Narração como coleta de estilhaços em "A guerra não tem rosto de mulher"
DOI:
https://doi.org/10.34024/limiar.2024.v11.19874Resumo
O objetivo deste artigo é oferecer uma discussão acerca das relações entre narração, colapso e devir, baseada no livro A guerra não tem rosto de mulher, de Svetlana Aleksiévitch. Em diálogo com perspectivas teóricas relacionadas à literatura de testemunho, às possibilidades de representação bélica e ao feminismo, empreendo uma análise imanente do texto. Tal análise sugere que essa literatura composta por testemunhos femininos acerca de situações sociais traumáticas viabiliza não só um espaço simbólico necessário a elaborações coletivas, como também ressignifica concepções substantivas, como as de “literatura”, “guerra” e “mulheres”, por meio do acesso a memórias subterrâneas, frequentemente solapadas pelos discursos oficiais.
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