Interpretação ambiental e participação comunitária: o caso do plano interpretativo do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos

Autores

  • Gustavo Uchoa de Mello-Affonso Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN
  • Daniel Durante Pereira Alves Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN
  • Alessandra Buonavoglia Costa-Pinto Universidade Federal do Sul da Bahia, Porto Seguro, BA

DOI:

https://doi.org/10.34024/rbecotur.2023.v16.14348

Palavras-chave:

Plano Interpretativo; Unidades de Conservação; Processo Participativo; Educação Ambiental crítica; Sociedades Sustentáveis.

Resumo

Esta pesquisa é um estudo de caso, cujo objetivo é realizar um diagnóstico qualitativo do caráter participativo do processo de elaboração do Plano Interpretativo (PI) do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, Brasil, o qual foi elaborado entre os anos de 2017 e 2018. Para tanto, foram utilizadas três fontes de evidência: documentação, observação assistemática, e entrevistas semiestruturadas, realizadas no mês de abril de 2022. Dentre os entrevistados, estão servidores do ICMBIO que coordenaram o processo e colaboradores locais representantes das treze instituições participantes da elaboração do PI. A perspectiva teórica escolhida para análise dos dados coletados foi a educação ambiental (EA) crítica, que forneceu a chave avaliativa aqui utilizada: quanto mais uma prática reflete os princípios da EA crítica, mais ela será capaz de transformar valores sociais e de enfrentar os problemas planetários da atualidade. Os resultados mostram que a atividade de interpretação ambiental (IA) tem ganhado destaque dentro do ICMBIO na medida em que há aumento da visitação em Unidades de Conservação (UCs) e há preocupação com os impactos ambientais gerados pelos turistas. Ademais, foi constatado que a gestão da UC em questão tem grande mérito na elaboração deste PI, pois criou a oportunidade e estimulou o engajamento dos participantes no processo. Além disso, foi unanimidade nos relatos que todos os participantes se sentiram ouvidos, com liberdade e espaço para se colocarem nas oficinas. Contudo, notou-se que faltou uma melhor compreensão dos participantes das oficinas de elaboração do PI sobre a IA. Também consensual foi a percepção de que dois dias para as oficinas foi pouco, e que se faria necessário o envolvimento de mais pessoas da comunidade local no processo. Constatou-se também falha no pouco retorno sobre os resultados oferecidos aos colaboradores locais. A equipe do ICMBIO que coordenou as oficinas utilizou uma metodologia direcionada ao envolvimento emocional, focada em “provocações”; ela foi, por isso, bem avaliada pelos participantes. Todavia, constatou-se que a sensibilização obtida como resultado do processo foi pontual e efêmera. Nosso principal diagnóstico é que, ao não vincular o PI a um caráter educativo mais profundo, conforme os princípios da EA crítica, perdeu-se a oportunidade de estimular os participantes a questionar mais direta e profundamente certos valores e princípios da sociedade. Isso de modo a contribuir para a um maior esclarecimento e engajamento dos sujeitos em transformações estruturais exigidas pela busca de soluções para problemas ambientais atuais, na perspectiva da transição para sociedades sustentáveis.

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Biografia do Autor

Gustavo Uchoa de Mello-Affonso, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN

Possui graduação em Geografia e Meio Ambiente pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2011) e pós-graduação em Gestão Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em parceria com o Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente - PNUMA (2015). Cursa atualmente Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA).

Daniel Durante Pereira Alves, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN

Doutorado em Lógica e Filosofia da Ciência pela Universidade Estadual de Campinas, Brasil(1999)
Professor Associado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte , Brasil

Alessandra Buonavoglia Costa-Pinto, Universidade Federal do Sul da Bahia, Porto Seguro, BA

Professora da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). É doutora em Ciências Ambientais, com ênfase em Educação Ambiental pelo PROCAM/USP e doutora em Filosofia da Natureza e do Ambiente pela Universidade de Lisboa (UL)/Portugal. 

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Publicado

09.02.2023

Como Citar

Mello-Affonso, G. U. de, Alves, D. D. P., & Costa-Pinto, A. B. (2023). Interpretação ambiental e participação comunitária: o caso do plano interpretativo do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. Revista Brasileira De Ecoturismo (RBEcotur), 16(1). https://doi.org/10.34024/rbecotur.2023.v16.14348
Recebido: 2022-09-17
Aceito: 2022-11-05
Publicado: 2023-02-09