Interpretação ambiental no Parque Estadual do Turvo: o programa 'Onde a onça bebe água?!' (RS)

Autores

  • Suzane Bevilacqua Marcuzzo Universidade Federal de Santa Maria
  • Carolina Cobra Barbieri Universidade Federal de Santa Maria
  • Fabíola Martins Imperatori Universidade Federal de Santa Maria

DOI:

https://doi.org/10.34024/1pwp4473

Palavras-chave:

Biodiversidade, interpretação, Uso Público, jogos da memória

Resumo

Este estudo avaliou o potencial de um jogo da memória digital como ferramenta de interpretação ambiental não-pessoal no Parque Estadual do Turvo (PET), localizado no bioma da Mata Atlântica no Rio Grande do Sul, Brasil. O objetivo foi analisar a efetividade do recurso digital na sensibilização dos visitantes e no fortalecimento do conhecimento sobre a biodiversidade local, com ênfase na onça-pintada como espécie emblemática. Com vistas a integrar essas múltiplas dimensões e potencializar a função educativa do uso público, foi estabelecida uma parceria entre a gestão do Parque Estadual do Turvo, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), por meio do Núcleo de Estudos em Áreas Protegidas (NEAP), e a Associação de Moradores do Entorno do Parque (ASACIRS). Essa articulação interinstitucional possibilitou a captação de recursos junto ao Edital da Fundação O Boticário, viabilizando a implementação de um programa de uso público com ênfase na interpretação da biodiversidade e na valorização da onça-pintada como ferramenta de sensibilização ambiental. Para o desenvolvimento do jogo, foram selecionadas 12 espécies de diferentes grupos taxonômicos, considerando sua relevância ecológica e status de ameaça. Os dados foram coletados durante oito meses, contabilizando 381 jogadores provenientes de 186 municípios de 16 estados brasileiros, com destaque para Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A análise considerou a origem geográfica dos participantes, seu desempenho cognitivo e as pontuações obtidas, sendo que apenas 8 jogadores atingiram a pontuação máxima, enquanto a maioria obteve percentuais de acerto entre 30% e 38%. Os resultados indicam que, apesar do engajamento dos visitantes, há limitações na familiaridade prévia com as espécies, o que pode ser atribuído à escassa presença destes conteúdos nos ambientes formais de aprendizagem e à baixa exposição pública sobre a fauna ameaçada da região. A discussão apontou o potencial dos jogos digitais como instrumentos contemporâneos de educação ambiental, capazes de favorecer o engajamento, a aprendizagem lúdica e a construção de conhecimentos significativos relacionados à conservação da biodiversidade e ao manejo de áreas protegidas. Conclui-se que o jogo da memória digital se apresenta como uma ferramenta promissora de interpretação ambiental, promovendo a sensibilização dos visitantes, a conexão com o território e o estímulo ao pensamento conservacionista. Recomenda-se o aperfeiçoamento e a ampliação de abordagens semelhantes em outras unidades de conservação, como estratégia inovadora e acessível para o fortalecimento das práticas de educação ambiental e interpretação da natureza.

Biografia do Autor

  • Suzane Bevilacqua Marcuzzo, Universidade Federal de Santa Maria

    Doutora em Engenharia Florestal, coordena o Núcleo de Estudos em Áreas Protegidas e Populações Tradicionais (NEAP), docente no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFSM, membro do grupo de pesquisas PANGEA.

  • Carolina Cobra Barbieri, Universidade Federal de Santa Maria

    Formada em Gestão Ambiental, atuou como bolsista do programa financiado pela Fundação O Boticário, "Onde a Onça bebe água?!"

  • Fabíola Martins Imperatori, Universidade Federal de Santa Maria

    Gestora Ambiental, pós-graduanda no Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural pela UFSM

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Publicado

18.10.2025

Edição

Seção

Anais do Congresso Nacional de Ecoturismo - Artigos Completos

Como Citar

MARCUZZO, Suzane Bevilacqua; BARBIERI, Carolina Cobra; IMPERATORI, Fabíola Martins. Interpretação ambiental no Parque Estadual do Turvo: o programa ’Onde a onça bebe água?!’ (RS). Revista Brasileira de Ecoturismo (RBEcotur), [S. l.], v. 18, n. 5, p. 263–282, 2025. DOI: 10.34024/1pwp4473. Disponível em: https://periodicos.unifesp.br/index.php/ecoturismo/article/view/21124. Acesso em: 5 dez. 2025.