“Violência” de Alejandro Obregón

Uma reconfiguração do sensível do período de violência na Colômbia

Resumo

Este artigo apresenta uma série de reflexões sobre a pintura «Violência», de Alejandro Obregón, e os modos como ela dá parte aos sem-parte deixados pelo período de La Violencia na Colômbia, que entre 1946 e 1964 ceifou a vida de 200.000 pessoas, das quais se estima que 11.363 eram mulheres. Para tanto, toma-se como marco analítico a filosofia desenvolvida por Jacques Rancière, que alguns autores denominam de filosofia da emancipação, através da qual se pode fazer uma leitura das formas de distribuição do sensível existentes em torno do período de violência bipartidária vivido pelo país, que também é considerado o precedente para a compreensão das formas posteriores de violência que se desenvolveram no território nacional. Assim, infere-se que a pintura de Obregón configura um dispositivo sensível que nos permite reconhecer as narrativas policiais dos anos de La Violencia e dá lugar a uma distribuição política que torna visível e audível as mulheres que morreram nesses anos, cujo luto adiado é preservado na obra para interpelar o espetador e desnudar outros mundos possíveis.