Tradição de Penélope

releituras do mito na poesia portuguesa contemporânea

Autores

  • Maria de Fátima Silva Universidade de Coimbra

DOI:

https://doi.org/10.34024/herodoto.2022.v7.14811

Palavras-chave:

Odisséia, Ovídio, Recepção, Torga, Alegre

Resumo

Qualquer reflexão sobre reescritas contemporâneas do mito de Penélope deverá estabelecer previamente os tópicos convencionais na tradição greco-latina, de que todas elas são devedoras. Fragilidade e sofrimento, violência e assédio, perspicácia e talento, reconhecimento e reencontro são motivos estruturantes dessa narrativa. Embora sabendo a difusão que, desde tempos remotos, se oculta por trás de referências fragmentárias, damos por certo que as raízes determinantes para todo esse lastro que perdurou, ininterrupto, ao longo dos séculos, são a Odisseia e Ovídio, Heroides. A literatura portuguesa também não se isentou do fascínio pelo episódio de Ítaca e pelo simbolismo que continha. A termos em conta apenas a poesia contemporânea, são múltiplos os autores que, de modo explícito, regressaram ao assunto. Desse património iremos considerar dois poetas, Miguel Torga e Manuel Alegre, de certo modo articulados no tratamento, temático e estético, que dedicam a Ulisses e Penélope.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Maria de Fátima Silva, Universidade de Coimbra

Professora Catedrática jubilada da FLUC, área dos Estudos Clássicos.

A sua investigação centra-se nos Estudos Gregos, em particular no Teatro, Historiografia, Tratados Científicos. Mais recentemente tem dedicado boa parte da sua atividade aos Estudos de Recepção.

É autora de numerosas traduções e estudos sobre estas áreas preferenciais. Mantém um contacto assíduo com centros de excelência, nomeadamente em Atenas e em Oxford. Foi distinguida, na sua primeira edição, com o Prémio de Investigação Internacional, concedido pela FLUC

Referências

AGUILAR, Ana Sofia Albuquerque. A influência clássica na obra poética de Miguel Torga: o caso particular do Diário. Tese de mestrado, Estudos Clássicos, Universidade de Lisboa, 2010.

ALEGRE, Manuel. O Canto e As Armas. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2017.

ALEGRE, Manuel. Livro do Português Errante. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2001.

ÁLVAREZ, Eloísa. Torga (Miguel). In: Biblos. Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa. Lisboa: Verbo, 2005, p. 462-467.

BRANDÃO, Fiama Hasse Pais. Obra breve. Lisboa: Teorema, 1991.

CARLIER, Pierre. À propos de Pénélope. Ktema. Paris: PUF, vol. 27, 2002, p. 283-91.

EMLYN-JONES, Chris. The Reunion of Penelope and Odysseus. Greece & Rome. Oxford: Clarendon Press, vol. 31, fasc. 1, 1984, p. 1-18.

FERREIRA, Cláudia Capela. Torga clássico: dos mitos ao Kleos poético. ‘Nada perdura, e quero que me leias, Eternidade!’ In: MORÃO, Paula, PIMENTEL, Maria Cristina (Orgs.). Matrizes Clássicas da Literatura Portuguesa: uma (re)visão da Literatura Portuguesa das origens à contemporaneidade. Lisboa: Documentos, 2014, p. 397-407.

FERREIRA, José Ribeiro. O tema de Ulisses em cinco poetas portugueses contemporâneos. Máthesis. Viseu: Universidade Católica, vol. 6, 1996, p. 437-62.

GILCHRIST, Katie. Penelope: a study in the manipulation of myth. PhD thesis, Classical Studies, University of Oxford, 1997.

GRAVES, Robert. The Greek myths. 1-2. Middlesex: Penguin, reimpr. 1977.

GUIMARÃES, Fernando. A analogia das folhas. Porto: Limiar, 1990.

GUIMARÃES, Fernando. Poesias completas. I. 1952-1988. Porto: Ed. Afrontamento, 1994.

JACOBSON, Howard. Ovid's Heroides. Princeton: University Press, 1974.

JÚDICE, Nuno. Poesia reunida 1967-2000. Lisboa: Dom Quixote, 2000.

JÚDICE, Nuno. A matéria do poema. Lisboa: Dom Quixote, 2008.

KAMPERI, Mikaela-Aliki. The Homeric element in Cavafi’s poetry: three examples. Master Thesis, Modern Greek, Lunds Universitet, 2013.

LOURENÇO, Frederico. Homero. Odisseia. Lisboa: Quetzal, 2018.

MACEDO, Hélder. Poemas novos e velhos. Lisboa: Presença, 2011.

MACTOUX, Marie-Madeleine. Pénélope. Légende et mythe. Paris: Les Belles Lettres, 1975.

MOURÃO FERREIRA, David. Obra completa 1-2. Lisboa: Livraria Bertrand, 1980.

MUELLER, Melissa. Penelope and the Poetics of Remembering. Arethusa. New York: John Hopkins University Press. vol. 40, fasc. 3, 2007, p. 337-62.

OLIVEIRA, Francisco (ed.). Penélope e Ulisses. Coimbra: APEC, IEC, CECH, 2003.

PHILIPPOU, Eleni. Perennial Penelope and lingering Lotus-Eaters: revaluing mythological figures in the poetry of the Greek financial crisis. Dibur Literary Journal. Stanford: Arcade, 2018, vol. 5, p. 71-86.

QUEIRÓS, Eça. Contos. Lisboa: Livros do Brasil, s/d.

RAMOS, Manuel. Miguel Torga: manipulação do mito. Porto: edição de Autor, 2013.

ROCHA, Clara. Alegre (Manuel). In: Biblos. Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa. Lisboa, Verbo, 1995, p. 122.

ROCHA PEREIRA, Maria Helena. A teia de Penélope. In: OLIVEIRA, Francisco (org.). Penélope e Ulisses. Coimbra: APEC, IEC, CECH, 2003, p. 11-24.

ROCHA PEREIRA, Maria Helena. Mitos Gregos em Miguel Torga. In: Recepção das Fontes Clássicas em Portugal. Coimbra: Fundação Calouste Gulbenkian, IUC, 2019ª, p. 345-52 (Aqui, neste lugar e nesta hora: actas do primeiro congresso internacional sobre Miguel Torga. Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa, 1994, p. 403-12).

ROCHA PEREIRA, Maria Helena. Os mitos clássicos em Miguel Torga. In: Recepção das Fontes Clássicas em Portugal. Coimbra: Fundação Calouste Gulbenkian, IUC, 2019b, p. 353-64 (Revista Colóquio/Letras, vol. 43, 1978, p. 20-32).

ROCHA PEREIRA, Maria Helena. Ao encontro da obra de Manuel Alegre. In: Recepção das Fontes Clássicas em Portugal. Coimbra: Fundação Calouste Gulbenkian, IUC, 2019b, p. 425-37 (1996, conferência feita em Lisboa, no Grémio Literário, e publicada em Portugal e a herança clássica e outros textos. Porto: Asa, 2003, p. 224-36).

ROISMAN, Hanna M. (1987), “Penelope's Indignation”, Transactions of the American Philological Association. New York: Johns Hopkins University Press, 1987, vol. 117, p. 59-68.

RUTHERFORD, Richard. Homer. Odyssey. Books XIX and XX. Cambridge: University Press, 1992.

SEABRA, José Augusto. Gramática grega. Porto: Nova Renascença, 1985.

SANTOS, Elsa Rita. Exílio e liberdade na poesia de Manuel Alegre. Revista de História das Ideias. Coimbra: FLUC, vol. 38, 2020, p. 79-94.

SILVA, João Céu e. Uma longa viagem com Manuel Alegre. Lisboa: Porto Editora, 2010.

SILVA, Maria de Fátima. Perfection - the immortals’ default. Eça de Queiroz and Calypso’s Island. In: SILVA, Maria de Fátima, BOUVIER, David, AUGUSTO, Maria das Graças de Moraes (eds.), A special model of Classical Reception. Summaries and Short Narratives. Cambridge: Scholars Publishing, 2019, p. 73-90.

SOUSA, Carlos Mendes. Sophia de Mello Breyner Andresen. Obra poética. Lisboa: Assírio & Alvim, 2015.

TORGA, Miguel. Diário I-XVI. Coimbra: Almedina, 1941-1993.

TORGA, Miguel. Diário VI. Coimbra: ed. do autor, 31978; Diário VIII. Coimbra: ed. do autor, 31976; Diário XI. Coimbra: ed. do autor, 1973.

TORGA, Miguel. Poesia Completa.II. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2007.

TURKELTAUB, Daniel. Penelope’s ‘stout hand’ and Odyssean humour. The Journal of Hellenic Studies. Cambridge: University Press, vol. 134, 2014, p. 103-19.

VENTURA, José Manuel. Penélope e a teia de Miguel Torga. Boletim de Estudos Clássicos. Coimbra: IEC, vol. 32, 1999, p.

ODYSSEUS RETURNING TO PENELOPE, MELIAN, CA. 460–450 B.C., TERRACOTTA. https://www.metmuseum.org/art/collection/search/253053

Publicado

2023-02-13

Como Citar

Silva, M. de F. . (2023). Tradição de Penélope: releituras do mito na poesia portuguesa contemporânea. Heródoto: Revista Do Grupo De Estudos E Pesquisas Sobre a Antiguidade Clássica E Suas Conexões Afro-asiáticas, 7(1), 42–61. https://doi.org/10.34024/herodoto.2022.v7.14811