PROMETEICA - Revista de Filosofia y Ciencias. 2025, v. 32


Artículos


https://doi.org/10.34024/prometeica.2025.32.19994


HÉRCULES

12 DIMENSÕES PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL


HERCULES

12 dimensions for environmental education


HÉRCULES

12 dimensiones para la educación ambiental


Neila Schulz Reiser

(Universidade do Vale do Itajaí – Brasil)

neila_reiser@hotmail.com


Bruna Carolina de Lima Siqueira dos Santos

(Universidade do Vale do Itajaí – Brasil)

bruna.santos@univali.com

Recibido: 23/801/2025

Aprobado: 08/05/2025

 


RESUMO


Este estudo, a partir da fruição do mito de Hércules e seus dozes trabalhos, tem por objetivo cartografar signos mitológicos que contribuem para o território existencial da Educação Ambiental - EA. Para cada trabalho do herói é apresentado um significado didático e sua respectiva dimensão que pode ser explorada na educação ambiental, na perspectiva dos estudos sobre epistemología e racionalidade ambiental de Enrique Leff (2006, 2014). Destacamos as dimensões cartografadas: bem comum, consumo sustentável, equidade, democracia, diálogo, paixão pela vida, saúde mental, outridade, coexistencia harmônica, criar e agir com responsabilidade, sustentabilidade espiritual. Tais dimensões pretendem reforçar o compromiso da educação, em especial a ambiental, e de melhorar a relação do ser humano com a natureza. Como resultado, apontamos que as narrativas populares, a exemplo dos mitos gregos, são um convite para uma experiência literária que repercuta em conhecimento criativo e significativo, que pode educar ambientalmente.


Palavras-chave: Mitologia. Educação ambiental. Hércules.


ABSTRACT


This study, based on the enjoyment of the myth of Hercules and his twelve labors, aims to map mythological signs that contribute to the existential territory of environmental education

- EE. In each hero's work, the didactic meaning and respective dimension that can be explored in environmental education are presented, from the perspective of studies on epistemology and environmental rationality by Enrique Leff (2006, 2014). The mapped dimensions, among which we highlight the common good, sustainable consumption, equity, democracy, dialogue, passion for life, mental health, otherness, harmonious coexistence, creating and acting with responsibility, spiritual sustainability, intend to reinforce the

commitment to education, in especially environmental, to improve the relationship between human beings and nature. As a result, we point out that popular narratives, such as Greek myths, are an invitation to a literary experience that results in creative and significant knowledge, which can educate environmentally.


Keywords: Mythology. Environmental education. Hercules.


RESUMEN


Este estudio, basado en el disfrute del mito de Hércules y sus doce trabajos, tiene como objetivo mapear signos mitológicos que contribuyan al territorio existencial de la educación ambiental - EA. En la obra de cada héroe se presenta el significado didáctico y la respectiva dimensión que puede explorarse en la educación ambiental, desde la perspectiva de los estudios sobre epistemología y racionalidad ambiental de Enrique Leff (2006, 2014). Las dimensiones mapeadas, entre las que destacamos el bien común, el consumo sostenible, la equidad, la democracia, el diálogo, la pasión por la vida, la salud mental, la alteridad, la convivencia armoniosa, crear y actuar con responsabilidad, la sostenibilidad espiritual, pretenden reforzar el compromiso con la educación, en especial ambiental, para mejorar la relación entre el ser humano y la naturaleza. Como resultado, señalamos que las narrativas populares, como los mitos griegos, son una invitación a una experiencia literaria que redunda en conocimientos creativos y significativos, que pueden educar ambientalmente.


Palabras: Mitología. Educación ambiental. Hércules.


Introdução


Homens fortes, intrépidos e belos de alma, mente e corpo, mesmo que não tenham sido assim, da maneira como queira a fantasia humana

naqueles tempos antigos e míticos, de todo modo eles existiram.

(Stephanides, 2016, p.3)


Como surgiram as primeiras explicações sobre o homem belo de alma, mente e corpo, ou sobre o Universo, numa época em que não se tinha livros ou cientistas? Sato e Passos (2009) explicam que em todos nós há um imaginário capaz de criações simbólicas e construções de objetos ausentes. Esta criação leva-nos a qualificar o mundo, pessoas e as coisas mediante uma aura simbólica atribuída, em grande parte, por nós mesmos. Qualificar o mundo e as coisas por meio dessa aura simbólica, é uma possibilidade criativa de moldar a experiência, interpretar e dar sentido ao mundo.


Pontuamos que uma das formas que a civilização humana encontrou para qualificar coisas e a si própria foi através de narrativas, e que quando essas narrativas contam um acontecimento ocorrido no tempo primordial (o tempo fabuloso do princípio), com Entes Sobrenaturais, descrevendo irrupções do sagrado (sobrenatural) no mundo, elas são consideradas mitos (Eliade, 1972).


Tem-se que a função do mito consiste em revelar modelos exemplares de ritos e atividades humanas como: alimentação, casamento, trabalho, educação, arte ou sabedoria. Por exemplo, uma comunidade que vive da pesca, vive desse modo porque “nos tempos míticos, um Ente Sobrenatural ensinou seus ancestrais a apanhar e a cozer os peixes. O mito conta a história da primeira pescaria, efetuada por um Ente Sobrenatural, e dessa forma revela simultaneamente um ato sobre humano” (Eliade, 1972, p. 13).


O ensinamento da pesca, a nutrição dos pescados pode ser consignada resultado de um evento mítico, que, assim como a ciência, tenta compreender os fenômenos do mundo, embora de maneiras particulares e instrumentos próprios (Sato, Passos, 2009). Para Salis (2003), a beleza das narrativas mitológicas reside no fato de que, por serem fantásticas e ambíguas, exigem nossa participação e tomada de posição nos cobrando, de certa forma, coragem para viver, e não simplesmente sobreviver.

Como toda expressão cultural, os mitos tornaram-se parte intrínseca da identidade da humanidade, revelando como o sujeito olha o mundo, sente e atua nele. Entre assombrações, lendas, monstros e tantos outros encantamentos, alguns mitos protegem a natureza, outros explicam fenômenos sociais, de modo que, sob um olhar mais complexo, podem ser aliados na educação ambiental (Sato, Passos, 2009). Este artigo, a partir da leitura do mito de Hércules e seus dozes trabalhos, pretende cartografar possíveis signos mitológicos que contribuem para o território existencial da Educação Ambiental – EA.


Em que pese inúmeros mal-entendidos sobre a história de Hércules, como a ideia de que força física e conhecimento formam o indivíduo, os dozes trabalhos realizados pelo herói1 podem ser considerados possibilidades de refinamento espiritual e criador, ou seja, “um aperfeiçoamento interior para que se pudesse imitar e se assemelhar aos deuses na imensa obra da criação”, já que não é atributo do homem a morte e a destruição, mas sim o cultivo da vida (Salis, 2003, p. 150), e que ambas, vida e criação, são pressupostos da EA.


A escolha do método cartográfico se justifica pela possibilidade de construir conhecimento com a narrativa mitológica (e não sobre ela), no qual a experiência acaba sendo um gatilho para decolagem interpretativa em busca das formas puras e claras (Alvarez, Passos, 2009) de saberes, nesta pesquisa, da educação ambiental. Dessa maneira, a experiência literária da pesquisadora se dá na busca de possíveis encontros do saber mitológico com o saber ambiental2.

Passos, Kastrup e Escóssia (2009), na obra Pistas do método da cartografia, reuniram oito pistas que orientam o trabalho do pesquisador-cartógrafo. São pistas que não formam uma totalidade e podem se conectar umas às outras sem qualquer ordem hierárquica, como um rizoma. Neste estudo escolhemos a pista 7: cartografar é habitar um território existencial (Passos, Kastrup e Escóssia, 2009), diante da possibilidade de habitar os trabalhos de Hércules, traçar relações e compor interpretações que visam a construção de aprendizado ambiental.


Alvarez e Passos (2009, p.135) explicam que a pesquisa cartográfica “é menos a descrição de estados de coisas do que o acompanhamento de processos. É “movimento em transformação”, uma pesquisa com algo. Neste estudo, concebemos a leitura da narrativa mitológica como movimento/pesquisa de aprendizado para o pesquisador/fruidor, que, ao engajar-se no território existencial dos significados didáticos dos mitos, pode compor expressivos elementos norteadores de saberes ambientais, conforme é demonstrado a seguir.


Hércules, o herói que educa ambientalmente


Naqueles tempos, os homens atribuíam os rumos de todas as questões importantes aos desígnios dos deuses do Olimpo.

(Stephanides, 2016, p.7)


Os gregos acreditavam que os fenômenos da natureza e até os valores da vida, como sabedoria e justiça, estavam atrelados à existência dos deuses. E perceberam que Zeus tinha intenção de ver unidos os Estados helênicos, quando ele decidiu ser pai de um herói que, munido de alguns poderes, seria capaz de trazer paz aos reinos. Embora contrariando a esposa Hera, Zeus gerou um filho com a mortal Alcmene e profanou:


[...] ele passará por tanta dor e sofrimento que até me angustia [...], mas também realizará doze grandes trabalhos e muitos outros feitos maravilhosos, e será exaltado e admirado como nenhum outro deus ou


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1 Na mitologia, um herói é uma figura central, geralmente dotada de qualidades extraordinárias, que enfrenta desafios grandiosos, simbolizando valores culturais e a luta humana contra adversidades.

2 O saber ambiental problematiza o conhecimento científico e tecnológico que foi produzido, aplicado e legitimado pela racionalidade formal dominante, e se abre para novos métodos, capazes de integrar os aportes de diferentes disciplinas, para gerar análises mais abrangentes e integradas da realidade global e complexa, na qual se articulam processos sociais e naturais de diversas ordens de materialidade, assim como saberes inseridos em distintas matrizes de racionalidade (Leff, 2006, 281).

homem jamais foi. E quando sua vida na Terra chegar ao fim [...] tornar-se-á imortal (Stephanides, 2016, p. 17-18).


Dessa forma, os trabalhos correspondiam a etapas de transcendência, degraus consagrados para roda de evolução da vida. Salis (2003) reforça que cada degrau era consagrado a cada um dos deuses, podendo ainda serem conhecidos como as dozes evoluções do zodíaco.


Criado pelo padrasto Anfítrion, Hércules teve acesso aos sábios, artistas e ginastas notáveis da época, o que lhe conferiu o domínio da literatura, astronomia, filosofia, música, artes marciais, além das estratégias de guerra, garantindo-lhe atributos para além da força física. Ocorre que Hera resolveu transformar o ressentimento causado pela traição de Zeus em vingança e, no intuito de causar mal, perseguiu Hércules quase que por toda sua vida. Um dos atos de sua maldade foi turvar o raciocínio do herói levando-o a confundir seus filhos com monstros, o que culminou na morte da própria prole (Stephanides, 2016).


Terrivelmente abalado com o crime, Hércules recebe a missão de servir a Euristeu, um rei fanfarrão e desprezível. Confuso diante de tal proposta, recorre ao oráculo de Delfos, e obtém a seguinte resposta: “[...] fique a serviço de Euristeu. Ele ordenará que realize doze grandes trabalhos. Só quando tiver completado o último deles é que os deuses perdoarão seu crime contra seus filhos” (Stephanides, 2016, p. 34).


A princípio servir Euristeu parecia uma humilhação, no entanto, Hércules precisava se redimir do crime contra seus próprios filhos, e dá então início ao que compreendemos como uma jornada do herói. Sinzato (2003) explica que a jornada do herói é uma missão profundamente pessoal, marcada pelo esforço de a cada dia agir como ser humano integral. “Aquele que faz a jornada do herói adentra as terras da maestria intrapessoal, encontra o conhecimento de si mesmo, muda o olhar sobre si mesmo, sobre os outros e sobre o seu mundo e retorna transformado (Sinzato, 2003, p. 53).


Conforme mencionado, somente a imensa força física de Hércules era inútil para o cumprimento dos trabalhos, era preciso buscar outros recursos como a sabedoria, por exemplo, para arrancar o sujeito de um estado bárbaro e “dar-lhe a capacidade de ter limites, conhecer seus vícios e como governá-los, para que não seja por eles governado” (Salis, 2023, p. 152). Pontuamos que na concepção arcaica, a formação do sujeito se fundava na construção da consciência ética, assim


os três pilares para construção do homem civilizado [...] e da civilização naturalmente resumiam-se com muita clareza num único mandamento: o direito de nascer, viver e morrer com dignidade e honra. Esse era o objetivo primordial da Paideia, e é por onde toda educação do jovem deve iniciar-se, em qualquer época, em qualquer cultura (Salis, 2003, p. 153).


Diante das crises e dos danos ambientais advindos da ação antrópica que tem colocado em risco a própria existência humana, nascer, viver e morrer são direitos universais de igualdade da humanidade que têm caminhado com as lutas da educação ambiental num movimento pela construção de um futuro possível e sustentável.


Dessa forma, neste estudo, associamos a jornada de Hércules à jornada do sujeito que se educa ambientalmente, pois tanto a educação ambiental quanto o percurso desafiador do herói são possiblidades para formação integral do ser a partir de um novo olhar para si, para outros e para o mundo.


Sinalizamos que o saber ambiental não é tão somente uma resposta teórica mais adequada a um real social (a um referente empírico), mas o questionamento das teorias sociais que legitimaram e instrumentalizaram a racionalidade social prevalecente, na defesa de novos paradigmas do conhecimento para a construção de outra realidade social (Leff, 2014).


Ressaltamos que “os mitos não podem – e nunca quiseram competir – com a ciência e a razão” (Salis, 2003, p. 14). São portas para outra realidade: o mistério de viver, com seus dramas individuais e coletivos, angústias, medos, alegrias, anseios; e que o propósito deste estudo não é o de resgatar a educação arcaica, mas possibilitar o entrelaçamento do saber mitológico às práticas educativas

ambientais e à transformação do conhecimento para mudança da realidade, tal como os dozes trabalhos revolucionaram a vida de Hércules.


Doze dimensões mitológicas para Educação Ambiental


Hércules sentiu-se aliviado com as palavras do oráculo,

e afinal, sabia que caminho seguir.

(Stephanides, 2016, p.34)


Perda de biodiversidade, urbanização desordenada, contaminação da terra, água e o ar, refúgio, estão entre outros danos decorrentes da ação humana no planeta. Afinal, qual caminho seguir para a promoção de uma consciência responsável e coletiva? Indicamos que uma das vias é pela educação ambiental, e que a compreensão dos dilemas socioambientais pode se dar pelo conhecimento que brota dos mitos, a partir de uma rede de aprendizagens significativas.


Dessa forma, a partir de cada trabalho realizado por Hércules alçamos cartografar elementos que contribuam para educação ambiental. Para avizinhar essas dimensões, conforme orientam Alvarez e Passos (2009), trouxemos a experiência obtida por estas autoras na fruição de cada mito, relacionando- a especialmente aos estudos de epistemologia e racionalidade ambiental3 do sociólogo Leff (2014, 2006), os quais promovem diálogo da filosofia com os mundos de vida4.

Inicialmente, cabe salientar que na jornada, o herói é “acompanhado e aconselhado em todos os trabalhos por Atená (deusa da sabedoria), Hermes (o deus que ensina a encontrar os meios e os caminhos) e Eros (o deus que ensina a fazer tudo com paixão e total dedicação)” (Salis, 2003, p. 157).


Atená nasceu da cabeça do pai Zeus e possuía a energia do pensar; Hermes, era condutor dos caminhos e possuidor da energia do agir; e Eros, deus da paixão, detentor da energia do sentir – todos impulsionadores de Hércules em sua missão na terra (Sinzato, 2003). Lembramos que o ambiente é objetividade e subjetividade, exterioridade e interioridade, falta em ser e falta de saber, e que ele não se ajusta a um conhecimento objetivo, sistemático ou totalitário (Leff, 2014); logo, pensar-sentir-agir é um movimento necessário para impulsionar nossa vivência na e com a natureza.


Retomando a jornada de Hércules, evidenciamos que Euristeu, no instante em que viu o tamanho e o aspecto severo do herói que traria glórias para seu reinado, entrou em pânico e logo providenciou uma difícil tarefa para que Hércules não pudesse aparecer nos portões de seu palácio outra vez, o primeiro trabalho: o Leão de Neméa (Stephanides, 2016).


O leão de Neméa era um animal de força descomunal e pele tão dura que aparentemente era invulnerável. Ao dominar o leão em sua caverna, Hércules bloqueia o surgimento de fortes emoções e “com a força da mente olha para as situações que potencializam a violência” (Sinzato, 2003, p. 102), optando por ser observador consciente de si mesmo e não apenas aquele que reage como o leão, numa proposta do governo da violência. Leff (2006, p. 322) adverte que “na sociedade do risco do mundo atual, a insegurança global está mais concentrada na guerra generalizada e na violência cotidiana que no perigo iminente de um colapso ecológico”. É preciso estar educado para domar o leão da violência social que ecoa dentro de nós e se manifesta em terrorismo, genocídio, xenofobia, pondo em risco o bem comum e a coletividade. Neste cenário, para superar essas monstruosidades sociais, a educação contribui instigando o desenvolvimento de habilidades e valores que ajudam a gerenciar as emoções de maneira construtiva e pacificadora.


Cumprido o primeiro trabalho, Hércules foi incumbido de matar a irmã do leão que foi morto (o segundo trabalho): a Hidra de Lerna, um monstro horrível e venenoso, com nove cabeças, sendo uma imortal, que vivia no pântano espalhando morte e destruição (Stephanides, 2016). As cabeças podem ser


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3 A racionalidade ambiental questiona a hipereconomização do mundo, o transbordamento da racionalidade coisificadora da modernidade e os excessos do pensamento objetivo e utilitarista (Leff, 2006).

4 Para Leff (2006, p.344), “mundos da vida” corresponde a: mundo objetivo, mundo social e mundo subjetivo.

consideradas os próprios vícios que tentam se multiplicar e nunca morrem. O mito indica que a tarefa eterna de Hércules e de todos sujeitos é a vigilância dos próprios vícios (Sinzato, 2003).


Tem-se que a crise econômica a partir dos anos 1960 mostrou evidente a irracionalidade ecológica dos padrões dominantes de produção e consumo, este último como um monstro que devora seus próprios desejos e os reintegra às suas entranhas. Os padrões dominantes de consumo já ultrapassaram a capacidade de carga e de diluição dos ecossistemas, levando a formas e ritmos sem precedentes de degradação ecológica, extinção biológica, erosão de solos e destruição de biodiversidade (Leff, 2006). Arrancamos da Terra o que ela não pode mais dar.


O consumo compulsivo, também conhecido como consumismo, é reconhecido como um diagnóstico patológico. A sociedade pautada no consumismo, contribui para que o indivíduo veja seu valor no seu consumo, reforçando a ideia da compra como algo prazeroso e indispensável e correndo o risco do desenvolvimento da patologia conhecida como oniomania, ou seja, compulsão por compras (Instituto de Psiquiatria do Paraná, 2024). Por analogia, podemos imaginar que o vício do consumo é uma das cabeças da Hidra de Lerna, que o indivíduo necessita governar como condição sustentável de sua existência.


A Hidra também pode ser interpretada como uma representação de problemas sociais, emocionais ou ambientais que parecem se multiplicar. Na Educação Ambiental, isso pode ser associado à luta contra a poluição ou a degradação ambiental, onde soluções inadequadas frequentemente geram novos problemas, como os créditos de carbono, postulados como novos direitos transacionáveis de contaminação (Leff, 2006).


Para Hércules, cada trabalho realizado era uma oportunidade de educar sua força com razão e sensibilidade. O terceiro trabalho imposto foi matar as aves do lago Estínfalo. As aves eram sanguinárias, tinham asas de bronze, bicos e garras de ferro, e estavam sempre prontas para devorar qualquer animal que se aproximasse do lago (Stephanides, 2016). Atená enviou a Hércules chocalhos ensurdecedores, alarmes da intuição, e o herói conseguiu matar os pássaros.


Os chocalhos de Atená são o alarme da intuição que nos alerta sobre nossos voos. As aves simbolizam nossos sonhos ou voos que, quando desmedidos, podem devorar tanto a nós quanto aos outros. O mito propõe o reconhecimento e o aprendizado do uso da intuição, praticando constantemente a arte de silenciar e escutar nossas subjetividades (Salis, 2003).


Na história da humanidade, vislumbramos que o voo desmedido do triunfo do progresso unitário, idealizado principalmente pelo capital, resultou em um processo de desterritorialização de etnias, extermínio da diversidade e degradação do ambiente vital. Defendemos que o sujeito que educa sua intuição é capaz de compreender a organicidade da humanidade e do planeta como um código de signos do saber a ser respeitado e preservado, de modo que sua atuação seja orientada pela equidade, sustentabilidade e democracia (Leff, 2014).


Para o quarto trabalho Euristeu pediu a Hércules a eliminação do javali de Erimanto, um animal veloz e feroz que não respeitava territórios ou fronteiras. Atená sugeriu vencer o javali pelo cansaço, e o herói perseguiu o animal na neve por dois anos. Uma tarefa longa, mas necessária, que significa exercitar diariamente “a demarcação das fronteiras da dignidade e da privacidade de si e do outro. [...] O mito ensina o respeito necessário para com as fronteiras e os limites de si e do outro” (Sinzato, 2003, p. 104), um movimento que perpassa pelo caminho do diálogo.


A falta de limites nas fronteiras da educação entre jovens e professores, pais e filhos ou entre sujeito e natureza pode ser semente da violência? O quarto trabalho pode ser interpretado como uma metáfora para a demarcação de limites pessoais e sociais. A captura do javali representa a necessidade de estabelecer fronteiras em nossas vidas, tanto em termos de dignidade pessoal quanto no respeito pelos outros. A falta de limites pode levar à violência e à desordem, tanto nas relações humanas quanto na interação com a natureza.

Para Salis (2003), atualmente a educação colhe os desastrosos frutos de uma modernidade imediatista e focada somente nos resultados. Nesse sentido, educar-se para respeitar aos limites de si e dos outros torna-se indispensável no diálogo construtivo dos saberes e da boa convivência.


Euristeu levou nove dias para se recuperar do choque de ver o herói com o javali selvagem nos ombros, e, pela primeira vez, Hércules não saiu imediatamente para realizar o trabalho seguinte podendo descansar para recobrar sua força. No décimo dia o rei revelou nova ordem: encontrar a corsa de Cerinita (quinto trabalho). Consagrada a Ártemis, a corsa era superveloz e nunca cansava, pois, seus cascos eram feitos de bronze, e sua cabeça era adornada por chifres de ouro. Sob o sol ou o frio cortante, durante um ano, Hércules perseguiu a corsa através das montanhas até chegarem ao rio Ládon (Stephanides, 2016). Enquanto o animal procurava um lugar para atravessar, o herói disparou uma flecha que imobilizou suas quatros patas, detendo-o no local.


Sinzato (2003) explica que os chifres de ouro do animal representam a sabedoria, e as patas, a busca material; logo, o ser humano deve descobrir seus talentos (sabedoria) e percorrer o bosque sem devastar ou destruir a natureza, afinal a busca deve estar focada na sabedoria, e não na inútil materialidade. Para Leff (2014), a sabedoria ambiental implica na compreensão do mundo que problematiza os saberes arraigados em cosmologias, mitologias, ideologias, teorias e práticas que se encontram nos alicerces da civilização, no sangue de cada cultura, no rosto de cada pessoa, e não em bens materiais. Até porque a ênfase excessiva em bens materiais tem levado a sociedade a uma desconexão com a natureza.


No sexto trabalho Hércules precisou limpar o esterco dos estábulos de Áugias, rei de Élis, jamais removidos. Sinzato (2003, p.103), ao afirmar que “O ser humano deve encontrar os meios, não só de manter o corpo limpo, mas também a psique (alma)”, explica que este desafio representa um trabalho civilizador porquanto está associado a limpeza do corpo e da mente.


Notamos que o ambiente exerce uma influência significativa positiva ou negativamente no bem-estar da psique humana, podendo atuar como fator de equilíbrio ou de desequilíbrio. Essa relação encontra respaldo no significado didático do mito de Hércules, que nos ensina sobre a importância de 'limpar' a mente diariamente para enfrentar os desafios da vida com lucidez e força interior. Evidências científicas apontam que a exposição a certos tipos de poluição do ar, especialmente partículas finas (PM2.5) e gases tóxicos como dióxido de nitrogênio (NO2), esta associada a sérios riscos de saúde mental, incluindo o aumento da prevalência de doenças como depressão, demência, ansiedade e até comportamentos suicidas (PNUMA, 2019). Esses impactos não estão limitados ao indivíduo, mas reverberam em comunidades inteiras, comprometendo o bem-estar coletivo.


Nesse contexto, compreendemos a Educação Ambiental como promotora da saúde mental e física, ao engajar indivíduos e comunidades na busca por soluções sustentáveis que combatam a poluição do ar e outras formas de manifestação de degradação ambiental. Além de instigar a tomada de consciência sobre os efeitos nocivos da poluição, a EA, compele práticas transformadoras, como a transição para sociedades sustentáveis, a exemplo de meios de transporte alternativos, o aumento de refugios verdes nas cidades e a adoção de políticas públicas voltadas à mitigação de emissões. Essas ações contribuem para a melhoria da qualidade de vida urbana, promovendo não apenas um corpo saudável, mas também uma mente equilibrada e resiliente. Assim, ao abordar a relação entre saúde mental e ambiental, a Educação Ambiental reafirma seu papel essencial como promotora de um equilíbrio integrado entre ser humano e natureza, fundamentado em princípios de sustentabilidade e bem-estar coletivo.


Com metade dos trabalhos já realizados, Hércules recebe sua sétima missão: capturar o touro que assolava os campos de Creta e levá-lo vivo, pelo mar Egeu, para Micenas (Stephanides, 2016). A proposta pedagógica deste feito é o ser humano domar sua força bruta (touro) pela alternativa da luz, pelo diálogo e entendimento. “O mito ensina que os instintos ligados à brutalidade e à sexualidade primitiva devem ser governados e domados” (Sinzato, 2003, p. 104). Quando não educados, esses instintos podem ressoar em eloquente submissão, em opressão, e até holocausto.

Recordamos as relações de dominação sofridas pelos povos originários, grande parte fruto de brutalidade primitiva e desgovernada, que paralisaram não somente falas, mas histórias e memórias. A educação ambiental, a exemplo do significado didático do touro de Creta, e com fundamento na complexidade, diferença e outridade5, tem buscado ressignificar as tradições e identidades destes povos, na busca pela emancipação dos sentidos reprimidos pela história de conquista (Leff, 2014).


O ato de direcionar ou usar de forma inteligente a força física ou o poder de algo de maneira eficaz e sem excessos também está associado ao oitavo trabalho do herói: domar as éguas de Diômedes. Alimentadas com carne humana, essas éguas dizem respeito aos limites da fraqueza humana. O amor ingênuo é devorador da individualidade. É necessário estarmos alertas para não cairmos em paixões que nos devoram ou aniquilam, uma propositura da arte de amar superando o amor ingênuo (Salis, 2003).


Pensamos que, sustentado pelo atual sistema econômico, “o conhecimento posto a serviço da produtividade e a ganância romperam a relação do saber com a trama da vida” (Leff, 2006, p.322). Um amor ingênuo pelo conhecimento que destrói a vida através de guerras, extinção de biomas, disputas geopolíticas, entre outros danos. Por consequência, o saber ambiental tem como um dos propósitos reconectar o sujeito à natureza com princípios éticos e valores culturais, de modo que, educado, possa resistir à ilusão de possuir desmedidamente, ou à paixão que devora a própria vida.


Os feitos de Hércules já tinham tornado seu nome conhecido em todo mundo, e em nenhum momento o herói esqueceu o motivo pelo qual deveria cumpri-los: o perdão dos filhos injustamente mortos (Stephanides, 2016). Em Micenas, uma nova ordem o aguardava: trazer o cinto de Hipólita, símbolo da autoridade e poder da rainha das amazonas. O trabalho consistia em persuadir uma pessoa íntegra para concessão sem força do objeto requerido, uma postura de mostrar-se verdadeiro, abrir os braços e o coração aos outros. “O mito ressalta o verdadeiro erotismo, aquele que abre as portas para a construção do ser social, que ama o mundo e o outro” (Sinzato, 2003, p. 104).


O cinto se abre pela nobreza, beleza e bondade. O amor não reside em aparências ou ilusões, mas na verdade de si e do outro. Que verdade reside na relação humanidade e natureza? Tal como o cinto de Hipólita, a relação do sujeito com a natureza também deve ser orientada por uma apreciação profunda por sua beleza e pelos bens que ela nos oferece. O amor verdadeiro pela natureza não se resume em usar, explorar, dominar, mas em cuidar e reconhecer a beleza intrínseca de cada elemento natural.


No próximo trabalho Euristeu despacharia Hércules para os mais remotos limites do mundo, para a ilha de Erítia, onde pastava o gado do gigante Gérion. O gado estava frequentemente associado à riqueza e ao poder na antiguidade, representando a acumulação de bens materiais. “É justamente isso o que esses bois significam: terra e posse material. Superar a prisão às coisas materiais será o aprendizado desse trabalho” (Stephanides, 2016, p. 164). Hércules deveria trazer os bois a Micenas e resistir à tentação de se apoderar de alguns, uma aprendizagem do desapego.


Assim, o décimo trabalho de Hércules pode ser entendido como a luta humana para transcender o materialismo e as limitações impostas pelo apego às posses terrenas. A missão não é apenas sobre obter os bois, mas sobre a capacidade de resistir à ganância e compreender o poder e a liberdade que vêm do desapego. O mito serve como um ensinamento atemporal sobre a importância de buscar valores mais elevados e significativos do que a mera posse material.


Ponderamos que posse, privatização de florestas, função socioambiental e terras indígenas são temas recorrentes nos debates sobre justiça social, sustentabilidade e uso adequado da terra. Daí a importância de educar a sociedade ambientalmente para que, de forma generosa, seja capaz de redefinir os direitos humanos vinculados a posse, propriedade e usufruto dos bens e serviços da natureza. Aventuramo-nos


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5 Leff explica o termo “outridade”, de sua autoria (2006, p. 15): “Ao longo deste livro (como fiz em publicações anteriores) utilizarei a palavra outridade (otredad em espanhol) para me referir e explorar o conceito fundamental da obra de Emmanuel Levinas, ao qual ele próprio se refere usando a palavra alteridade. O próprio texto haverá de justificar a introdução deste conceito no discurso filosófico — ainda desconhecido pelos dicionários — guando quisermos nos referir ao encontro com o Outro — o absolutamente outro — que não se conforma com os sentidos que foram atribuídos pelo discurso filosófico — do pensamento dialético ao pensamento pós-moderno — e na fala corrente, á alteridade.”

a afirmar que este movimento é um desapego necessário para equilibrar direitos individuais de propriedade com responsabilidades coletivas e sociais.


Hércules, em sua longa cadeia de trabalhos e algum sofrimento, seguiu para cumprir o penúltimo desafio: trazer três pomos de ouro do Jardim de Hespérides. Os pomos eram maçãs da árvore que a deusa Terra deu a Hera como presente de casamento. A macieira era protegida pelo dragão Ládon de cem cabeças, das quais só metade adormece de cada vez, mantendo a vigia ininterrupta (Stephanides, 2016).


Os pomos representam a chave da fecundidade física e espiritual, ou seja, o conhecimento do bem e do mal e o acesso à luz interior de nosso poder criador. “São de ouro porque são incorruptíveis, e este deverá ser o caminho da nossa energia criadora” (Salis, 2003, p. 165). Essa incorruptibilidade indica que a energia criadora, quando cultivada em harmonia com a verdade (nono trabalho) e o bem, é eterna e pura, livre de influências negativas. O acesso a esta energia direciona nossas ações para uma criação consciente que, alinhada com a verdade universal, melhora nossa relação com a complexidade do mundo natural.


Para conclusão dos trabalhos, Euristeu enviou Hércules ao reino das profundezas e das sombras, e designou o último desafio: capturar Cérbero, o cão dos portões de Hades, guardião para que nenhum morto escapasse e retornasse à superfície. “Descer vivo ao reino dos mortos já era algo inacreditável, mas voltar de lá com Cérbero como prisioneiro soava além dos limites da imaginação mais delirante” (Stephanides, 2016, p. 121).


O cão representava o limite da morte, um passo à espiritualidade. Capturar Cérbero simboliza o enfrentamento dos medos mais profundos e das realidades inevitáveis da vida, como a morte. Na educação ambiental, isso pode ser interpretado como a necessidade de confrontar as consequências de nossas ações no meio ambiente, como a destruição de habitats e a extinção de espécies (realidades inevitáveis).


Para Sinzato (2003, p. 105) capturar Cérbero significa morrer para saber viver, ou seja, “a tarefa do ser humano é encontrar esse cão terrível dentro de si e domá-lo com nobreza, beleza e bondade [...], pois somente quem tem a coragem para descer ao seu próprio inferno, sem armas, é que pode se libertar da morte e de seus tremores”.


A metáfora “morrer para saber viver” pode ser associada a uma jornada espiritual, à morte do ego ou do eu material, para que uma parte mais elevada de nós se manifeste em um senso maior de consciência dos impactos das ações humanas no planeta e o compromisso com a preservação da biodiversidade.


Conforme descrito no oitavo trabalho, nobreza, beleza e bondade também eram capazes de destravar o cinto de Hipólita e de igual forma são valores que podem conduzir as ações humanas no mundo natural, tendo em vista que a sustentabilidade é acima de tudo uma prática emocional e espiritual. Veja-se que o conhecimento do mito, em si mesmo, não garante bondade nem moral, mas revela modelos e significação ao mundo e à existência humana. Graças ao mito, despontam ideias de realidade, de valor, de transcendência e, como almeja a educação ambiental, a partir dele o mundo pode ser discernido como um cosmo articulado, inteligível e significativo (Eliade, 1972).


A conclusão do décimo segundo trabalho põe fim à jornada do herói, que finalmente ganha o perdão dos deuses. “Dez anos havia se passado desde que ele ficara a serviço de Euristeu. Dez anos terríveis de sofrimento, mas cheios de feitos gloriosos” (Stephanides, 2016, p. 121). Defendemos que não foi somente uma jornada de perdão pela morte dos filhos, mas o acesso a um novo modo de existir no mundo, que redimensionou as atividades psicofisiológicas (Eliade, 1972) do herói, e que, de igual forma, pode reorientar a relação do ser humano com o planeta, conforme demonstrado na figura que segue:

 

Figura 1: Dimensões mitológicas para educação ambiental

 

Diagrama

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Fonte: Elaborada pelas pesquisadoras.

Segundo a Figura 1, quando mergulhamos no universo plural de ações realizadas pelo herói, encontramos significações didáticas que podem repercutir em dimensões para educação ambiental. Um movimento que pode se dar no pensar-sentir-agir (sabedoria – paixão – caminhos) do sujeito que apaixonado pela vida (superar o amor ingênuo), prima por saúde mental (limpeza corpo-mente), consumo sustentável (vigilância vícios), sustentabilidade espiritual (morrer para viver) e interage no ambiente com diálogo (limite de si e dos outros), democracia (intuição), outridade, equidade (domar força), equilíbrio de direitos (desapego), enfim, percebe a humanidade e a natureza como um único arranjo de vida, de coexistência harmônica (verdade).


Ao longo de seus trabalhos, Hércules interage com diversos elementos da natureza, como animais selvagens e ambientes naturais. Nessa interação, aprende a importância de agir com responsabilidade (bem x mal) e considerar as consequências de suas ações, o que é fundamental para a prática ambiental. Ademais, o herói percebe que a força física sozinha não é suficiente para enfrentar os desafios, sendo necessário um entendimento mais profundo das dinâmicas naturais e sociais. Por semelhança, pensamos nas questões ambientais que, por sua complexidade, exigem abordagens múltiplas e integradas para resolução de desafios.


Por fim, vemos na jornada de Hércules etapas para formação do sujeito. Salis (2003) descreve como quatro os degraus da formação do homem grego: o primeiro (primeiro, segundo e terceiro trabalhos) associado ao domínio da violência, dos vícios, das virtudes e à aquisição de limites; o segundo (quarto, quinto, sexto trabalhos) refere-se à descoberta de talentos, ritos de higiene física e mental e ao amadurecimento da intuição iluminada; o terceiro (sétimo, oitavo e nono trabalhos) é dedicado à educação da sexualidade e à arte de amar; por fim, o quarto degrau (décimo, décimo primeiro e décimo segundo trabalhos) envolve a arte da criação, o desapego e a conquista da espiritualidade. O sujeito espiritual pratica para si e para o outro, “o direito de nascer, viver e morrer com dignidade honra” (Salis, 2003, p. 168).


Cada etapa da jornada reflete a necessidade de desenvolver consciência crítica, habilidades práticas e uma ética que valorize a interconexão entre todos os seres, logo, sugerimos que ao fruir os dozes trabalhos de Hércules com o olhar da epistemologia ambiental o sujeito pode educar-se ambientalmente.

Reflexões sobre mito e educação ambiental


A força de Hércules é a primeira que se apropria da força do mundo ou, antes, dialoga com ela (Stephanides, 2016, p. 183)


Hércules passou por situações-limite contra figuras monstruosas e sobrenaturais, dialogando com complexidade física, natural, social do mundo em luta pela sobrevivência. Inversamente, o ser humano ao deixar sua pegada no planeta, tem impondo situações-limite à natureza, ameaçando os recursos ambientais e, CONSEQUENTEMENTE, a sua própria existência.


Na busca por práticas ambientais que aprofundem a compreensão da relação entre humanidade e a natureza, cada tarefa de Hércules pode ser associada a um significado didático e a desafios reais que a humanidade precisa superar para alcançar uma convivência harmoniosa com o planeta. Assim como Hércules aprende e se transforma ao longo de suas jornadas, a Educação Ambiental deve promover um processo de aprendizado contínuo que valorize saberes ancestrais e instigue transformações pessoais e coletivas.


Este estudo sugere que os mitos (não só os gregos), podem ser incorporados ao contexto educacional, promovendo um diálogo dinâmico entre o pensamento, sentimento e ação. Narrativas mitológicas encapsulam sabedoria cultural, tradições e valores compartilhados, permitindo que as sociedades compartilhem suas visões de mundo e compreensões sobre a vida, o que contribui para uma história não linear, mas a compreensão de construção e posição de sujeitos em diferentes momentos históricos. Além disso, os mitos estimulam a imaginação e a criatividade, possibilitando a exploração de realidades alternativas e a formulação de novas ideias para resolver problemas contemporâneos. Por fim, os mitos educam ao fornecer uma estrutura narrativa que auxilia na compreensão do mundo, de nós mesmos e nossas interações com os outros e com a natureza, servindo como uma forma de comunicação universal que transcende o tempo e o espaço.


Referências bibliográficas


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