“A gente não imaginava ter que provar para eles" Incertezas dos caminhos burocráticos para o reconhecimento étnico em Altamira

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Véronique Boyer

Resumo

O artigo explora as dificuldades enfrentadas pelos chamados “índios desaldeados” na sua busca por reconhecimento oficial. A partir de duas situações etnográficas na região de Altamira, ele discute como um homem de 68 anos e uma mulher de 19 tentam se posicionar num jogo sociojurídico exigindo que a sua afirmação da indianidade seja confirmada pela heteroidentificação e que o seu projeto territorial se enquadra nas categorias do Estado. Numa terceira parte, ele enfoca os discursos dos funcionários que tratam das questões indígenas, enfatizando como a multiplicação de “provas” exigidas vai constituindo um sistema que visa a conter essas demandas, ou seja, a excluir. O artigo conclui sugerindo que a indianidade está se conformando na “Imagem de um bem limitado", gerando disputas e acusações entre pessoas que todas se consideram indígenas.

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Seção

Crítica da Contemporaneidade

Biografia do Autor

Véronique Boyer, École des Hautes Études en Sciences Sociales

Directrice de Recherche no Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), vinculada ao Laboratoire Mondes Américains (UMR 8168), na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS).

Como Citar

“A gente não imaginava ter que provar para eles": Incertezas dos caminhos burocráticos para o reconhecimento étnico em Altamira. EXILIUM Revista de Estudos da Contemporaneidade, [S. l.], v. 6, n. 10, p. 342–361, 2025. DOI: 10.34024/ma9cyj11. Disponível em: https://periodicos.unifesp.br/index.php/exilium/article/view/20738. Acesso em: 5 dez. 2025.

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