Chamada para Dossiê A Invenção da Antiguidade

2023-09-25

Organização de Cristiane Maria Rebello Nascimento e Bianca Fanelli Morganti

 

 No século XIV, vemos surgir a ideia da antiguidade como modelo a partir do qual será forjada a modernidade. Petrarca, Leonardo Bruni, Coluccio Salutati, entre outros, dedicaram-se aos estudos das antigas disciplinas, os studia humanitatis, tendo em vista reestabelecer em tempos modernos a excelência que alcançaram os antigos nas várias artes e saberes. O entusiasmo de Petrarca pela antiguidade romana manifesta-se não apenas em seu esforço em recolher e comentar textos romanos antigos, com particular ênfase no gênero histórico, mas igualmente em compilar inscrições antigas e colecionar moedas dos imperadores romanos. Sua admiração pela antiguidade estende-se também às ruínas romanas, embora seja guiado ainda pelos textos medievais do Mirabilia Urbis Romae e do Graphia Aurea Urbis Romae.

Apenas no século XV essas antigas relíquias textuais e artísticas serão estudadas e imitadas com empenho filológico, antiquário, retórico e filosófico, como é o caso da Elegantiae Linguae Latinae (1444), de Lorenzo Valla, que pretende restaurar o correto uso do latim ciceroniano e dos valores filosóficos contidos nele, e da obra topográfica de Flavio Biondo, Roma Instaurata (1444-48), que ilustra e reinterpreta a grandeza da Roma antiga através do estudo de suas ruínas. Leon Battista Alberti toma da antiguidade latina os modelos para seus escritos literários e seus tratados de arte. Assim como os artistas que elogia no prólogo de seu tratado Da Pintura, o arquiteto Brunelleschi e o escultor Donatello, Alberti se dedicará ao estudo e à anotação matemática das ruínas romanas.

Ao longo dos séculos XV e XVI, a erudição retórica e filosófica antiga continuará a guiar o olhar erudito dos humanistas e dos artistas em direção à imitação dos modelos antigos. Exemplo disso, é a descoberta do grupo escultórico do Laocoonte, em Roma, em 1506, que foi incansavelmente imitado em mármore, em pintura e em poesia.  A razão pela qual o grupo foi considerado a maior descoberta antiga até o século XVIII, deve-se ao fato de que foi imediatamente reconhecido graças a dois textos latinos antigos de enorme importância para o período: a passagem da Eneida, na qual Virgílio descreve a morte do sacerdote troiano e de seus dois filhos, e a notícia que Plínio, o velho, dá na História Natural, localizando o grupo nas imediações das termas de Tibério.

Uma vez que antiguidade fornecerá ao longo desses séculos modelos a serem imitados nos vários campos do saber - na filosofia moral, nas letras e nas artes -, o presente número da Revista Limiar busca reunir trabalhos que investiguem a importância dos modelos antigos na constituição do pensamento e da arte moderna e contemporânea. Serão bem-vindos estudos de casos, bem como ensaios mais abrangentes a propósito da questão. O número está aberto também à submissão de resenhas de obras históricas, filosóficas e críticas que se debruçam sobre a relação entre o antigo e a modernidade.

 

Os artigos devem ser enviados até 29/02/2024 para

 

Cristiane Maria Rebello Nascimento: cristiane.nascimento@unifesp.br

 

Bianca Fanelli Morganti: bianca.morganti@unifesp.br

Ou por submissão direta na plataforma da revista (onde se encontram também as normas da revista e regras de formatação): 

https://periodicos.unifesp.br/index.php/limiar/about/submissions

Observamos que além dos textos para o Dossiê, a Revista Limiar recebe em fluxo contínuo textos ligados à pesquisa em filosofia e áreas afins e que se enquadrem em sua linha editorial. Nesse caso, os textos devem também ser enviados para os e-mails acima mencionados.