De um saber seguro de si a insegurança do saber

a História Pública como movimento de reflexão epistemológica

Autores

  • Yan Bezerra Fonseca Universidade Federal Rural Do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.34024/hydra.2019.v4.9915

Palavras-chave:

crise da História, história pública, teoria da história e historiografia

Resumo

Este artigo propõe uma reflexão sobre os historiadores e a historiografia nas sociedades informacionais contemporâneas. Confrontados por uma realidade na qual somos rodeados por um persistente redemoinho semiótico caótico, a historiografia disciplinar e seus principais interlocutores, os historiadores, são afetados por uma profunda crise epistêmica. A História “útil para a vida”, tal qual descrita pelo pensamento nietzschiano , um saber dotado da capacidade de fornecer aos homens o substrato de suas ações no mundo ao qual pertencem, parece evanescer cada vez mais em meio a um cenário de negações, negacionismo, apropriações toscas e desafios à pretensa autoridade daqueles que a ela dedicam sua vida e suas penas. Nesse movimento, os historiadores, autoproclamados “guardiões da musa Clio”, parecem se voltar com maior intensidade a questões ligadas aos usos públicos e, portanto, políticos, que sofrem os passados por eles escritos. É em observação a esse panorama que surge a série de inquietações motivadoras deste artigo.

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Publicado

2020-03-11

Como Citar

Bezerra Fonseca, Y. (2020). De um saber seguro de si a insegurança do saber: a História Pública como movimento de reflexão epistemológica. Revista Hydra: Revista Discente De História Da UNIFESP, 4(7), 132–169. https://doi.org/10.34024/hydra.2019.v4.9915