Neurofeminismo como guerrilha epistemológica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.34024/prometeica.2025.32.19515

Palavras-chave:

diferenças sexuais, neurofeminismo, epistemologia feminista, vigilância do conhecimento, guerrilha epistemológica

Resumo

No sistema científico, persiste a crença de que a diferença sexual é uma qualidade essencial, ou seja, uma essência natural. Este postulado sustenta que o cérebro é atualmente o órgão mais adequado para investigar essa essência. O avanço da neurociência, juntamente com o desenvolvimento das tecnologias de neuroimagem e o investimento significativo na investigação do cérebro desde o final do século XX, gerou grandes expetativas na comunidade científica e no público em geral relativamente às perspectivas da investigação neurocientífica. Isso pode, por vezes, impedir o apropriado avanço e consolidação do conhecimento. Uma infinidade de grupos científicos, laboratórios, universidades, centros de investigação, empresas privadas, grandes grupos editoriais e plataformas editoriais estão envolvidos numa corrida para decifrar o grande enigma do cérebro humano. A diferença sexual é um dos prémios mais cobiçados nesta busca. Vários membros da comunidade científica, de diversas disciplinas e perspetivas, alertaram para estes perigos potenciais. Neste artigo, defendo uma epistemologia crítica que promova um diálogo vigilante e contínuo contra o essencialismo da diferença sexual. A isto chamo "guerra de guerrilha epistemológica". Neste artigo, apresento o exemplo do que se tem chamado "neurofeminismo" como guerrilha epistemológica. O objetivo deste trabalho é problematizar criticamente um conjunto de pesquisas científicas no campo das neurociências através deste exemplo.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

  • Sonia Reverter Bañón, Universitat Jaume I

    Professora de Filosofia e Diretora do Instituto Universitário de Estudos Feministas e de Gênero Purificación Escribano (Universitat Jaume I). Membro da EUFEM (Plataforma Universitária de Estudos Feministas e de Gênero). Amplo currículo docente no ensino da perspectiva de gênero (bacharelado, mestrado e doutorado). Foi coordenadora do mestrado “Pesquisa Aplicada em Estudos Feministas, de Gênero e Cidadania”, do qual continua sendo professora. Linhas prioritárias de pesquisa: teoria feminista, ciberfeminismo, neurofeminismo, teoria política feminista, feminismo interseccional, despatriarcalização epistemológica, os desafios do capitaloceno. Ela publicou e editou artigos e livros e participou amplamente de conferências, seminários e congressos, tanto em nível nacional quanto internacional. Algumas das universidades para as quais foi convidada: Berkeley (EUA), Universidad Autónoma del Estado de México, Peace and Conflict Research Institute (Dinamarca), University of San Francisco (EUA), Gender Institute of the London School of Economics (Reino Unido), Centre for Civil Society of the London School of Economics (Reino Unido), Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia ANPOF (Brasil), Centro de Investigaciones Filosóficas (Buenos Aires), Instituto Interdisciplinario de Estudios de Género (Universidad de Buenos Aires), FLACSO (Cátedra Regional UNESCO Mujer, Ciencia y Tecnología).
    Suas publicações mais recentes incluem: Epistemologies of violence against women. A proposal from the South (2022), Feminismo sin testamento (2022), La diferencia sexual en el cerebro (2022), Experiencias docentes de la introducción de la perspectiva de género (2022), Can Posthumanism be postsexist? (2023), Feminismo con todas (2023), El ciberfeminismo y los retos frente al capitalismo digital (2024).

    e against women. A proposal from the South (2022), Feminismo sin testamento (2022), La diferencia sexual en el cerebro (2022), Experiencias docentes de la introducción de la perspectiva de género (2022), Can Posthumanism be postsexist? (2023), Feminismo con todas (2023), El ciberfeminismo y los retos frente al capitalismo digital (2024).

Referências

Baum, B. & Coen, E. (2019). Evolution or revolution? Changing the way science is published and communicated. PLoS Biol, 17(6), 1-5. Available at https://doi.org/10.1371/journal.pbio.3000272

Bluhm, R. (2011). New research, old problems: Methodological and ethical issues in fMRI research examining sex/Gender differences in emotion processing. Neuroethics, 6(2), 319-330. Available at https://doi.10.1007/s12152-011-9143-3

Bluhm, R. (2013). Self‐Fulfilling Prophecies: The Influence of Gender Stereotypes on Functional Neuroimaging Research on Emotion. Hypatia, 28(4), 870-886. Available at https://doi.org/10.1111/j.1527-2001.2012.01311.x

Brizendine, L. (2006). The Female Brain. New York, USA: Broadway Books, Random House.

Brizendine, L. (2010). The Male Brain. New York, USA: Broadway Books, Random House.

Churchland, P. S. (1986). Neurophilosophy: toward a unified science of the mind-brain. Cambridge, USA: MIT Press. Bradford Books.

Eliot, L. (2011). The trouble with sex differences. Neuron, 72(6): 895-898. Available at https://doi.10.1016/j.neuron.2011.12.001

Eliot, L. (2021). You don’t have a male or female brain – the more brains scientists study, the weaker the evidence for sex differences. The Conversation. (22 April 2021). Available at https://theconversation.com/you-dont-have-a-male-or-female-brain-the-more-brains-scientists-study-the-weaker-the-evidence-for-sex-differences-158005

European Commission, Directorate-General for Research and Innovation. (2021). She figures 2021. Gender in research and innovation. Statistics and indicators. Publications Office, 2021. Available at https://data.europa.eu/doi/10.2777/06090

Fausto-Sterling, A. (1986). Myths of Gender. Biological Theories about Women and Men. New York, USA: Basic Books.

Fausto-Sterling, A. (2019). Gender/Sex, Sexual Orientation, and Identity Are in the Body: How Did They Get There? Annual Review of Sex Research, Special Issue, 56(4-5), 529-555. Available at https://doi.10.1080/00224499.2019.1581883Fine, C. (2008). Will working mothers' brains explode? The popular new genre of neurosexism. Neuroethics, 1(1), 69-72. Available at https://link.springer.com/article/10.1007/s12152-007-9004-2

Fine, C. (2010). Delusions of Gender: How Our Minds, Society, and Neurosexism Create Difference. New York, USA: W. W. Norton.

Fine, C., Jordan-Young, R., Kaiser, A. & Rippon, G. (2013). Plasticity, plasticity, plasticity and the rigid problem of sex. Trends in Cognitive Sciences, 17(11), 550–551. Available at https://doi.10.1016/j.tics.2013.08.010

García Dauder, S. & Pérez Sedeño, E. (2017). Las ‘mentiras’ científicas sobre las mujeres. Madrid, España: Los libros de la Catarata.

Gray, J. (1992). Men Are from Mars, Women Are from Venus. Harper Collins Publishers

Helmer, M., Schottdorf, M., Neef, A. & Battaglia, D. (2017). Gender bias in scholarly peer review. Elife, 2017(6), 1-18. Available at https://doi.10.7554/eLife.21718

Hyde, J. S. (2005). The Gender Similarities Hypothesis. American Psychologist, 60(6), 581–592. Available at https://doi.10.1037/0003-066X.60.6.581

Hyde, J. S. (2006). Gender Similarities Still Rule. American Psychologist, 61(6), 641-642. Available at: https://doi.org/10.1037/0003-066X.61.6.641b

Hyde, J. S. (2007). New Directions in the Study of Gender Similarities and Differences. Current Directions in Psychological Science, 16(5), 259-263. Available at https://doi.org/10.1111/j.1467-8721.2007.00516.x

Joel, D. & Vikhanski, L. (2019). Mosaic brain: beyond the myth of the male and female brain. New York, USA: Hachette Book Group.

Jordan-Young, R. M. (2010). Brain Storm: The Flaws in the Science of Sex Differences. Cambridge, USA: Harvard University Press.

Kaiser, A. (2012). Re-Conceptualizing ‘‘Sex’’ and ‘‘Gender’’ in the Human Brain. Zeitschrift fur Psychologie, 220(2), 130–136. Available at https://doi.org/10.1027/2151-2604/a000104

Laqueur, T. (1990). Making Sex: Body and Gender From the Greeks to Freud. Harvard University Press. Liberman, M. (2006). Language Log. Personal professor’s Blog. http://itre.cis.upenn.edu/~myl/languagelog/archives/003419.html

Littlefield, M. & Johnson, J. eds. (2012). Neuroscientific Turn: Transdisciplinarity in the Age of the Brain. Ann Arbor. The University of Michigan Press.

Maney, D. (2016). Perils and pitfalls of reporting sex differences. Philosophical Transactions B. The Royal Society Publishing, 371(1688), 2016 371 20150119. Available at https://doi.10.1098/rstb.2015.0119

Rakic, P. (2002). Neurogenesis in adult primate neocortex: an evaluation of the evidence. Nature Reviews Neuroscience, 3(1), 65–71. Available at https://doi.10.1038/nrn700

Rippon, G. (2019). The Gendered Brain: The New Neuroscience that Shatters the Myth of the Female Brain. London, UK: Bodley Head.

Rippon, G., Jordan-Young, R., Kaiser, A. & Fine, C. (2014). Recommendations for sex/gender neuroimaging research: key principles and implications for research design, analysis, and interpretation. Frontiers in Human Neurosciences, 8(650), 1-13. Available at https://doi.10.3389/fnhum.2014.00650

Rippon, G., Jordan-Young, R., Kaiser, A., Joel, D. & Fine, C. (2017). Journal of neuroscience research policy on addressing sex as a biological variable: Comments, clarifications, and elaborations. Journal of Neuroscience Research, 95(7), 1357-1359. Available at https://doi.org/10.1002/jnr.24045

Rose, N. (2006). The Politics of Life Itself: Biomedicine, Power, and Subjectivity in the Twenty-First Century. Princeton, USA: Princeton University Press.

Rose, N. & Abi-Rached, J. M. (2013). Neuro: The New Brain Sciences and the Management of the Mind. Princeton, USA: Princeton University Press.

Roy, D. (2018). Molecular Feminisms. Biology, Becomings, and Life in the Lab. University of Washington Press

Schmitz, S. (2012). The neurotechnological cerebral subject: Persistence of implicit and explicit gender norms in a network of change. Neuroethics, 5(3), 261-274. Available at https://doi.10.1007/s12152-011-9129-1

Schulman, R. G. (2013). Brain Imaging: What it Can (and Cannot Tell us About Consciousness. New York, USA: Oxford University Press.

Squazzoni, F., Bravo, G., Grimaldo, F., García-Costa, D., Farjam, M. & Mehmani, B. (2021). Gender gap in journal submissions and peer review during the first wave of the COVID-19 pandemic. A study on 2329 Elsevier journals. PLoS ONE, 16(10), 1-17. Available at https://doi.10.1371/journal.pone.0257919

Vidal, C. (2011). The Sexed Brain: Between Science and Ideology. Neuroethics, 5(3), 295-303. Available at https://doi.10.1007/s12152-011-9121-9

Vohland, K., Weißpflug, M. & Pettibone, L. (2019). Citizen Science and the Neoliberal Transformation of Science – an Ambivalent Relationship. Citizen Science: Theory and Practice, 4(1), 1-9. Available at https://doi.org/10.5334/cstp.186

Prometeica v.32

Downloads

Publicado

2025-03-01

Edição

v. 32 (2025): Prometeica - v 32 (03/2025 - 12/2025)

Seção

Artigos

Licença

Copyright (c) 2025 Sonia Reverter Bañón

Creative Commons License

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.

Direitos Autorais: Prometeica permite que o (s) autor (es) mantenha seus direitos autorais sem restrições. Prometeica permite que o (s) autor (es) conservem seus direitos de publicação sem restrições. Os autores devem garantir que o artigo é um trabalho original sem fabricação, fraude ou plágio; não infringe nenhum direito autoral ou direito de propriedade de terceiros. Os autores também devem garantir que cada um atendeu aos requisitos de autoria conforme recomendação do ICMJE e entendem que, se o artigo ou parte dele for falho ou fraudulento, cada autor compartilha a responsabilidade.

Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional (CC BY-NC 4.0)

Prometeica - Revista de Filosofía e Ciências é regida pela licença CC-By-NC

Você tem o direito de:

  • Adaptar — remixar, transformar, e criar a partir do material

 

O licenciante não pode revogar estes direitos desde que você respeite os termos da licença.

 

De acordo com os termos seguintes:

  • Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de maneira alguma que sugira ao licenciante a apoiar você ou o seu uso.

  • Não Comercial — Você não pode usar o material para fins comerciais.

 

Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.

 

Manutenção de direitos

Prometeica permite que o (s) autor (es) mantenha seus direitos autorais sem restrições.

Prometeica permite que o (s) autor (es) conservem seus direitos de publicação sem restrições.

 

Como Citar

Reverter Bañón, S. (2025). Neurofeminismo como guerrilha epistemológica. Prometeica - Revista De Filosofia E Ciências, 32, e19515 (1-11). https://doi.org/10.34024/prometeica.2025.32.19515
Recebido 2024-09-18
Aprovado 2024-12-15
Publicado 2025-03-01