Sensacionalismo, crítica política e assassinato de reputação: a imprensa portuguesa perante o governo de João Franco e a monarquia de D. Carlos (1906-1908)

Autores

  • José Sardica Universidade Católica Portuguesa

DOI:

https://doi.org/10.1590/2236-463339ed19871

Palavras-chave:

João Franco , Portugal, D. Carlos I, Imprensa, opinião pública , sensacionalismo

Resumo

O objetivo deste texto é o de recontar e analisar a conjuntura particularmente dramática da relação entre o poder e a imprensa no tempo do governo do conselheiro regenerador-liberal João Franco (1906-1908), uma aposta pessoal do rei D. Carlos I no quadro da política portuguesa do início do século XX. A lógica partidária desse executivo, a sua pretendida obra reformista, a forma como rompeu com a elite monárquica tradicional e como afrontou a oposição dos republicanos levaram a imprensa de vários quadrantes ao paroxismo da linguagem acusatória contra o rei e o seu conselheiro. Perante uma opinião pública muito mais fragmentada do que em tempos anteriores, porque mais republicanizada, o rei D. Carlos I e os líderes partidários dos seus governos foram sujeitos a um inusitado escrutínio público, onde a linguagem e a imagem (títulos e textos jornalísticos, caricaturas e fotografias) atuaram para criar uma atmosfera acusatória emocional, de sensacionalismo, crítica política e assassinato de reputação, influindo nos acontecimentos e na visão percecionada do monarca e dos governantes, e obrigando estes ao dilema de procurarem captar a simpatia pública, em busca da popularidade, ou a defesa reputacional, em nome da autoridade.

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Publicado

2025-11-18

Edição

Seção

Dossiê Escândalos, mentiras e crimes: o lugar da comoção na imprensa periódica

Como Citar

Sensacionalismo, crítica política e assassinato de reputação: a imprensa portuguesa perante o governo de João Franco e a monarquia de D. Carlos (1906-1908). (2025). Almanack, 39. https://doi.org/10.1590/2236-463339ed19871