A inderterminação em Manet
DOI:
https://doi.org/10.34024/limiar.2023.v10.18874Palavras-chave:
Édouard Manet, pintura, representação, indeterminação, materialidadeResumo
O artigo inicia-se com uma carta de Édouard Manet endereçada a Charles Baudelaire, lamentando as críticas violentas que foram publicadas na imprensa à sua pintura Olympia, de 1863, exposta no Salão de 1865. Em resposta a essa carta, Baudelaire afirma que há em suas pinturas “falhas, fraquezas, uma falta de firmeza”, mas que elas possuem, mesmo assim, um “encanto irresistível”. Visou-se mostrar que são justamente nas zonas de instabilidade de suas pinturas, em seus aparentes pontos cegos, que parecem advir à primeira vista das hesitações, senão da imperícia da mão do artista, que reside esse “encanto irresistível”. São as áreas de deslegitimação mimética que desencadeiam no olhar do observador uma paixão escópica que o faz circular, sem cessar, entre a dimensão referencial (a cena representada) e a dimensão indicial (a materialidade da fatura); ou, em outros termos, entre o saber de um objeto representado e o não-saber que força o pensamento. Por fim, acrescentou-se que esse efeito de indeterminação de suas pinturas é visível também no plano da representação, na maneira como Manet figurou tanto o olhar das personagens quanto sua classe social, em obras como Dans la Serre, de 1879, e em Un bar aux Folies-Bergère, de 1882.
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