as questões existenciais dos alunos que prevalecem, uma vez que os resultados mais valorizados dos diálogos já estão definidos previamente. Tais resultados estarão relacionados ao domínio dos conteúdos escolares. Seria possível abordar o ensino formal de outras maneiras? Seria possível privilegiar questões colocadas pelos alunos? Esses são desafios presentes para educadores que se propõem a abordar o ensino em uma perspectiva socialmente centrada. A oficina descrita neste texto constitui um exemplo da dialogicidade exercida a partir de um questionamento existencial formulado pelos professores participantes. Tal questionamento estava relacionado com a criação de um sistema de numeração próprio para sua língua materna. Naquele contexto, pode-se inferir que houve um avanço no sentido de compreender a prática escolar como possibilidade de alargamento das percepções de mundo por meio da séria consideração das necessidades formuladas pelos aprendizes.