PROMETEICA - Revista de Filosofia y Ciencias – ISSN: 1852-9488 – nº 32 – 2025 10
Entendemos que a busca por ser “algo” ou “alguém” semelhante ou igual ao mundo ocidental está
diretamente relacionado à dimensão ontológica da colonialidade do poder (Quijano, 2005; Restrepo,
Rojas, 2009), resultando na negação do próprio “ser” e na busca incessante por um “ideal”. Nesse
sentido, o desafio decolonial, sob essa perspectiva, parte da compreensão de luta e transformação
contínua (Walsh, 2013). Essa transformação deve ser pensada não apenas em uma escala global, ou seja,
considerando as condições em que a sociedade se encontra, mas também no âmbito individual, à medida
que o sujeito se reconhece como um “ser” com características próprias, imerso em uma cultura e com
uma postura que reflete esses aspectos.
Vale ressaltar que esse debate não necessariamente diz respeito a se reconhecer ou não como um
indivíduo decolonial, mas a conhecer e valorizar aquilo que, de fato, nos constitui enquanto indivíduos
e cidadãos: significados, manifestações e representações da nossa própria realidade.
Bem, entendemos que o processo de constituição do indivíduo como “ser” nesse sistema-mundo é algo
complexo e de muito debate, mas também nos parece pertinente refletir de que modo esse “ser” que
vivencia a realidade no qual está inserido produz o conhecimento, isto é, Ciência.
Diante disso, abordamos outra dimensão da colonialidade do poder: a colonialidade do saber. Para
Restrepo e Rojas (2009), essa dimensão se trata de uma arrogância epistêmica, na qual o mundo ocidental
se apresenta como o “moderno” e se considera como o “possuidor dos únicos meios válidos de acesso à
verdade”. Mas, afinal, como esse fenômeno nos afeta? A produção científica latino-americana estaria
orientada principalmente para atender às demandas do mundo ocidental?
A concepção do fazer científico, ou seja, da Ciência, sempre esteve atrelada à perspectiva ocidental. Por
exemplo, ao pensar em grandes nomes da história da Ciência, frequentemente lembramos de figuras
como Isaac Newton, Antoine Lavoisier, Henry e Marie Curie, Pitágoras, entre tantos outros que
marcaram avanços significativos e rupturas paradigmáticas no universo científico. No entanto, é curioso
que, ao pensar em Ciência, sempre somos levados ao mesmo referencial geográfico e cultural:
A unidade de significado TERRA.P2.08 e TERRA.P2.09, respectivamente, diz que:
Mas o meu grupo de pesquisa do lúdico - até tem doutores lá - fala que o pensamento sistematizador aconteceu
na Grécia, e que foi lá que surgiu a ciência, lá que surgiu o pensamento sistematizado. Eu falei: “Então os
outros povos viveram milhares e milhares de anos sem nenhum pensamento sistematizado? Eles simplesmente
“viveram”? Viveram assim, ao léu, né? Assim, sem perspectiva nenhuma, sem racionalização nenhuma, sem
pensar, sem ciência, sem nada?”.
Eles “vivendo” milhares e milhares de anos, construindo e conseguindo se alimentar, desenvolvendo uma
arquitetura de forma incrível, uma cultura, arte, enfim, política. Sozinhos né? Como se eles não fossem capazes
de racionalizar o pensamento.
Em sua fala, Terra levanta uma questão interessante sobre a constituição do pensamento. Essa reflexão
nos permite questionar como os demais povos viveram e sobreviveram sem o chamado “pensamento
sistematizado”, ou seja, sem a “ciência” ocidental. Ora, se o berço do conhecimento e do saber foi
estabelecido na Grécia, como os outros povos desenvolveram suas culturas e sociedades em diferentes
regiões? Diversos estudos têm explorado essas discussões, evidenciando que a produção científica nunca
esteve restrita a uma região específica. Pelo contrário, a diversidade do fazer científico sempre esteve
profundamente relacionada às demandas das sociedades nas quais foi produzida.
Por exemplo, trazemos também outras produções para esse debate, como por exemplo os estudos de
Gómez-Fierro et al. (2022) e Valtierra-Galvan et al. (2019) em que eles enfatizam a importante
reconhecer que, antes da colonização, várias práticas relacionadas com o que hoje conhecemos como
química, já eram realizadas pelos dos povos originários latino-americanos e, algumas delas, continuam
sendo praticadas até os dias de hoje. Entre essas práticas, podemos citar a produção de bebidas
alcohólicas, como la chicha (Gómez-Fierro et al., 2022), e o uso de plantas, fungos organismos marinhos
e outros recursos na medicina tradicional mexicana, que se baseia em saberes ancestrais e na interação