Heroínas valentes e companheiras defuntas

mulheres e crimes nas crônicas semanais de Carmen Dolores (O Paiz, Rio de Janeiro, 1905)

Autores

  • Amanda Ribeiro Mafra Lima IFMG

DOI:

https://doi.org/10.1590/2236-463339ed20340

Palavras-chave:

crime, mulheres, imprensa carioca, Carmen Dolores

Resumo

De 1905 a 1910, Emília Moncorvo Bandeira de Mello, sob o pseudônimo Carmen Dolores, conduziu a seção “A Semana” do jornal carioca O Paiz. Comentando o noticiário dos dias anteriores, Dolores tomava como tema privilegiado os acontecimentos com “cheiro de sangue e de morte”. Suas crônicas inscreviam-se em uma conjuntura transnacional em que o crime se tornava objeto de consumo midiático, ganhando espaço de destaque nas páginas impressas. Tomando as representações sociais presentes nas crônicas em sua relação dialógica com a realidade social e o caráter generificado da atuação jornalística, este artigo analisa duas produções de Dolores que tratam sobre a relação entre mulheres e crimes. Por meio da análise intertextual dos documentos, identificaram-se os diálogos estabelecidos entre as crônicas de Dolores, outros discursos sobre o crime e os valores hegemônicos e contra hegemônicos do período sobre as relações de gênero. Os resultados evidenciam que a cronista defendia as instituições e valores tradicionais, como a família, o casamento e o pudor, mas a partir de uma perspectiva própria, desnudando as múltiplas violências que incidiam sobre as mulheres e defendendo um lugar mais equânime a estas na sociedade carioca.

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Referências

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Publicado

2025-11-18

Edição

Seção

Dossiê Escândalos, mentiras e crimes: o lugar da comoção na imprensa periódica

Como Citar

Heroínas valentes e companheiras defuntas: mulheres e crimes nas crônicas semanais de Carmen Dolores (O Paiz, Rio de Janeiro, 1905). (2025). Almanack, 39. https://doi.org/10.1590/2236-463339ed20340