Fragmentação, vitalismo e imanência
o olhar da obscuridade em Clarice Lispector e Maurice Blanchot
DOI:
https://doi.org/10.34024/limiar.2023.v10.18883Palavras-chave:
escrita fragmentária, Blanchot, Clarice Lispector, Neutro, LiteraturaResumo
Há uma relação notável entre dois escritores que se avizinham no abismo: Maurice Blanchot e Clarice Lispector. Partícipes da mesma crise das representações e da modernidade, ambos se debruçam sobre o ser da linguagem e fazem da escrita um exercício do pensamento a partir deste lugar outro, de estranhamento e alteridade radical. A análise deste outro insurgente na escrita nos impele uma aliança entre filosofia, literatura e psicanálise para situar o campo de experiência na intersecção de real, simbólico e imaginário, mas também para trazer à tona o plano de imanência em que habitam. Ambos se valem de um procedimento de esvaziamento da escrita, colocando em movimento o princípio de desaparecimento e fragmentação que será essencial às suas criações literárias. Desta maneira, o presente trabalho busca conjugar os campos teóricos da experiência intensa de escrita blanchotiana e clariciana em torno de quatro aspectos fundamentais: o plano de imanência de que partem, a hipótese de um vitalismo obscuro, a narratividade de uma exigência fragmentária e a alteridade radical do neutro como principal linha de força do pensamento filosófico compartilhado por Clarice e Blanchot.
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