O Rio Grande do Sul e a eclosão da Guerra da Tríplice Aliança (1860-1864)
DOI:
https://doi.org/10.1590/2236-463339ea19495Palavras-chave:
Região do Prata, Guerra da Tríplice Aliança, Rio Grande do Sul, Espaço ProvincialResumo
O artigo propõe uma investigação da formação da política externa brasileira para a região do Prata durante o período anterior à Guerra da Tríplice Aliança (1860-1864), com foco no papel desempenhado pelo espaço provincial riograndense nesse contexto. A literatura especializada no conflito sugere que a pressão e os interesses provenientes do sul do Império tiveram influência decisiva na decisão imperial de intervir militarmente na República Oriental em 1864, desencadeando uma guerra regional. Entre os fatores destacados estão as queixas de proprietários e estancieiros brasileiros, muitos dos quais estabelecidos no Uruguai, sobre violências, ataques à propriedade e roubo de gado, além de perseguições promovidas pelo governo Blanco então no poder. No entanto, essa dimensão tem sido tratada de forma abstrata e superficial na literatura, baseando-se principalmente em debates parlamentares imperiais e discursos de representantes da província do Rio Grande do Sul. O objetivo do artigo é, portanto, aprofundar a compreensão dessa questão, examinando as temáticas e estratégias utilizadas para pressionar o governo central. A pesquisa recorreu a diversas fontes do governo imperial e provincial, incluindo correspondências entre autoridades rio-grandenses e o ministro dos Negócios Estrangeiros, assim como documentos das legações na região do Prata. A análise dessas fontes permitiu investigar como esses mecanismos de pressão foram empregados e recebidos, contribuindo para uma melhor compreensão das causas da guerra.
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