Limpando o excesso de cinzas do passado para viver no presente:
Modos de pensar a memória e a História Oral em dois textos de Meneses (1992) e Portelli (2006)
DOI:
https://doi.org/10.34024/hydra.2019.v4.9705Palavras-chave:
Historiografia, Teoria da História, História e MemóriaResumo
Longe de ser uma produção que recupera um passado histórico, a memória consiste em todo um trabalho de produção com intenso investimento social de sentidos sobre as experiências passadas. Como as historiadoras e historiadores podem ler a memória como objeto da História? Por meio do diálogo com dois importantes estudiosos da relação história/memória, Alessandro Portelli e Ulpiano Bezerra de Meneses, o texto constrói uma reflexão de caráter teórico-conceitual sobre o lugar da memória na operação historiográfica. A memória pode ser tratada como objeto da história. Tal estatuto impõe a tarefa de situar temporalmente sua produção e a rede de relações em que ela se dá, além dos atores, fins e recursos materiais e simbólicos envolvidos em sua elaboração e gestão social. Fazer a História enquanto trabalho intelectual metodologicamente embasado requer o exercício heurístico, e eminentemente ético, de não naturalizar a memória, mas compreendê-la enquanto produção fisiológica, cultural e politicamente situada. Desnaturalizar a memória para elaborar a história permite multiplicar as leituras do passado e abrir novos olhares sobre o presente.
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Referências
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