Limitações da Utilização das Taxas de ISAPS Como Indicador do Acesso e da Qualidade da Atenção Primária no Brasil

Autores

  • Fernando Augusto Cervantes Garcia de Sousa UMSF – Igarapés, Município de Jacareí, São Paulo, Brasil
  • Lucas Ambrózio Lopes da Silva Escola de Administração de Empresas de São Paulo - EAESP da Fundação Getúlio Vargas - FGV

Resumo

Resumo: A Portaria nº. 2.488/2011, dispõe sobre a Política Nacional da Atenção Básica (PNAB) e reforça a necessidade de a Atenção primária -AP ser desenvolvida com o mais alto grau de capilaridade e descentralização. A utilização das internações sensíveis à atenção primária (ISAPs) como indicador de acesso e qualidade da AP bem como método para avaliar o desempenho do sistema de saúde, é considerada um importante instrumento de gestão, mesmo sendo uma medida indireta. Essa pesquisa tem como objetivo revisar a literatura entre 2008 e 2015 analisando os aspectos favoráveis e limitantes no uso dos ISAPs como indicador de acesso e qualidade da AP. Diversos autores apontam aspectos relativos às limitações desse indicador na avaliação da efetividade da AP no Brasil. Por exemplo a demanda por internações nos municípios analisados depende mais da oferta hospitalar instalada e das inadequações do sistema de saúde como um todo, do que das necessidades não atendidas pela AP. Além disso, as variáveis do próprio paciente tais como idade, sexo, escolaridade e internações prévias, principalmente dos que não são compreendidos no Programa Saúde da Família pode duplicar a probabilidade de internação. Destaca-se também que resultados parecem estar de acordo com a distribuição dos serviços de saúde no Brasil, que, infelizmente, não ocorre de forma equânime. É fato que as taxas de ISAPs trazem informações relevantes sobre a organização dos serviços de saúde, especialmente, no que se refere a AP. Contudo o uso desse indicador apresenta algumas limitações que devem ser levadas em consideração ao se interpretar os seus resultados. Cabe aos gestores, especialmente aqueles que estão envolvidos com um PA, conhecer todos os fatores que interferem nas taxas dos ISAPs para melhorar o processo de tomada de decisão diante das políticas públicas de saúde.

Palavras-chave: Atenção Primária (AP); internações sensíveis à atenção primária (ISAPs); Sistema Único de Saúde (SUS), Gestão da Saúde; Políticas Públicas.

 

Abstract: National Primary Care Policy (PNAB) was provided by Ordinance no. 2,488 /2011, reinforcing the need for a new strategies to improve Primary Healthcare- PH. The use of Internments suitable for Primary Healthcare (ISAPs in Portuguese) as an indicator of access and quality of the PH, is an useful technique to evaluate the performance of the health system. Furthermore, it is also an important management tool, even though it is an indirect measure. This research aims to review the publications between 2008 and 2015, analyzing the favorable and limiting dimensions in the use of ISAPs as an indicator of access and quality of PH. Several authors pointed out the need to evaluate the effectiveness of PH in Brazil though indicators. For example, the demand for hospitalizations and low hospital supply and the inadequacies of the health system as a whole were greater than the need not met by the PA. In addition, variables such as age, sex, schooling and previous hospitalizations, especially those that are not attended in Brazilian Family Health Program, double the probability of hospitalization. These findings as well seems to be in agreement with the distribution of health services in Brazil, which, unfortunately, does not occur in an equitable way. It is a fact that the ISAP rates provide the necessary information about the organization of health services, especially, not referring to the PH according to this research. Nevertheless, the use of the indicator presents some limitations that must be taken into account when interpreting the results. It is up to the managers, especially those who are involved with PH, to know all the factors that interfere in the rates of ISAPs to improve the process of decision making before the public policies of health.

Keywords: Primary Healthcare (PH); Internments suitable for Primary Healthcare; Brazilian Unified Health System (SUS); Health Management; Public policy.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ABAID, R.A.; NEDEL, F.B. & ALCAYAGA, E.L. (2014).Condições sensíveis à atenção primária: confiabilidade diagnóstica em Santa Cruz do Sul, RS.Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção, 4(3), 208-215.

ALFRADIQUE, M. E. et al. (2009). Internações por condições sensíveis à atenção primária: a construção da lista brasileira como ferramenta para medir o desempenho do sistema de saúde (Projeto ICSAP-Brasil).Cadernos de Saúde Pública, 25(6), 1337-49.

ALMEIDA, E. & MACINKO, J. (2006).Validação de uma metodologia de avaliação rápida das características organizacionais e do desempenho dos serviços de atenção básica do Sistema de Saúde (SUS) em nível local. Brasília: Ministério da Saúde/Organização Pan-Americana da Saúde.

BARRETO, J.O.M.; NERY, I.S. & COSTA, M.S.C. (2012). Estratégia Saúde da Família e internações hospitalares em menores de 5 anos no Piauí, Brasil.Cadernos de Saúde Pública, 28(3), 515-526.

BOING, A. C. et al. (2012). Redução das Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária no Brasil entre 1998-2009.Revista de Saúde Pública, 46(2), 359-66.

CALDEIRA, A.P. et al. (2011). Internações pediátricas por condições sensíveis à atenção primária em Montes Claros, Minas Gerais, Brasil. Revista Brasileira de Saúde Materno-Infantil, 11(1), 61-71.

CAMINAL, J. et al. (2004). The role of primary care in preventing ambulatory care sensitive conditions. The European Journal of Public Health, 14(3), 246-251.

CAMPOS, A.Z. & THEME-FILHA, M.M. (2012).Internações por condições sensíveis à atenção primária em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil, 2000 a 2009.Cadernos de Saúde Pública, 28(5), 845-855.

CARDOSO, C.S; et al. (2013). Contribuição das internações por condições sensíveis à atenção primária no perfil das admissões pelo sistema público de saúde.Revista Pan-americana de Salud Publica, 34(4), 227-234.

CECCONI, R.F.; MENEGHELII, S.N.; VIECILI, P.R.N. (2014). Internações por condições sensíveis à atenção primária e ampliação da Saúde da Família no Brasil: um estudo ecológico.RevistaBrasileira de Epidemiologia, 17(4), 968-977.

CUETO, M. (2004). The origins of primary health care and selective primary health care.American Journal of Public Health, 94(11), 1864-1874.
DE SOUZA, L.L. & DA COSTA, J.S.D. (2011). Internações por condições sensíveis à atenção primária nas coordenadorias de saúde no RS.Revista de SaúdePública, 45(4), 765-772.

DEININGER, L.S. et al. (2015). Hospitalizations caused by primary care-sensitive conditions: an integrative review.JournalofNursing UFPE, 9(1), 228-236.

DIAS-DA-COSTA, J. S. et al. (2001). Hospitalizações por condições sensíveis à atenção primária nos municípios em gestão plena do sistema no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.Cadernos de Saúde Pública, 26(2), 358-64.

DOS SANTOS, V.C.F. et al. (2013).Internações por condições sensíveis a atenção primária (ICSAP): discutindo limites à utilização deste indicador na avaliação da Atenção Básica em Saúde.Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde, 7(2), 1-16. Recuperado em 20 de agosto de 2015, de http://www.reciis.icict.fiocruz.br/.

ELIAS, E. & MAGAJEWSKI, F. (2008). A Atenção Primária à Saúde no sul de Santa Catarina: uma análise das internações por condições sensíveis à atenção ambulatorial, no período de 1999 a 2004.Revista Brasileira de Epidemiologia, 11(4), 633-647.

FERNANDES, V.B.L. et al. (2009).Internações sensíveis na atenção primária como indicador de avaliação da Estratégia Saúde da Família.Revista de Saúde Pública, 43(6), 928-36.

FERREIRA, J.B.B. et al. (2014). Internações por condições sensíveis à atenção primária à saúde em uma região de saúde paulista, 2008 a 2010. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 23(1), 45-56.

JUNQUEIRA, R.M.P. & DUARTE, E.C. (2012). Internações hospitalares por causas sensíveis à atenção primária no Distrito Federal, 2008. Revista de Saúde Pública, 46(5), 761-768.

LIMA, T. C. S. & MIOTO, R. C. T. (2007). Procedimentos metodológicos na construção do conhecimento científico:pesquisa bibliográfica. Rev. Katál,10, 37-45.

MACIEL, A.G.; CALDEIRA, A.P. & DINIZ, F.J.L.S. (2014). Impacto da Estratégia Saúde da Família sobre o perfil de morbidade hospitalar em Minas Gerais.Saúde Debate, 38(N° especial), 319-330.

MARQUES, A.P.; MONTILLA, D.E.R. & DE ALMEIDA, W.S. (2014). Internação de idosos por condições sensíveis à atenção primária à saúde.Revista de Saúde Pública, 48(5), 817-826.

MELO, M.D.; EGRY, E.Y. (2014).Determinantes sociais das Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária em Guarulhos, São Paulo. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 48(1), 133-140.

MENDONÇA, S.S. & ALBUQUERQUE, E.C. (2014).Perfil das internações por condições sensíveis à atenção primária em Pernambuco, 2008 a 2012. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 23(3), 463-474.

MORENO, A. et al. (2009). Internações hospitalares por condições sensíveis à atenção ambulatorial: algoritmo de captura em registro integrado de saúde.Cadernos de Saúde Coletiva, 17(2), 409-16.

MOURA, B.L.A. et al. (2010).Principais causas de internação por condições sensíveis à atenção primária noBrasil: uma análise por faixa etária e região. Revista Brasileira de Saúde Materno-Infantil, 10(1), 83-91.

NEDEL, F.B. et al. (2008).Programa Saúde da Família e condições sensíveis à atenção primária, Bagé (RS).Revista de Saúde Pública, 42(6), 1041-1052.

NEDEL, F.B. et al. (2010) Características da atenção básica associadas ao risco de internar por condições sensíveis à atenção primária: revisão sistemática da literatura. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 19(1), 61-75.

PAZÓ, R.G. et al. (2012) Internações por condições sensíveis à atenção primária no Espírito Santo: estudo ecológico descritivo no período 2005-2009.Epidemiologia e Serviços de Saúde, 21(2), 275-282.

PAZÓ, R.G. et al. (2014). Modelagem hierárquica de determinantes associados a internações por condições sensíveis à atenção primária no Espírito Santo, Brasil.Cadernos de Saúde Pública, 30(9), 1891-1902.

PITILIN, E.B. et al. (2015). Internações sensíveis à atenção primária específicas de mulheres. Revista Ciência & Saúde Coletiva, 20(2), 441 -448.

PREZOTTO, K. H.; CHAVES, M.M.N. & DE FREITAS MATHIAS, T.A. (2015). Hospitalizações sensíveis à atenção primária em crianças, segundo grupos etários e regionais de saúde. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 49(1), 44-53.

REHEM, T.C.M.S.B. & EGRY, E.Y. (2011). Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária no Estado de São Paulo.Ciência & Saúde Coletiva, 16(12), 4755-4766.

REHEM, T.C.M.S.B. et al. (2012). Internações por condições sensíveis à atenção primária no hospital geral de uma microrregião de saúde do município de São Paulo, Brasil.Texto & Contexto Enfermagem, 21(3), 535-542.
REHEM, T.C.M.S.B. et al. (2013). Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária em uma metrópole brasileira.Revista da Escola de Enfermagem da USP, 47(4), 884-887.

REHEM, T.C.M.S.B. et al. (2013).Registro das internações por condições sensíveis à atenção primaria: validação do sistema de informação hospitalar. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 21(5), 1159-1164.

RICHARDSON, R.J. et al. (2007). Pesquisa social: métodos e técnicas. (3. ed. rev. ampliada). São Paulo: Atlas.

RODRIGUES-BASTOS, R.M. et al. (2013). Internações por condições sensíveis à atenção primária em município do sudeste do Brasil.Revista da Associação Médica Brasileira, 59(2), 120-127.

RODRIGUES-BASTOS, R.M. et al. (2014). Internações por condições sensíveis à atenção primária, Minas Gerais, 2000 e 2010. Revista de Saúde Pública, 48(6), 958-967.

SALA, A. & MENDES, J.D.V. (2011). Perfil de Indicadores da Atenção Primária à Saúde no Estado de São Paulo: retrospectiva de 10 anos.Saúde e Sociedade, 20(4), 912-926.

SANTANA, M.L. & CARMAGNANI, M.I. (2001).Programa Saúde da Família no Brasil: um enfoque sobre seus pressupostos básicos, operacionalização e vantagens. Saúde e Sociedade, 10(1), 33-54,

TORRES, R.L. & CIOSAK, S.I. (2014). Panorama das Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária no município de Cotia.Revista da Escola de Enfermagem da USP, 48(1), 141-148.

Downloads

Publicado

2018-11-01

Como Citar

Sousa, F. A. C. G. de, & Silva, L. A. L. da. (2018). Limitações da Utilização das Taxas de ISAPS Como Indicador do Acesso e da Qualidade da Atenção Primária no Brasil. Revista Internacional De Debates Da Administração & Públicas - RIDAP, 3(1), 140–154. Recuperado de https://periodicos.unifesp.br/index.php/RIDAP/article/view/1284