https://doi.org/10.34024/prometeica.2020.21.9982


 

O QUE É PRECISO PARA FAZER O MUNDO?

A PHYSISCHE GEOGRAPHIE DE IMMANUEL KANT


WHAT IT TAKES TO DO THE WORLD?

the physische geographie of Immanuel Kant


¿QUE SE NECESITA PARA HACER EL MUNDO?

la physische geographie de Immanuel Kant


Letícia Helena Fernandes de Oliveira
(Universidade Federal do Paraná)
leticiahelenafoliveira@gmail.com


Recibido: 18/11/2019
Aprobado: 10/06/2020


RESUMO

O objetivo deste trabalho é analisar os motivos que fizeram o curso de Physische Geographie de Kant ser crucial para o desenvolvimento de sua Anthropologie. Sua proposta inicial é fundamentada na intenção de aplicar uma abrangência filosófica na geographie, que segundo ele não existia até então, visto que ela era considerada apenas como uma constituição natural do globo. Não convencido de que estava no caminho certo, ele anuncia em 1758 um novo curso de geografia com uma nova perspectiva, de que a geografia, seja uma preparação para a filosofia em geral, fazendo com os alunos pudessem se distanciar de conceitos vagos para abstrações mais claras. Dez anos mais tarde, em 1755, ele anunciou que iria ministrar um curso sobre anthropologie da qual o seu primeiro curso era parte complementar. O complemento de ambas reside no sentido de que as experiências que possuímos referente a natureza e do homem constituem juntas o conhecimento do mundo (Weltkenntniß), do qual Kant se interessava. Sendo assim, o conhecimento do homem é ensinado pela anthropologie e o conhecimento da natureza é ensinado pela physische geographie.


Palavras-chave: Geografia Física. Cidadão do Mundo. Antropologia. Pragmático.


ABSTRACT


The objective of this paper is to analyze why Kant's Physische Geographie course is crucial for the development of his Anthropologie. His initial proposal is based on the intention of applying a philosophical scope to geography, which he did not think existed until then, since it was considered only as a natural constitution of the globe. Not convinced that he was on the right track, he in 1758 announces a new geography course with a new perspective, that geography is a preparation for philosophy in general, allowing students to distance themselves from vague concepts to clearer abstractions. Ten years later, in 1755, he announced that he would teach a course on anthropology of which geography was a complementary part. Their complement lies in the fact that our experiences of nature and man together constitute the knowledge of the world

(Weltbürgers) of which Kant was interested. Thus, the knowledge of man is taught by anthropology and the knowledge of nature is taught by physische geographie.

Keywords: Physical Geography. World knowledge. Anthropologie. Pragmatic.


RESUMEN

El objetivo de este trabajo es analizar las razones que hicieron que el curso de Kant Physische Geographie fuera crucial para el desarrollo de su Antropología. Su propuesta inicial se basa en la intención de aplicar un alcance filosófico a la geografía, que, según él, no existía hasta entonces, ya que se consideraba solo como una constitución natural del globo. No convencido de que estaba en el camino correcto, en 1758 anunció un nuevo curso de geografía con una nueva perspectiva, que la geografía sería una preparación para la filosofía en general, permitiendo a los estudiantes distanciarse de conceptos vagos a abstracciones más claras. Diez años después, en 1755, anunció que iba a impartir un curso de antropología, del cual su primer curso era una parte complementaria. El complemento de ambos radica en el sentido de que las experiencias que tenemos, respecto a la naturaleza y al hombre constituyen en conjunto el conocimiento del mundo (Weltkenntniß), en el que Kant estaba interesado. Así, el conocimiento del hombre es enseñado por la antropología y el conocimiento de la naturaleza por la geografía física.


Palabras – clave: Geografía Física. Ciudadano del mundo. Antropología. Pragmático.



 

Introdução


O ser humano é capaz e necessita de uma educação, tanto no sentido da instrução quanto no da obediência (disciplina).


(Kant, 2007: 207).


O professor Kant teve sua filosofia fertilizada por sua própria genialidade, bastaria olhar o período pré- crítico e crítico para reconhecer o que ele pôde fazer. As aulas de (Geografia Física) Physische Geographie11 proferidas a partir de 1757 em Königsberg se encaixam perfeitamente nesse contexto de grandes feitos. Embora, pareça impensável que um filósofo que dedicou grande parte de sua vida a questões mais conhecidas - digamos assim, tenha se interessado pelo tema da geografia, mas não só se interessou como procurou ensiná-la por quase quarenta e nove anos, enquanto exercia a função de um Privatdozent12. A geografia não é uma obra propriamente dita, mas um curso, ela foi ensinada através das próprias anotações do Kant (Diktattext) – característica comum na Alemanha, já que muitos professores estariam ministrando suas próprias aulas através de suas próprias anotações e não com um livro base, como era de costume. Quando a geografia foi anunciada no catálogo de cursos da Universidade de Königsberg a intenção do filósofo era de considerara-la não somente enquanto uma constituição do globo terrestre, e tudo o que nele contém, como ele dizia ser feito até então, mas considerar, principalmente, uma certa abrangência filosófica para esse ensino geográfico.

Para fortalecer um vínculo entre a geografia e da dita abrangência filosófica, ele aponta ter procurado em outros inventários a respeito, desde a obra de Varenius até Lulofs, sobre os fundamentos gerais da


11 Todas as demais traduções às obras de Kant utilizadas aqui estão referidas na bibliografia. As referências a Kant seguem a 1° (A) ou 2°

(B) edição das obras, abreviadas classicamente como KrV: Crítica da Razão Pura. Para a geografia, a abreviação utilizada é a PG e a antropologia, a abreviação é Anth. Todas as demais traduções constam na bibliografia.

12 Essa função foi exercida por Kant de 1740 a 1755. Seu título de Privatdozent foi obtido com a apresentação de sua dissertação apresentada à Universidade de Königsberg.

 

disciplina (Arnoldt, 1908: 193). Portanto, quando resgatou suas influências, Kant criou seu próprio esboço e pôde então lecionar o curso da maneira pela qual ele estava planejando. Contudo, ao que parecia ser um único anúncio e uma única forma de ensinar tal assunto, o professor ainda fez mais dois comunicados importantes. O primeiro deles se deu logo em seguida do seu primeiro anúncio, em 1758, quando informou novamente no catálogo de cursos, que iria continuar o ensino da geografia, mas com outras amplificações. Dessa maneira, seu objetivo com isso seria fornecer aos alunos uma formação mais consolidada, se afastando de conceitos vagos para pensamentos claros e concretos concernentes a sua formação. Na visão do autor prussiano, os alunos, ao entrarem em contato com esse ensino, estariam na realidade, se preparando para uma vida prática, porque de fato conheceriam melhor sua morada, e sobretudo, teriam conhecimentos teóricos mais aperfeiçoados, o que não poderia ser feito apenas por uma disciplina. Com essa ampliação fica claro também que a geografia encontrará sua segmentação e é a partir disso que dez anos depois do anúncio desse projeto, o autor acaba por reconhecer a antropologia – ensinada no semestre de inverno de 1772/73, como parte complementar da geografia.


Por que são partes complementares? A geografia para ele é uma preparação para o Conhecimento do mundo (Weltkenntniß), uma instrução para uma vida acadêmica útil, segundo ele. Em outras palavras, Kant não só encontra a segmentação da geografia na antropologia, como também atribuí funções a cada um desses cursos. A geografia, por sua vez, ensina o que diz respeito ao externo e a antropologia tematiza o homem enquanto o ser que está no mundo, como alguém que é pragmático.

Portanto, para compreendemos com mais acuidade de que modo a geografia está ambientada na filosofia de kantiana, procuraremos, neste artigo, levantar as seguintes perguntas (1) por qual razão ela é essencial para a antropologia, (2) qual são as implicações do curso mais especificamente as críticas sobre autenticidade da obra, bem como os problemas de tradução. Considerações importantes sobre as (3) características gerais do curso e sua estrutura e (4) se existe e qual é a relação desse curso com a antropologia. No valemos, da introdução do curso de geografia – que por muitas vezes parece mais reveladora que o restante do curso, assim como pontos principais da antropologia e de alguns comentadores sobre o tema, já que nossa intenção aqui não é esgotar o tema, acreditando levianamente que estaríamos respondendo tudo isso em definitivo.


O curso de Physische Geographie de Kant


O curso de Geografia Física não exerce a atenção que deveria entre alguns pesquisadores da filosofia kantiana, mesmo que esse curso tenha sido proferido por quarenta anos na Universidade Königsberg nos anos de 1756 a 1800, durante seis horas semanais (Arnoldt 1908: 193)13. Com essa dedicação, quase exaustiva do professor, dá qual não é cabível passar desapercebida, nos perguntamos, por que Kant dedicou boa parte de sua carreira como docente à essas aulas? A resposta parece simples, mas é carregada de implicações.

Sabe-se que além de filósofo, Kant era também professor. Sua atividade professoral foi exercida até os últimos momentos de sua produção filosófica – à medida que produzia, ele ensinava, e isso fica claro para os que se debruçam sob suas obras. O tempo de contribuição do autor como docente é de quarenta e um anos, às atividades se iniciaram no semestre de inverno de 1755/56 e foram concluídas em meio ao semestre de verão de 1796. No início de sua carreira, Kant era Privatdozent, essa função foi exercida de 1755 a 1770, o que lhe permitia oferecer cursos particulares em que era pago diretamente por seus alunos, sendo livre para o ensinar o que e como quisesse. Um dos cursos que exercia enquanto


13 Estas informações foram retiradas do site Kant in the Classroom https://users.manchester.edu/FacStaff/SSNaragon/Kant/Home/index.htm, a página tem como o objeto fornecer o maior número de dados possíveis sobras as aulas ministradas por Kant, incluindo anotações dos próprios alunos e do filósofo. O material fornece uma ampla referência para os estudiosos de Kant, nos possibilitando compreender com mais clareza o contexto de suas obras.

 

um Privatdozent era a geografia física, e de início pode parecer que essas aulas são apenas uma mera obrigação formal que sua profissão lhe exigia, mas ela não pode ser olhada como apenas uma obrigação financeira do professor, pois isso desautoriza a importância e o desenvolvimento do tema da geográfico em primeira instância.

Diferente da Antropologia, a geografia não se tornou uma obra escrita propriamente dita por Kant depois de ter proferido diversas aulas a respeito, porque após isso, o filósofo autorizou que F. Theodor Rink editasse as anotações e a publicasse em 1802, enquanto apenas um curso, sendo o primeiro editor a fazê-lo. A edição reúne as anotações de vários alunos que acompanhavam o curso, e quando o texto estava sendo preparado para publicação, recebeu uma revisão do próprio Kant (Ribas, 2011). Contudo, mesmo com a revisão do autor, parece que entre seus estudiosos, não foi lhe poupadas críticas, sobre o conteúdo e autenticidade do curso, porque a edição de Rink é vista sob de um ponto de vista problemático. Ora, é necessário levar em conta que essa edição provém de anotações de alunos; mas antes que essas anotações tomassem forma, o filósofo prussiano ensinava através de suas próprias notas – o chamado Diktat-Text, em outras palavras, estamos lidando com um círculo vicioso de anotações livres e difíceis de serem tematizadas em sua concretude.

Louden, ao sair em defesa da importância do curso e não de Rink, delineia bem essa questão de autenticidade e conteúdo ao dizer que num primeiro momento se pensa que a negligência editorial de Rink é também a negligência para geografia, pois o consenso parece ser: esse texto não é confiável, fique longe disso (Louden, 2014, p. 454). Porém, para ele o problema não para por aqui, uma vez que Rink editou também outros trabalhos de Kant, incluindo palestras sobre Pedagogia (Padagogik), publicado em 1803, do qual também foi criticado. Todavia, foi muitas vezes mais traduzido e publicado que a geografia, há pelo menos um tradução de Louden, publicada pela primeira vez em 2007 no volume de Antropologia, História e Educação da The Cambridge Edition (Zoller e Louden, 2007), as palestras sobre Pedagogia de Kant também foram traduzidas três vezes para o francês, cinco para o espanhol e quatorze Para o italiano (Louden, 2014: 453), o que reforça o fato de que a indiferença à geografia não está apoiada apenas em por problemas com Rink.


Em uma posição diversa, Olaf Reinhardt aponta que as notas editadas por Rink foram “insatisfatórias desde o início, o que resultou em poucas revisões (Reinhardt, 2011: 103). Essa insatisfação com a relação ao que o curso apresenta e como ela se apresenta, parece estar atrelada, para Reinhardt por dois motivos, o primeiro deles é falta de precisão de Rink ao transcrever as notas e ao desejo do jovem Kant de conseguir um compromisso com a sua Universidade, mediante a trabalhos publicados, já que seu ofício na época era ser como Privatdozent. Reinhardt indica que como um Privatdozent (1755-1770), ele dependia inteiramente das taxas que seus alunos pagavam para frequentar suas palestras; em outras palavras, ele tinha que ser um professor bom e popular, e ele era. Ele, portanto, precisava de um assunto para ensinar que fosse novo, atraente para os alunos. Geografia física parecia uma o outro curso, por sua vez, era a antropologia, que, como mostra Werner Stark neste volume, cresceu essencialmente fora das aulas de geografia. Desse modo, a geografia foi muito bem-sucedida, desde que Kant a ensinou com inúmeras revisões ao longo de sua carreira como professor e filósofo. Possivelmente uma razão para sua popularidade foi que, em um sentido muito específico, avançou em uma nova abordagem para a ciência, por exemplo (Reinhardt, 2011: 104).


O posicionamento de Reinhardt parece indicar, num primeiro momento, que como Kant dependia de aulas particulares, ele precisava de um assunto popular e inteiramente novo, para ser popular e fazer com os estudantes se sentissem atraídos por uma nova problemática, e a geografia seria seu alvo. Em seguida, ele parece propor que a antropologia, que se desenvolveu essencialmente dos cursos de geografia seguiu essa mesma onda de popularidade da época, sem demais discussões profícuas a respeito (Cf. Hinske, 1992), o autor discute a que se deve o nascimento das aulas de antropologia. Por último, ele delineia o sucesso da geografia à guisa de um avanço específico para a ciência, isto é, uma abordagem que ele considera totalmente nova. Analisemos então cada uma dessas afirmações de Reihnardt.

No que tange a uma obrigação profissional nos parece ser difícil dizer o contrário, sim, ele precisava de aulas, mas não, sua obrigação profissional não parece ser a única condição sobre o interesse de Kant em relação ao curso. (Ribas, 2009) sustenta justamente isso, pois seria um erro muito grande desprender a geografia dos conteúdos do seu sistema filosófico em relação ao mundo, em face de um compromisso profissional. Existe um comprometimento de Kant com assuntos relacionados a terra, ou melhor, sobre a “superfície da terra” e o curso referido foi uma das formas de tematizar esse assunto. Reinhardt não deixa de fazer menção ao fato de a antropologia ter praticamente nascido dos cursos de antropologia, nos autorizando a compreender que, apesar de geografia ter problemas pertinentes, ele não deixou de ser parte fundamental para o nascimento da antropologia.

Em seguida, é imprescindível mencionar que ele a reconhece, isto é, a geografia, como um avanço científico presente no século XVIII, visto que há uma mudança de perspectiva científica por causa da publicação do Sistema Natural de Linneu (Systema Naturae), publicado em 1735, sendo um fator determinante para que essa mudança de perspectiva pudesse acontecer. Contudo, sua intenção em apontar esse deslocamento científico é, na realidade, para mostrar como o professor de Königsberg não foi influenciado por Lineu, já que como o autor aponta, apesar de Kant usar Lineu como base em sua classificação geográfica, Kant não fez nenhum trabalho de campo, seu único objetivo em ministrar as palestras era permitir a orientação correta dos alunos no mundo (Reinhardt, 2001: 105).

Após as críticas Reihnardt, ele parece reconhecer no final de sua argumentação que a geografia é um dos textos mais longos de Kant sobre a problemática do mundo, e fornece uma base para uma compreensão melhor dele – apesar de seus pontos nevrálgicos. Com esse reconhecimento seria impossível não perceber que apesar de indicar o que existe de problemático na obra, ao mesmo tempo ele reconhece o que ela tem de importante. O autor aponta de boa vontade que sem essa base sólida, não poderia ser desenvolvido outros aspectos importantes da filosofia de Kant. É como se o jovem filósofo partisse sistematicamente para conhecer o máximo possível sobre o mundo físico antes de passar a perguntas mais fundamentais sobre como sabemos o que sabemos. Sem esse pano de fundo, ele não teria sido capaz de escrever seus outros ensaios "científicos" e talvez também os grandes trabalhos filosóficos. É claro que existem erros de fato e, obviamente, Kant entendeu muitas coisas erradas; devemos lembrar, no entanto, que ele também acertou muitas coisas. E parece-me que um deles é que ele estava lançando as bases para um método de investigação na Geografia que o levaria a coisas maiores (Reinhardt, 2011)


Reihnardt entende que Kant errou e acertou em muitas coisas, mas de fato estabeleceu bases sólidas em relação a sua investigação da geográfica o que o levou a coisas grandiosas, ou até maiores que essas citadas, seu interesse não é apenas histórico e tampouco descritivo, é um fôlego de entender o mundo, ordená-lo em procurar seu lugar nele, tento como fio condutor o conhecimento do mundo (Weltkenntniß).


Ter o Conhecimento do Mundo (Weltkenntniß)


Poderíamos nos perguntar por que a geografia é tão crucial para o desenvolvimento das ideias de Kant a respeito da antropologia? A resposta parece estar no que ele diz na Einleitung für die physische Erdbeschreibung, em que Kant no diz que o mundo é o todo, o cenário (Schauplatz) onde nossas experiências acontecem, é a base sobre o qual nosso conhecimento é adquirido e aplicado (Kant, 2012: 04). O mundo se apresenta como o teatro no qual as experiências se desenvolvem, mas não é tão simples assim. Para que essas experiências possam se desenvolver de acordo com um fim, Kant oferece como apoio um duplo sentido de mundo – enquanto objetos dos sentidos, um externo (Natur) e outro interno (Seele) Alma ou o Homem (Mensch). O externo, corresponderá a geographie e o interno a anthropologie, juntas elas constituem o conhecimento do mundo (Weltkenntniß), é com isso que temos de interpretar o mundo, enquanto essas duas descrições (So wie wir indessen einen doppelten Sinn haben, einen äußern und einen innern: so können wir denn auch nach beiden die Welt). É válido ressaltar que a distinção entre sentido externo e sentido interno é entre geografia e antropologia. A distinção que ele faz entre geografia e história nesse trabalho é secundária, pois é uma distinção que

pertence apenas ao sentido externo. Portanto, em relação à geografia, a história é inteiramente a história da natureza. Por outro lado, há uma história, concebida como história moral, que se relaciona à antropologia (May, 1970)


Ora, se o mundo possuí uma dupla interpretação ou forma de considerá-lo, e essa dupla interpretação é assegurada por duas disciplinas distintas, mas que ambas são formas de compreender o homem e o mundo, fazendo com que Kant já anunciasse a antropologia como parte complementar de seu primeiro curso, mesmo que de forma indireta.


É sabido que as experiências da natureza e do homem estão unidas e juntas constituem o conhecimento do mundo (Weltkenntniß), mas para conhecer o mundo é preciso mais do que apenas vê-lo enquanto um agregado de várias experiências que iremos ter. A descrição física da terra é, portanto, a primeira parte do conhecimento do mundo. Pertence a uma ideia que se chama propedêutica do conhecimento para chamar o mundo. O conhecimento, ao que tudo indica, não podem se constituírem como um agregado porque devem ser um sistema, uma vez que o todo precisa estar antes das partes, o que propõe uma certa chave de leitura: a ideia de uma arquitetônica. Ele concorda que essa seria uma condição de todas as ciências, e a ideia arquitetônica no sentido de criar as ciências: para criar uma casa, ele diz, se faz a ideia de um todo e as partes é que são derivadas (Kant, 2012: 158). Sobre a arquitetônica do conhecimento Conceição considera o seguinte que o conhecimento do mundo é concebido como um sistema que conecta os cursos de Antropologia e de Geografia, pois ambos são pensados como lições introdutórias dele, ou seja, como doutrinas introdutórias de um sistema que fazem parte. Isso faz sentido, pois segundo o autor as experiências que nós temos da natureza e do homem constituem juntas o Conhecimento do mundo, a primeira é tematizada pela Geografia e a segunda pela Antropologia (Conceição, 2017).


O Weltkenntniß proposto pelas duas disciplinas está atrelado a uma ideia de preliminar, um exercício, em relação ao sujeito, um exercício que ele próprio precisa fazer. Em outras palavras, estamos inseridos no mundo e podemos conhecer sua constituição enquanto um exercício e um sistema de que fazem parte. Quando esse conhecimento se constituí dessa forma é necessário que ele possa ser expandido, para que o desenvolvimento do homem continue. Nesse caso, esse conhecimento do qual falamos é expandido pelo contato com outras pessoas, ou em palavras mais precisas, pela história (Geschichte) e pela geografia, ambas como ferramenta dessa ampliação. A história, como entendida por Kant, preocupa-se com o jogo do comportamento humano "em geral", e não com ocorrências individuais. O conhecimento deste último, presumivelmente, é o papel do "conhecimento comum". O ensino principal de Kant, no entanto, é que a história, distinta da filosofia da história, é uma disciplina empírica (May, 1970)

A primeira, de acordo com Kant, diz respeito a uma descrição no tempo (Zeit) e a segunda, uma descrição do espaço (Raume). Considerar que o tempo (Zeit) o espaço (Raume) são fatores determinantes parece ser um pequeno retorno à Crítica já que o filósofo determinou essas condições, quando ele tratou da possibilidade do conhecimento. Desse modo, sobre espaço ele nos apresenta que através do sentido externo (uma propriedade de nossa mente) nós nos representamos os objetos como fora de nós, e todos eles no espaço. Aí são determinadas, ou determináveis, sua figura, sua quantidade e sua relação recíproca. O sentido interno, por meio do qual a mente intui a si mesma ou a seu estado interno, não fornece, de fato, nenhuma intuição da alma mesma como um objeto; ele é, no entanto, a única forma determinada sob a qual é possível a intuição do seu estado interno, no sentido de que tudo o que pertence às determinações internas é representado em relações de tempo (Kant, 2006: 37).

Já sobre o tempo ele indica que não se trata de um conceito empírico que tenha sido derivado de alguma experiência. Pois a simultaneidade e a sucessão (Zugleichsein und Aufeinanderfolgen) não se apresentariam à percepção caso a representação do tempo não lhes servisse a priori de fundamento. Somente sob a sua pressuposição se pode representar que algo seja em um mesmo e único tempo (ao mesmo tempo) ou em diferentes tempos (um após o outro) (Kant, 2006: 46).

A intenção de Kant ao nos apresentar os conceitos referidos é nada mais que estabelecer as relações temporais justamente na dimensão fenomênica, essa dimensão fenomênica, por sua vez, tem embasamento na tese da Idealidade Transcendental do tempo, uma vez que sua dimensão temporal permite que os conceitos possam ser inteligíveis. A tese da Idealidade Transcendental nos permite perceber que o espaço (Raume) e o tempo (Zeit) são os conceitos que justificam o fenômeno e a coisa em si: o fenômeno enquanto objetos representacionais e coisa em si (Ding an sich) cujo estado não pode ser determinado por uma intuição pura. A intenção de fazer referência a essas duas importantes passagens está no fato dela nos possibilitar pensar a geographie também em relação à crítica, assegurando sua validade dentro do sistema, e não como algo periférico.

Contudo, no curso de geographie ele não apresenta essas mesmas considerações sobre espaço e tempo, apenas diz que a história (Geschichte) são eventos que ocorrem um após o outro no tempo (Zeit) e a geografia são os fenômenos que acontecem sucessivamente, no espaço (Raume) (Kant, 2012: 161). Primeiro é necessário consideramos o fato de a Crítica ter sido publicado em 1781/87 em suas respectivas edições, e com isso, nos é permitido dizer que as considerações sobre como se dá, qual sua possibilidade extensão do conhecimento já estavam, de certa forma, estabelecidas. Em 1802, quando a edição do curso veio à tona, Kant retornou a sua conhecida concepção de conhecimentos – mais especificamente sobre as condições de possibilidade dele, usando isso como fundamento para tratar da geographie. Em segundo lugar, ao que tudo indica, se Kant não tivesse anunciado que iria ministrar um curso sobre a anthropologie, o exercício preliminar do conhecimento do qual ele mencionou ficaria incompleto, o que fundamenta a necessidade fazê-lo, ou seja, fornecer um curso complementar.


A geographie, portanto, é o instrumento que ele usa para tematizar não só o homem, mas o seu objeto de conhecimento sistemático, porque seu objetivo é esse, conhecer. Com isso, ela é uma disciplina propedêutica do Weltkenntniß e, sendo útil à vida, prepara para o exercício da razão prática (Durmaier, 2014, p. 85). O intuito é fazer com o que o aluno se torne mais preparado para a vida e, de alguma forma, consiga fazer pleno uso dos conhecimentos adquiridos. Por conta disso, é possível interpretar que a geographie emerge de um ângulo de um estudo empírico da natureza, (Sanguin, 1994). Fato que se coaduna perfeitamente com a necessidade de relacionar esse conhecimento através das relações de tempo (Zeit) e espaço (Raume), sugerindo que ambos admitem coisas.


A leitura do curso apresenta ao leitor que as palavras escritas ali fomentam um olhar multifacetado. O curso não apenas é o instrumento do Weltkenntniß, que por sua vez, já é parte complementar da anthropologie, mas também prepara o estudante para vida e permite que ele possa conhecer sua morada, isto é, o teatro de suas experiências. A letra de Kant, a geografia é a propedêutica que visa um conhecimento do homem como ele é, que pode ser encontrado e confirmado posteriormente na Antropologia (Sanguin, 1994). Geografia à guisa da antropologia é um modo de definir o conhecimento que o homem pode ter a respeito do mundo. Ele não só precisa do conhecimento do mundo (Weltkenntniß) ele precisa se tornar também um cidadão do mundo (Weltbürgers).


Entre a geografia e a antropologia: ser um cidadão do mundo (Weltbürgers)

A antropologia foi ensinada no semestre de inverno em Königsberg em 1772/73 com término em 1796. As palestras ministradas por Kant a respeito de sua antropologia, como já citadas anteriormente, formam, segundo sustenta (Jacobs, 2003) “a sua mais popular oferta acadêmica, em termos de atendimento, interesse e acessibilidade”, diferentemente de seus outros escritos, dos quais possuíam uma escrita menos acessível dificultado a compreensão de suas ideias por parte do público externo. A carta a Marcus Herz de 1773, confirma que oferecerá um curso de antropologia, o qual pretendo transformar em uma disciplina acadêmica própria... expor através dela as fontes de todas as ciências, ciências da moral, ou habilidade, do convívio social, dos métodos de educar e governar seres humanos, e assim, de tudo o que pertence ao prático.... Incluo muitas observações da vida comum, de forma que, meus leitores terão muitas oportunidades para comparar sua própria experiência com as minhas considerações e assim, do início ao fim, achar as aulas divertidas e nunca áridas. Em meu tempo livre, estou trabalhando em um exercício preparatório para alunos a partir desse (na minha opinião) muito

prazeroso estudo empírico (Beobachtungslehre) da habilidade, prudência, e até sabedoria que, junto com a geografia física e diferente de toda outra instrução, pode ser chamado de conhecimento do mundo (Kant, 2012: 145-46)


Com o anúncio da antropologia na presente carta percebemos a intenção de Kant de torná-la uma disciplina acadêmica que expusesse as fontes de todas as ciências e, principalmente, dos métodos de governar e educar os seres humanos em sentido pragmático - semelhante com o anúncio do curso referido anteriormente. Nesse sentido, o homem é educado e tem como seu próprio fim os conhecimentos e habilidades que servem para o uso no próprio mundo (Kant, 2007: BA III).

Temos habilidades e conhecimentos que se aplicam no mundo porque o homem é o seu fim, e em vista disso, não temos apenas um tipo de conhecimento sobre o homem, mas dois tipos sendo eles, o fisiológico – do qual é rejeitado veemente por Kant, e o pragmático. Enquanto o primeiro se fundamenta do ponto de vista dos fatos empíricos, voltando para a investigação do que “a natureza faz do homem” o pragmático tem seu progresso construído em torno das ações do sujeito, ou seja, investiga o que “o homem faz de si mesmo” (Kant, 2007: BA IV).


Já se descortina que existem dois polos diferentes sobre o conhecimento a respeito do homem, percebemos que, enquanto o a antropologia fisiológica é movida por causas naturais, das quais modificam o objeto e permitem que ele seja impulsionado, a antropologia pragmática não segue o mesmo caminho. O conhecimento do ponto de vista fisiológico conhece as factualidades empíricas, enquanto o conhecimento pragmático conhece realidades que podem ter efeito sobre as nossas ações (Wilson, 2006, p. 29). Por outro lado, o conhecimento pragmático, Kant aponta que para ampliar a memória ou torná-la ágil, ele utiliza as percepções sobre o que considerou prejudicial ou favorável a ela, e para tanto precisa do conhecimento do ser humano, isso constitui uma parte da antropologia de um ponto de vista pragmático, e precisamente desta nos ocupamos aqui (Kant, 2007: 121-21)

O pragmático indica que o homem precisa ser educado, para que possa se tornar um cidadão do mundo (Weltbürgers), por isso o ensino da antropologia não pode permanecer no campo meramente teórico, porque conhecimentos precisam ser aplicados. Esse conhecimento em sentido pragmático é formado pela geografia física e pela antropologia, e juntas formam o chamado conhecimento de mundo (Kant, 2007: 7-122). Logo, a antropologia em sentido pragmático se constitui enquanto as ações do homem como ser que age livremente, auxiliado pelos meios de determinados conhecimentos, uma vez que ele recebe formação dupla, isto é, na escola e no mundo. Destarte, o sentido da antropologia pragmática é trabalhar com um conhecimento do ser humano, para que ele se torne o cidadão do mundo (sie Erkenntnis des Menschen als Weltbürgers enthält). O aluno precisa conhecer muito bem todas as informações que recebe na escola, precisa pensar criticamente para estar preparado para a aplicação desses saberes no mundo.


A geografia é genuinamente uma descrição de coisas relacionadas a lugares e, certamente, a diferença entre esses lugares. Ela ajuda a ampliar o conhecimento do mundo (Weltkenntniß), é uma propedêutica, que vê seu terreno ser ampliado, posteriormente, pela antropologia. Já ficou expresso que o conhecimento sobre a nossa morada é mais do que essencial, sem ele não saberíamos nos orientar, prosseguir, progredir.

Os dois cursos, quando analisados nos permitem levantar reflexões bastante interessantes a respeito e, sobretudo, percebermos como o homem e o conhecimento representam algo complexo. Sua descrição da natureza não parece estar relacionada somente a pressupostos descritivos, em outras palavras, sem nenhum objetivo claro. Na realidade, Kant tem objetivos claros quanto aos dois cursos, e os descreveu para o bom leitor, que ao averiguar atentamente a geografia e antropologia, percebe como ambos estão relacionados para fundamentar a formação do sujeito, mostrando como sua filosofia pode ser multifacetado.

 

Conclusão


Ao início do texto levantamos quatro perguntas, sendo elas (1) por qual razão a geografia seria essencial para a antropologia, (2) quais são as implicações do curso no que diz respeito a autenticidade da obra e problemas de tradução que dificultam a compreensão da geografia à letra de Kant, (3) o que Kant traz de novo nesse curso de geografia e como ele está estruturado e (4) qual é a possível relação de curso referido para a antropologia. Como o esperado, não esgotamos pergunta alguma – o que é um bom sinal, apenas podemos considerar pontos importantes, sendo eles, a geografia se não considerada essencial, pode ser olhada como ponto de partida para o desenvolvimento da antropologia, visto que no próprio texto da antropologia há um resgate de um conceito já levantado antes, o de conhecimento de mundo (Weltkenntniß), por exemplo.


Porém, mesmo avançando de uma obra a outra (antropologia e geografia) ainda nos vemos amarrados as pertinentes considerações sobre os problemas de compreensão de geografia, visto que as notas são feitas a partir de anotações de alunos que, na época, eram ouvintes assíduos dessas palestras, e após o compilado dessas notas, como era de se esperar, são difíceis de serem contextualizadas. Todavia, Kant pode não ter inovado ao limite quando o seu novo curso, já que ele não foi o primeiro a lecioná-la, mas com certeza inovou em um ponto significativo, o de trazer para a geografia uma reflexão filosófica, em que o aluno se vê, praticamente obrigado a primeiro, questionar como é sua relação com o mundo em que vive, bem como a natureza e qual o seu papel nela e em segundo, deixar de ser um mero expectador a respeito e fazer algo. Na antropologia isso é desenvolvido com cautela porque a intenção é que o homem faço algo de si mesmo e seja um cidadão do mundo (Weltbürgers), desse modo, talvez não haja uma relação explícita de um curso e outro, mas relação tímida, através de pequenos detalhes deixados pelo autor, em que se nota que objetivos diferentes foram traçados para cada curso, mas que dê certa forma se unem quando é preciso voltar e analisar novamente qual é o papel do sujeito.


Existe um espaço a ser explorado pela geografia, e nossa experiência é expandida através dela, a geografia pode ser vista como um convite, sobre a possibilidade de nos expandirmos, e sermos melhores. Kant em diversas vezes deixou claro o seu objetivo de fazer com a geografia é um conhecimento necessário que ajuda o homem a ser melhor, que ajuda o aluno a ser melhor, o ajuda a pensar com clareza. O autor, ao anunciar seu curso, deixou claro a sua intenção em apontar que os alunos precisam pensar por si mesmo, precisam ampliar seus horizontes, e sobretudo, conhecer sua própria morada. Esse ponto, em específico, para o autor configurava uma defasagem no ensino, da qual ele queria consertar através de palestras que tampassem essa lacuna, oferecendo um conteúdo amplo a respeito. Essa necessidade de querer ampliar os horizontes de seus alunos através do conhecimento é a o resultado de um Kant professor e suas aulas expressavam isso de forma consciente. Ele pretendeu atrair pessoas, aguçando sua curiosidade, tal qual a curiosidade de um viajante que procura saber e conhecer mais.


O lamento de Kant por conta do ensino só se compara a sua vontade de mudá-lo, propondo uma pedagogia criativa, característica de seu gênio criativo. E logicamente, a geografia não pôde fazer tudo sozinha, ela precisou da antropologia como parte complementar de um objetivo que Kant já havia dado início, a antropologia vai continuar esse movimento de auxiliar os alunos a se orientarem para a vida.


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