Cultura literária iluminista na obra Os escravos de Castro Alves
a narrativa humanitária como estratégia de combate
DOI:
https://doi.org/10.1590/2236-463339ea16515Palavras-chave:
Castro Alves, Iluminismo, escravidão, narrativa humanitáriaResumo
A narrativa humanitária, gerada durante o Iluminismo, é uma técnica literária caracterizada pela descrição, de forma dramática, do sofrimento humano para despertar compaixão nos leitores e incentivá-los a se solidarizarem com as pessoas que dele padecem. Ao utilizá-la, os escritores identificados com ideais iluministas buscavam conquistar o apoio do seu público para combater os males que degradavam a condição humana. Com base nessa premissa, o objetivo deste artigo é mostrar: 1) que tal técnica literária é um dos elementos constitutivos da obra Os escravos (1883), de Castro Alves; 2) que, por isso, tal obra pode ser também interpretada como uma produção intelectual tributária do discurso sentimental da filosofia moral iluminista, sobretudo dos seus valores filantrópicos derivados do conceito de humanidade; 3) que, ao expressar esses valores, tal autor aborda a história da escravidão de maneira dispersa na referida obra, de modo que, quando os poemas são reagrupados, eles compõem uma “narrativa” histórica versificada.
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