Chamada de textos para dossiê temático

2025-09-17

Proponentes:

Daniel Rojas, Universidade Grenoble Alpes, ILCEA4, EA7365.
Gabriel Passetti, Universidad Federal Fluminense, Estudos Estratégicos da Defesa e Segurança.

Bicentenário do estabelecimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a
Colômbia: atores, temas e cenários no longo século XIX

A comemoração, em 2027, do bicentenário do estabelecimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a Colômbia oferece uma oportunidade privilegiada para refletir sobre os vínculos que uniram ambos os países ao longo de dois séculos de história compartilhada.

 

Se a historiografia internacional da América Latina enfatizou o estudo da inserção do Brasil no sistema internacional por meio de seus vínculos com a Inglaterra, com as potências europeias continentais ou com os Estados Unidos, a análise de suas relações com outros países sul-americanos permite enriquecer significativamente a compreensão de sua política externa. Ao privilegiar os vínculos com as grandes potências do século XIX, muitos estudos relegaram as dinâmicas regionais a um segundo plano, apesar de seu papel essencial na consolidação da presença internacional do Brasil imperial e na definição de seus interesses estratégicos em escala continental. Acordos bilaterais, missões diplomáticas, disputas fronteiriças, alianças militares e intercâmbios comerciais com os vizinhos sul-americanos foram igualmente centrais para a construção de uma diplomacia ativa e autônoma no contexto pós-independência.

Na Colômbia, as pesquisas concentraram-se tradicionalmente nos vínculos com os Estados Unidos e algumas potências europeias, assim como com a Venezuela, o Panamá e as repúblicas andinas — em especial o Equador e o Peru. A história da Amazônia permaneceu durante muito tempo como um campo inexplorado, que apenas recentemente começou a se abrir a investigações mais sistemáticas. As relações com o Brasil imperial, embora constantes e marcadas por episódios significativos, foram frequentemente relegadas a segundo plano, em parte devido à escassez de estudos comparativos e ao predomínio de uma narrativa histórica nacional ou de uma historiografia centrada no espaço atlântico. No entanto, ao reconstituir os intercâmbios políticos, diplomáticos, comerciais e culturais entre o Brasil e a Colômbia ao longo do século XIX, é possível evidenciar a existência de uma densa rede de interações que ultrapassava as fronteiras formais e influenciava tanto as trajetórias nacionais quanto as configurações regionais do sistema internacional sul-americano.

As temáticas a serem exploradas en este dossiê são variadas: as negociações para delimitar uma fronteira amazônica incerta; as disputas e os acordos em torno da livre navegação do Amazonas; a circulação de pessoas e ideias; o estabelecimento de redes consulares; a percepção recíproca entre ambos os países na opinião pública; a circulação e o intercâmbio de objetos destinados a coleções de história natural; as tensões próprias do sistema internacional em formação; a participação de colombianos/neogranadinos e brasileiros em reuniões e eventos internacionais; o impacto da escravidão nas relações entre os países sul-americanos; bem como os modos como os dois países se inseriram nas transformações do direito internacional público ao longo do século XIX — particularmente no que diz respeito ao reconhecimento de soberanias, às normas de neutralidade, à mediação de conflitos e à codificação de tratados bilaterais e multilaterais. 

 

Também merecem destaque os processos de institucionalização e profissionalização das respectivas diplomacias, marcados pelo surgimento de carreiras diplomáticas permanentes, pela fundação de escolas ou cursos de formação de diplomatas e pela circulação de modelos jurídicos e doutrinários europeus adaptados aos contextos latino-americanos. A análise dos perfis, trajetórias e práticas dos agentes diplomáticos — tanto oficiais quanto informais — abre um campo promissor para compreender as redes pessoais, familiares e intelectuais que sustentaram os vínculos bilaterais. Esses elementos, entre outros, permitem vislumbrar a complexidade e a densidade das relações colombo-brasileiras em um século XIX que foi tudo menos periférico nas grandes transformações do sistema internacional moderno.

 

 O objetivo deste dossiê é reunir trabalhos originais que explorem, a partir de uma perspectiva histórica, os atores, as temáticas e os cenários que estruturaram as relações colombo-brasileiras durante o longo século XIX. Serão privilegiadas abordagens da história política, diplomática, econômica e transnacional, sem excluir contribuições da história social e cultural que dialoguem com as questões internacionais propostas. O uso rigoroso de fontes primárias será um critério essencial para a seleção dos artigos. 

 

O dossiê será articulado em torno de três eixos principais: 

 

Os atores da relação bilateral, entre os quais se encontram diplomatas, comerciantes, militares, missionários, viajantes, populações indígenas e outros intermediários que participaram da construção dos vínculos entre os dois países. 

 

As temáticas que marcaram essa interação, tais como a delimitação de fronteiras, a navegação fluvial, a escravidão, os tratados comerciais, a circulação de pessoas e ideias, ou as estratégias de equilíbrio regional. 

 

Os cenários nos quais essas relações se desenvolveram: desde as capitais imperiais e republicanas até as zonas fronteiriças amazônicas, os portos atlânticos e fluviais, as conferências diplomáticas sul-americanas, hemisféricas ou mundiais, assim como espaços de trânsito e intercâmbio de informações, como o istmo do Panamá, as rotas missionárias e os círculos de sociabilidade diplomática em diferentes pontos do globo.

Proposta de entrega dos artigos na revista: 1º. maio de 2026.

Entrega dos artigos no sistema da revista: https://periodicos.unifesp.br/index.php/alm/about/submissions