A Etnomatemática e a reforma curricular brasileira

Para além das gaiolas epistemológicas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.34024/prometeica.2023.27.15281

Palavras-chave:

etnomatemática, matemática e cultura, reforma curricular brasileira, base nacional comum curricular, transdisciplinaridade

Resumo

A Etnomatemática, segundo Ubiratan D’Ambrosio, constitui uma subárea da História da Matemática e da Educação Matemática politicamente engajada, voltada para transformação social e para a recuperação da dignidade cultural dos indivíduos. Entretanto, em um dos momentos mais críticos para o povo brasileiro, em plena crise sanitária e econômica da pandemia de Covid-19, por uma infeliz coincidência, atravessamos uma ampla reforma curricular impulsionada publicação da “Base Nacional Comum Curricular – BNCC”, em 2018, documento norteador dos currículos nacionais que ignorou a História da Matemática, bem como nossa grande tradição em pesquisa e ensino etnomatemáticos. Por outro lado, os documentos curriculares complementares publicados em 2019: “Referenciais Curriculares para a Elaboração de Itinerários Formativos” e “Temas Contemporâneos Transversais na BNCC: Contexto Histórico e Pressupostos Pedagógicos” colocaram os professores brasileiros diante de um vazio fértil, repleto de desafios e possibilidades. Discutir esse cenário educacional é o objetivo central deste artigo. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de cunho bibliográfico e documental, que se debruça sobre documentos curriculares brasileiros e pesquisas embasadas na Etnomatemática, para tentar responder à nossa questão de pesquisa “Quais os principais desafios e possibilidades para a promoção da Etnomatemática na Educação Básica brasileira, no contexto da atual reforma curricular, em uma perspectiva interdisciplinar e transdisciplinar?”. Nosso foco é a rede estadual de ensino de São Paulo, por se tratar da maior rede de ensino do Brasil e por ser uma das primeiras e elaborar um currículo pautado pela BNCC, além de um projeto próprio para a exploração dos temas curriculares transversais, implantação e implementação do Novo Ensino Médio. Nossos resultados mostram que, apesar do engessamento curricular promovido pela BNCC, ainda existe margem para desenvolvimento de propostas educacionais que contemplem as necessidades locais, que respeite as diferenças regionais e as peculiaridades da cultura escolar, em uma perspectiva etnomatemática.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Cassio Cristiano Giordano, Universidade Federal do Rio Grande

Pós-Doutorado em Educação em Ciências na Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
É formado em Psicologia pela Universidade Metodista - SP (1993). Possui Licenciatura em Ciências e Matemática pela Universidade Ibirapuera - SP (2000). Possui Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Metropolitana de Santos - SP (2021). Possui Especialização em Matemática no Ensino Médio, pela Pontifícia Universidade Católica - SP(2006), Especialização em Docência e Pesquisa no Ensino Superior, pela Universidade Metropolitana de Santos - SP (2009), Especialização em Novas Tecnologias no Ensino da Matemática, pela Universidade Federal Fluminense - RJ (2010), Especialização em Ensino da Matemática, pela Universidade Estadual de Campinas - SP (2013), Mestrado Acadêmico em Educação Matemática pela Pontifícia Universidade Católica - SP (2016) e Doutorado em Educação Matemática pela Pontifícia Universidade Católica - SP (2020). Atua como Professor de Educação Básica II - Secretaria de Estado da Educação do Governo do Estado de São Paulo (SEDUC-SP) desde 1993. Lecionou nas Faculdades Integradas de Guarulhos - SP, nos cursos de pós-graduação em Educação Matemática e em Psicopedagogia. Lecionou no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) como professor colaborador. Membro da Comissão Científica do GT12 - Educação Estatística. Membro da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). Membro da Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM). Membro da Red Latinoamericana de Investigación en Educación Estadística (RELIEE). Pesquisador Assistente do Grupo de Pesquisa de História da Educação Matemática (GHEMAT). Membro do Grupo GEDIM/STATISTIC, ligado ao Grupo Estudo da Didática da Matemática (GEDIM), da Universidade Federal do Pará (UFPA). Membro do Grupo Internacional Interdisciplinar de Pesquisa em Educação Estatística - GIIPEE, ligado à Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Vice-líder do Grupo de Pesquisa em Educação Estatística - EduEst. Membro do International Statistical Institute (ISI). Membro do International Association for Statistical Education (IASE). Membro do Corpo Editorial da Akademy Editora.

Dra. Olenêva Sanches Sousa, Universidade Anhanguera de São Paulo

Doutora em Educação Matemática (UNIAN), mestra em Educação (UFBA), especialista em Educação Matemática (UCSAL), licenciada em Pedagogia (UNEB) e técnica em Química ETFBA). Nascida e residente em Salvador, Bahia, é aposentada da Secretaria da Educação do Estado da Bahia. Exerce a função de coordenadora da Red Internacional de Etnomatemática no Brasil (RedINET-Brasil) e administra a Comunidade Virtual EtnoMatemaTicas Brasis. Tem especial interesse pelo Programa Etnomatemática, suas bases epistemológicas e estratégias de difusão de sua concepção na pesquisa e na Educação. Membra do Grupo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Etnomatemática (GIEPEm) da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afrobrasileira (Unilab). Reúne experiência em: Educação Infantil, Básica, Superior e Pós-Graduação; na Educação pública e privada; no ensino regular, Educação de Jovens e Adultos, projetos ONG; nas modalidades presencial, semipresencial e a distância. Atua nos temas Etnomatemática, Transdisciplinaridade, EAD, Gestão Escolar, Currículo, Pedagogia de Projetos e Formação de Professores.

Claus Haetinger, Universidade Federal do Rio Grande

EM BUSCA DE NOVOS DESAFIOS PROFISSIONAIS Claus Haetinger é Bacharel em Matemática (UFRGS, 1990), onde foi BIC/CNPq e Licenciado em Matemática (Centro Universitário Leonardo da Vinci, 2020). Possui Mestrado em Matemática Pura (UFRGS,1993), com Menção de Louvor, bolsista CAPES, e também cursou disciplinas do Mestrado em Matemática Aplicada. Doutor em Matemática Pura (UFRGS, 2000), com bolsas CAPES e CNPq, Concluiu nove especializações: Gestão Universitária (2013), MBA em Gestão de IES (2013) (módulo internacional na Finlândia), Gestão Estratégica de Pessoas (2015), Tecnologias e Ensino de Matemática (2021), Metodologia de Ensino de Matemática (2021), Metodologias para EaD (2021), Ciência de Dados (2022), Supervisão Escolar, Administração e Orientação (2022) e MBA em Gestão Comercial e Inteligência de Mercado (2022). Desde outubro de 2021 atua como Professor Visitante na FURG, no PPG em Educação em Ciências e no IMEF. De fev de 2020 a fev de 2021, atuou como Professor Visitante junto ao IFRS. Antes disso, foi Professor Titular da Universidade do Vale do Taquari - Univates, por 26 anos (1993-2019), nos cursos de graduação de dez Engenharias e Licenciaturas em Matemática e Ciências Exatas, no PPG em Ambiente e Desenvolvimento (M e D) como Docente, Orientador (2007-2019) e Coordenador (2006-2009). Também integrou o PPG Profissional em Ensino de Ciências Exatas (M e D) como docente Permanente e Pesquisador (2007-2013). Foi Coordenador de Pós-Graduação (2008-2009). Atuou como Pró-Reitor de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação (2009-2012) e como Coordenador Institucional do Programa Ciências sem Fronteiras da CAPES na Univates (2011-2012), e foi Coordenador do PIBIC/CNPq na Univates (2011-2012). Em 2012 exerceu função de Vice-Coordenador da Regional Sul do Diretório Nacional do Fórum de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (FOPROP), bem como Vice-Coordenador do FOPROP-RS. Em 2013 atuou como docente e pesquisador no PPG em Ensino (M). No ano de 2019, foi docente na Universidade LaSalle, nos cursos lato sensu em Gestão Empreendedora e Gestão de Pessoas e Liderança Coach. Na Unisc, foi professor de graduação entre 1993 e 1996, e no PPG em Sistemas e Processos Industriais, em 2016. Na UFRGS, atuou como professor substituto, entre 1994 e 1995. Em 2012, fez estágio de pesquisa com Wagner Cortes, no Departamento de Matemática. Possui experiência docente em escola, atuando no Colégio Evangélico Alberto Torres (CEAT), de Lajeado-RS (1993-2001), como docente no Ensino Médio e Coordenador da área da Matemática, bem como em escolas municipais de Fazenda Vilanova (2021) e em escola estadual (EM noturno), em Lajeado (2021). Além disso, desenvolve pesquisas com diversos colaboradores nacionais e internacionais. Tem experiência na área de Álgebra Não-Comutativa, com ênfase em Teoria de Aneis, pesquisando Derivações de Ordem Superior em Aneis Primos e Semiprimos. Também pesquisa nas áreas de Modelagem Matemática e Ambiental, aplicando-a em questões relacionadas ao meio ambiente, especialmente quando envolvem modelos hidrológicos, modelos ecológicos, ecologia numérica e dinâmica de paisagens, ou então na Robótica Aplicada ao Ensino de Matemática nos cursos de Engenharia. Paralelamente, dedica-se ao Uso de Tecnologias no Ensino de Matemática, bem como às Olimpíadas Matemáticas (foi Coordenador Regional da Olimpíada Brasileira de Matemática - OBM, de 2000 a 2019, e da Olimpíada Matemática da Univates, pelo mesmo período). Tem atuado como parecerista ad hoc para a CAPES, FUNADESP e diversos periódicos internacionais. É revisor para o Mathematical Reviews. Integrou o BASis/SINAES/INEP (até 2022). Participou em atividades de pesquisa em eventos na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Coréia do Sul, Finlândia, França, Índia, Marrocos, México, Suécia, Turquia, Uruguai, Portugal, mantendo ainda pesquisas com colaboradores da Arábia Saudita, China, Egito, China e Iraque.

Referências

Bandeira, F. (2012). Pedagogia etnomatemática: uma proposta para o ensino de matemática na educação básica. Revista Latinoamericana de Etnomatemática: Perspectivas Socioculturales de la Educación Matemática, 5(2), 21-46.

Brasil. (1997). Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Ensino Fundamental I.

Brasil. (1998). Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Ensino Fundamental II.

Brasil. (2002). Ministério da Educação. PCNs+ Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais.

Brasil. (2018). Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação.

Brasil. (2019a). Referenciais Curriculares para a Elaboração de Itinerários Formativos. Ministério da Educação.

Brasil. (2019b). Temas Contemporâneos Transversais na BNCC: Contexto Histórico e Pressupostos Pedagógicos. Ministério da Educação.

Cortes, D. P. O., Rosa, M. & Orey, D. C. (2017). Traduzindo Dialogicamente as Práticas Laborais de um Feirante por meio da Etnomodelagem. Boletim do LABEM, 8(14), 106-123.

Creswell, J. W. & Creswell, J. D. (2021). Projeto de pesquisa - Métodos qualitativo, quantitativo e misto. 5ª edição. Penso Editora.

D' Ambrosio, U. (1985). Ethnomathematics and its place in the history and pedagogy of mathematics. For the learning of Mathematics, 5(1), 44-48.

D’Ambrosio, U. (2001). Etnomatemática - elo entre as tradições e a modernidade. Editora Autêntica.

D’Ambrosio, U. (2004). Gaiolas epistemológicas: habitat da ciência moderna. In: Anais do II Congresso Brasileiro de Etnomatemática, pp. 136-140. Natal.

D’Ambrosio, U. (2005). Sociedade, cultura, matemática e seu ensino. Educação e pesquisa, 31, 99-120.

D’Ambrosio, U. (2007). Educação Matemática: da teoria à prática. Papirus Editora.

D’Ambrosio, U. (2016). Educação para uma sociedade em transição. LF Editora.

Mota, H. G., & Cavalari, M. F. (2022). Etnomatemática no ensino: um estudo nos trabalhos publicados em anais do Encontro Nacional de Educação Matemática. Research, Society and Development, 11(1), 1-18.

Passos, C. M. (2015). Etnomatemática em movimento: definindo caminhos a partir do movimento da etnomatemática. In: XIX Encontro Brasileiro de Estudantes de Pós-Graduação em Educação Matemática. Juiz de Fora: Anais do XIX EBRAPEM.

Rosa, M. (2010). A mixed-methods study to understand the perceptions of high-school leaders about ELL students: The case of mathematics. College of Education. Sacramento, CA: California State University, Sacramento.

São Paulo. (2019). Currículo Paulista: Ensino Fundamental. São Paulo: Secretaria da Educação do Estado de São Paulo – SEDUC/SP.

São Paulo. (2020). Currículo Paulista: Ensino Médio. São Paulo: Secretaria da Educação do Estado de São Paulo – SEDUC/SP.

São Paulo. (2022). Matrizes das Unidades Curriculares dos Aprofundamentos que compõem os Itinerários Formativos. São Paulo: SEDUC/SP.

Silva, M. R. D. S. (2021). Educação do campo, etnomatemática e BNCC: reflexos de uma formação continuada de professores na construção de orientações curriculares de matemática para os anos finais do Ensino Fundamental. 300 f. Dissertação de Mestrado em Educação Matemática. Ji-Paraná: Universidade Federal de Rondônia.

Publicado

2023-07-27

Como Citar

Giordano, C. C., Sousa, O. S. ., & Haetinger, C. . (2023). A Etnomatemática e a reforma curricular brasileira: Para além das gaiolas epistemológicas. Prometeica - Revista De Filosofia E Ciências, (27), 178–188. https://doi.org/10.34024/prometeica.2023.27.15281

Artigos Semelhantes

> >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.