Medo dos mortos e dos vivos
imprensa, raça e sensacionalismo em faits divers de prodígios (no Brasil), século XIX-XX
DOI:
https://doi.org/10.1590/2236-463339ed20337Palavras-chave:
História da imprensa, João do Rio (Paulo Barreto), Espiritismo, Curanderismo, Cultura popularResumo
Este artigo tratará de faits divers, novo gênero do jornalismo surgido no alvor da modernização da imprensa, especialmente
daqueles que retomavam a matriz dos prodígios, eventos sobrenaturais que foram reelaborados no contexto da discussão
sobre o curandeirismo e da expansão do espiritismo kardecista, e que ganhou crescente abordagem racista na sociedade
brasileira da passagem do século XIX para o XX. As histórias de fantasmas e casos fantásticos encontravam respaldo em uma
remota tradição e eram apresentadas como eventos reais e plausíveis pelo noticiário de escândalos. A metodologia consistiu
na escolha de alguns exemplos extraídos de séries formadas por crônicas de mesmo tema que, analisadas ao longo do tempo,
revelam aspectos estruturais e históricos. A abordagem teórica é largamente tributária da nova história da cultural, especialmente
das propostas de Michelle Perrot e Marc Ferro para a análise dos faits divers.
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