Arranjos locais para o lazer de base comunitária: regiões litorâneas do Rio de Janeiro e do Paraná como laboratórios vivos de análise

Autores

  • Yasmin Xavier Guimarães Nasri Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ
  • Marta de Azevedo Irving Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ
  • Beatriz Leite Ferreira Cabral Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, e Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ
  • Marcelo Augusto Gurgel de Lima Universidade Estadual de Goiás, Goiana, GO
  • Renata Amorim Almeida Fonseca Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ

DOI:

https://doi.org/10.34024/rbecotur.2023.v16.15164

Palavras-chave:

Lazer de Base Comunitária, Arranjos Locais, Áreas Protegidas, Rio de Janeiro, Paraná

Resumo

A leitura de natureza que fundamenta a elaboração e implementação de políticas públicas na América Latina reflete, em grande medida, a visão de mundo ocidental de cisão entre humanos e não humanos, decorrente de um longo processo de colonização que, historicamente, vem regulamentando as práticas de conservação da biodiversidade, inclusive no Brasil. Nesse contexto, para se pensar em caminhos inclusivos, democráticos e colaborativos para a conservação da biodiversidade e dos valores culturais a ela associados, o presente artigo tem como objetivo analisar as potencialidades e os obstáculos para a construção de parcerias entre a gestão pública e as comunidades locais nas áreas protegidas, no sentido de fortalecimento do Lazer de Base Comunitária (LBC), nas Regiões Turísticas da Costa do Sol (RJ) e Litoral do Paraná (PR). A pesquisa qualitativa se baseou em levantamento bibliográfico e documental e observação direta nas regiões estudadas entre 2019 e 2022, complementadas por conversas informais com lideranças comunitárias e atores da gestão pública regional, registradas em caderno de campo. A análise dos resultados obtidos foi efetivada por meio da construção de uma matriz-síntese sobre os arranjos associados às iniciativas comunitárias de lazer nessas regiões. A imersão no material obtido permitiu identificar que os principais arranjos locais para o LBC estão direcionados à visitação ao patrimônio natural e cultural; à organização de festividades culturais e sacras; à produção gastronômica e de artesanatos; e a promoção de práticas desportivas e de aventura. Os desafios para a incorporação dessas ações à gestão das UCs envolvem a decodificação das diferentes visões de mundo e os significados de natureza e cultura, além da necessidade de reconhecimento dos processos históricos de organização comunitária nas regiões estudadas. As potencialidades envolvem a construção de parcerias locais vinculadas ao fortalecimento dos laços entre os diferentes atores sociais e ao reconhecimento das iniciativas já existentes no território, sem que sejam silenciados os conflitos sociais, as disputas de poder, e os modos locais de organização do trabalho e do tempo.

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Publicado

11.06.2023

Como Citar

Nasri, Y. X. G., Irving, M. de A., Cabral, B. L. F., Lima , M. A. G. de, & Fonseca, R. A. A. (2023). Arranjos locais para o lazer de base comunitária: regiões litorâneas do Rio de Janeiro e do Paraná como laboratórios vivos de análise. Revista Brasileira De Ecoturismo (RBEcotur), 16(3). https://doi.org/10.34024/rbecotur.2023.v16.15164
Recebido: 2023-06-01
Aceito: 2023-06-04
Publicado: 2023-06-11

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