Reutilização e reinterpretação do clássico no protesto social

A revolta social chilena de 2019

Abstract

Em 18 de outubro de 2019, começaram manifestações sociais massivas no Chile que duraram até março de 2020. Durante esses meses ocorreram protestos, motins e uma intervenção radical no espaço público nas principais cidades do país. Durante a revolta social, as influências clássicas greco-latinas da cidade foram questionadas como referências ocidentais e associadas ao domínio das elites. No entanto, os manifestantes da revolta social chilena apropriaram-se de referências artísticas ocidentais, criando murais com estes temas — a liberdade guiando o povo, a Nice, o gênio da liberdade, querubins ou animais alados míticos — intervieram com mensagens de reivindicação social, enquanto as estátuas de inspiração greco-romana foram vandalizadas ou sofreram intervenções. Ao mesmo tempo, foram identificadas formas de recepção clássica na apropriação de um pertencimento coletivo que conectava os manifestantes aos antigos heróis do povo Mapuche, a partir de histórias épicas construídas a partir de referências clássicas, mas assimiladas como símbolos da resistência popular na atualidade. Desta forma, a antiguidade clássica passa a fazer parte das identidades complexas que emergem do discurso social de reivindicações em contexto de crise, revelando uma pluralidade de interpretações no discurso político e na arte urbana.