https://doi.org/10.34024/prometeica.2024.30.18861

 


ESTAR VIÚVA

O DESENHO-ESTÓRIA-TEMÁTICO COMO RECURSO PARA INTERVENÇÃO AO LUTO POR MORTES REPENTINAS DOS COMPANHEIROS


BEING WIDOW

The thematic-story-drawing as resource for intervention for grief about sudden death of their partners


SER VIUDA

El dibujo temático-cuentario como recurso de intervención en el duelo por muertes súbitas de compañeros


Ana Julia Murari de Amorim

(Mestrado Profissional em Práticas Institucionais em Saúde Mental

Universidade Paulista – UNIP, Brasil)
psi.anajuliamurari@hotmail.com


Selma Aparecida Geraldo Benzoni

(Mestrado Profissional em Práticas Institucionais em Saúde Mental

Universidade Paulista – UNIP, Brasil)
selma.benzoni@docente.unip.br

Recebido: 14/06/2024
Aprovado: 14/06/2024

 


RESUMO

A viuvez vai além da perda física e do estado civil, a pessoa passa por um processo de busca de sentido para a nova realidade. Neste estudo, objetivou-se analisar o desenho-estória- temático como recurso para compreender a situação de luto em viúvas por morte repentina do companheiro. Foi utilizado o método clínico-qualitativo. Participaram seis viúvas, com morte repentina dos companheiros nos últimos 2 anos, com idade entre 34 e 52 anos, e com filhos de 0 a 18 anos dependentes delas. Utilizou-se como instrumentos: duas entrevistas semiestruturadas e o desenho-estória-temático com uma sessão de devolutiva. Os resultados foram agrupados em quatro categorias de análise: relacionamento amoroso e luto – duas participantes viviam um novo relacionamento; maternidade no processo de viuvez – todas as participantes anularam o seu luto para cuidar da dor dos filhos, colocando-os como o centro de sua vida; rede de apoio – uma viúva não pode contar com rede de apoio desde a morte do marido e duas puderam contar com os familiares e amigos inicialmente, mas após a perda dos pais se tornaram a rede de apoio da família; reelaboração da perda após a realização do desenho-estória-temático – todas as participantes perceberam o desenho como um bom recurso para compreender sua dor. Concluiu-se que o desenho-estória foi um manejo terapêutico que auxiliou na elaboração do luto, possibilitando às viúvas uma visão de si, contribuindo para sua saúde mental.


Palavras-chave: luto. viuvez. maternidade. relacionamento conjugal. técnicas psicológicas.

ABSTRACT

Widowhood goes beyond the physical loss and marital status, the person goes through a process of searching for meaning in the new reality. In this study, the objective was to analyze the thematic-story-drawing as a resource to understand the grief situation in widows due to the sudden death of their partner. The clinical-qualitative method was used. Six widows have participated, all of them having the sudden death of their partners in the last 2 years, age between 34 and 52 years old and with children aged 0 to 18 that dependent on them. The instruments used were: two semi-structured interviews and the thematic story- drawing with a feedback session. The results were grouped into four categories of analysis: romantic relationship and grief – two participants were in a new relationship; motherhood in the widowhood process – all participants canceled their grief to take care of their children's pain, placing them as the center of their lives; support network – one widow has not been able to count on a support network since the death of her husband and two were able to rely on family and friends initially, but after the loss of their parents they became the family's support network; re-elaboration of the loss after carrying out the thematic-story-drawing – all participants perceived the drawing as a good resource to understand their pain. It was concluded that the story-drawing was a therapeutic approach that helped in the elaboration of grief, enabling widows to see themselves, contributing to their mental health.

Keywords: grief. widowhood. motherhood. marital relationship. psychological techniques.


RESUMEN

La viudez va más allá de la pérdida física y del estado civil, la persona atraviesa un proceso de búsqueda de sentido a la nueva realidad. En este estudio, el objetivo fue analizar la temática-cuento-dibujo como recurso para comprender la situación de duelo en viudas por la muerte súbita de su pareja. Se utilizó el método clínico-cualitativo. Participaron seis viudas, con muerte súbita de sus parejas en los últimos 2 años, con edades comprendidas entre 34 y 52 años, y con hijos de 0 a 18 años a su cargo. Se utilizaron los siguientes instrumentos: dos entrevistas semiestructuradas y el dibujo temático del cuento con sesión de retroalimentación. Los resultados se agruparon en cuatro categorías de análisis: relación romántica y duelo (dos participantes estaban en una nueva relación); maternidad en el proceso de viudez – todas las participantes cancelaron su duelo para hacerse cargo del dolor de sus hijos, colocándolos como el centro de sus vidas; red de apoyo: una viuda no ha podido contar con una red de apoyo desde la muerte de su marido y dos pudieron depender inicialmente de familiares y amigos, pero después de la pérdida de sus padres se convirtieron en la red de apoyo de la familia; reelaboración de la pérdida después de realizar el dibujo- historia-temática – todos los participantes percibieron el dibujo como un buen recurso para comprender su dolor. Se concluyó que el dibujo del cuento fue un abordaje terapéutico que ayudó en la elaboración del duelo, permitiendo a las viudas verse a sí mismas, contribuyendo a su salud mental.

Palabras clave: duelo. viudez. maternidad. relación conyugal. técnicas psicológicas.


Introdução

Na sociedade contemporânea, a mulher tem ocupado diversos espaços sociais e de posicionamento social. No entanto, questiona-se sobre os sentimentos e as ações das mulheres ao se tornarem viúvas em situação repentina, assim como se o desenho-estória-temático pode contribuir para o processo de elaboração do luto.

O luto

O luto é um processo posterior à perda de um objeto de amor, que ocorre em virtude de morte, rompimento amoroso, perda de um animal de estimação, diagnóstico de doenças ou mudança de vínculo. Ao mesmo tempo que é um processo natural, lento e doloroso, é, também, um processo ativo, esperado, dinâmico, íntimo e, muitas vezes, depende de reconhecimento social (Mazorra, 2009), singular e não linear, no qual cada pessoa tem a sua forma de agir e processar o momento doloroso (Kovács, 2003).

Sabe-se que o luto pode ocorrer por diferentes perdas do objeto de amor, nesta pesquisa, o enfoque será no luto por morte – fenômeno da vida que desperta medo e desespero no ser humano. Para Worden (2013), é importante observar cinco elementos básicos relacionados à morte: 1) a morte é universal, afeta todos os seres vivos; 2) é algo irreversível e não tem solução; 3) diz respeito ao não funcionamento do corpo, ou seja, deixa de existir sinais vitais; 4) é um acontecimento incontrolável; e, por último, 5) pelos conhecimentos científicos, é o final da vida.

Desde a década de 1990, o modelo do processo de luto tem sido repensado com base na teoria desenvolvida por Margaret Stroebe e Henk Schut (1999) como uma extensão do modelo de estágios de luto proposto por Elisabeth Kübler-Ross (2005). O modelo desenvolvido por Stroebe e Schut (1999) considera o processo dual do luto, no qual há o pressuposto de que as pessoas enlutadas vivenciam simultaneamente duas tarefas de luto distintas, que podem ser chamadas de “orientação para a perda” e “orientação para a restauração”.

A orientação para a perda envolve o processo de perceber e suportar a própria dor da perda e processar as emoções, aceitar a realidade da perda e encontrar maneiras de se adaptar a ela. Inicialmente, as pessoas enlutadas podem experimentar sentimentos de choque, negação, raiva, tristeza e até mesmo culpa. Essas emoções podem se manifestar de maneiras diferentes em cada indivíduo e não seguem uma ordem fixa (Stroebe & Schut, 1999).

A orientação para a restauração refere-se à adaptação a uma vida sem a pessoa que foi perdida. A tarefa de restauração ajuda as pessoas a reconstruírem sua vida e a encontrarem significado após a perda, podendo incluir a reorganização de papéis e responsabilidades, a busca de novas conexões sociais e a construção de uma nova identidade após a perda (Stroebe & Schut, 1999).

O modelo do processo dual do luto enfatiza que essas duas tarefas não são, necessariamente, sequenciais, mas podem ocorrer simultaneamente ou alternar entre as tarefas ao longo do tempo, dependendo da jornada individual de luto (Stroebe & Schut, 1999).

O luto pode ser classificado como normal ou complicado. No modelo normal, é comum que o indivíduo enlutado apresente momentos de ansiedade e dor psíquica intensa, que podem ser iniciados nas horas seguintes à notícia da morte, mas que não perduram, ocorrendo em momentos específicos, como o contato com lembranças, fotografias, datas comemorativas e aniversário de morte (Figueiredo & Almeida, 2019). No modelo de luto complicado (Bowlby, 1973/1993), o indivíduo pode desenvolver patologias físicas e psíquicas, mostrando dificuldade em reorganizar a vida social e emocional. Um dos fatores que pode influenciar no processo de luto é a amplitude da perda na dinâmica familiar (Kübler- Ross, 2005). Segundo Rubio, Wanderley & Ventura (2011), quando ocorre a morte do marido, além da vivência do luto, frequentemente há um acúmulo de tarefas administrativas, afetivas e sociais para a esposa, o que se intensifica quando o casal tem filhos, pois muitas vezes a mulher assume o papel de principal provedora da família (Parkes, 1998).

Considerando que a perda por morte é um momento difícil e que necessita de elaboração, Menezes (2017) alerta que, na sociedade ocidental brasileira, as pessoas evitam conversar sobre a morte, desde os aspectos legais até os emocionais, o que contribuí para a vulnerabilidade na elaboração do luto.

Papel social da mulher

Na Idade Média, as visões sobre o feminino eram frequentemente permeadas por estereótipos e limitações. As mulheres eram vistas como seres subordinados, cujos papéis principais eram o de esposa, mãe, cuidadora do lar e do marido. Sua vida era altamente regulamentada pelas normas sociais e religiosas, e quase não exerciam influência política, econômica e social. As sociedades, muitas vezes, as viam como propriedade dos homens, e sua educação era frequentemente negligenciada (Zirbel, 2007).

A mitologia e a religião desempenhavam um papel significativo na construção da identidade feminina nas sociedades antigas. Muitas culturas tinham deidades femininas que representavam atributos como maternidade, fertilidade e sabedoria. No entanto, essas divindades eram frequentemente submissas a deuses masculinos e refletiam os papéis tradicionais de gênero (Damm, 2019).

Com o advento do Renascimento e a disseminação das ideias iluministas, houve uma mudança gradual na percepção das mulheres. As primeiras discussões sobre os direitos das mulheres e sua capacidade intelectual emergiram, mas ainda não se traduziam em mudanças significativas (Pereira & Cabral, 2018).

O século XIX viu o surgimento do movimento feminista, um marco fundamental na história das mulheres. Mulheres como Susan B. Anthony e Elizabeth Cady Stanton lideraram campanhas pelo direito de voto e igualdade de gênero nos Estados Unidos. Em outros lugares, mulheres buscavam educação superior e participavam ativamente do ativismo social (Álvares, 2018).

O século XX testemunhou avanços significativos para as mulheres. A conquista do direito de voto em muitos países, a entrada maciça das mulheres na força de trabalho durante as guerras mundiais e a luta contínua por igualdade de salários moldaram o cenário social. A revolução sexual e os movimentos pelos direitos reprodutivos também trouxeram à tona questões fundamentais relacionadas ao corpo e à autonomia das mulheres (Zanello, 2018).

Na sociedade contemporânea, assistimos a uma série de transformações profundas na percepção e no papel das mulheres. O movimento feminista, que ganhou força no século XX, desempenhou um papel fundamental na luta por igualdade de gênero e na desconstrução de estereótipos prejudiciais (Zanello, 2018). A história da evolução do papel da mulher na sociedade é uma narrativa de perseverança, luta e conquistas. Ao longo dos séculos, as mulheres enfrentaram desafios significativos, mas também conquistaram avanços notáveis em sua busca por igualdade, autonomia e reconhecimento (Jesus & Ghislandi, 2022).

No século XXI, as mulheres continuam a enfrentar desafios, incluindo desigualdade salarial persistente, violência de gênero e discriminação. No entanto, elas também alcançaram posições de liderança em governos, empresas e organizações não governamentais (Araújo, 2005). Portanto, na atualidade, as mulheres mostram-se mais ativas e menos dependentes dos homens, o que não significa que tenham atitudes semelhantes às deles, como pode ser observado no processo de luto vivenciado por homens e mulheres na sociedade ocidental diferenciado, visto as expectativas atribuídas a cada gênero (Rubio et al., 2011).

Segundo Rubio et al. (2011), a mulher que fica viúva enfrenta diversos desafios sociais, tendo suas responsabilidades aumentadas e assumindo papéis que até então poderiam ser de seus companheiros. Isso faz a viuvez de mulheres ir muito além da perda física e de ter um novo estado civil; ela acarreta um novo sentido à identidade das mulheres, principalmente aquelas que têm filhos.

A viuvez é considerada um estado civil, porém se faz necessário que seja vista como um fenômeno social e individual. O processo de enfrentamento do luto pela perda do cônjuge gera impactos difíceis na vida de uma viúva, principalmente daquelas que têm filhos e não podem contar com uma rede de apoio (Prizanteli, 2008).

Desenho-estória-temático como instrumento de psicodiagnóstico interventivo

O desenho-estória-temático é uma técnica que possibilita a exteriorização de conteúdos internos e facilita os processos de associação livre do examinando e de atenção flutuante do profissional, podendo encontrar aquilo que o paciente lhe comunica a respeito de sua vida emocional profunda. Em 1972, Walter Trinca propôs o desenho-estória como um meio auxiliar de investigação dos conflitos psíquicos apresentados pelos pacientes.

Segundo Trinca (1987), as técnicas gráficas projetivas têm uma aplicação que vai além da avaliação diagnósticas clínica, sendo ferramentas para explorar grupos específicos em relação a diferentes áreas de adaptação, como família, trabalho, sexualidade, autoimagem, entre outras (Lemos, 2007). O desenho- estória-temático é uma técnica lúdica e acessível não apenas para crianças, mas também para adultos. Trinca (2020) afirma que utilizar o desenho para realizar intervenções é uma excelente opção, pois permite que os conteúdos internos inconscientes sejam projetados, possibilitando a observação de movimentos do estado emocional. É um instrumento aberto que pode se adaptar de acordo com o conhecimento e não se restringe apenas a um enfoque, o que possibilita a avaliação sob o olhar de diferentes referenciais (Prudenciatti, Tavano & Neme, 2013).

Aiello-Vaisberg (1997) desenvolveu a técnica do desenho-estória com tema a partir das elaborações de Walter Trinca (1987). A utilização desse método apresenta algumas vantagens, segundo Aiello-Vaisberg (1997), como facilidade de manejo do pesquisador no momento da aplicação, bem como proporciona interpretações e análises sobre o registro do material, melhorando o aproveitamento de recursos humanos no projeto de pesquisa. A aplicação é realizada de forma individual e pode ser utilizada em situações nas quais o participante não consegue descrever em palavras o momento que está vivenciando; por meio da análise, o pesquisador tem condições de dialogar sobre a situação apresentada, o que possibilita a compreensão de conteúdos latentes expressando-se de forma afetivo-emocional (Vaisberg, 2020).

Como técnica projetiva, estimula a apercepção temática, considerando que, após a conclusão do desenho, o participante conta uma história sobre a sua produção gráfica. Essa técnica viabiliza a clarificação de elementos inconscientes e revela a posição do grupo de pertencimento frente ao objeto social representado (Coutinho; Serafim &Araújo, 2011). Em razão disso, escolher um tema para a aplicação do desenho-estória é uma motivação diante da necessidade de ampliar horizontes e conhecimentos sobre a utilização da técnica em pesquisas, levando em consideração o contexto, os participantes, o objeto de estudo, a teoria utilizada e as facilidades e os desafios na aplicação e na análise dos dados. Para a escolha do tema, é preciso que cumpra os requisitos ético e metodológico, nunca invadindo a pessoalidade dos participantes. Dessa forma, é preciso evitar danos, mesmo que momentâneos, a fim de oferecer benefício aos participantes (Visintin; Follador & Ambrosio, 2023).

A consideração ética em relação aos participantes já se faz presente ao criar um ambiente de entrevista de natureza transitória, o qual possibilita ao pesquisador reduzir de maneira substancial a probabilidade de surgirem reações ansiosas por parte dos participantes (Visintin et al., 2023). Esse enquadramento é projetado para lidar com a eventual influência do tema proposto, minimizando possíveis impactos emocionais. Portanto, a escolha do tema deve abranger aquilo que será investigado, sem entrar em conflito com os princípios epistemológicos que sustentam a pesquisa (Bleger, 1963/2018), além de não provocar ansiedade nos participantes. Em outras palavras, o tema selecionado deve abarcar o primeiro desafio sem causar desconforto (Visintin et al., 2023).


Objetivo

O presente estudo buscou analisar o desenho-estória-temático como instrumento disparador na reelaboração do luto de viúvas por morte repentina do companheiro, examinando a produção gráfica e verbal delas ao realizarem o desenho-estória-temático; compreender como as intervenções (devolutivas) realizadas com as viúvas, a partir da produção no desenho-estória-temático, contribuíram ou não para a elaboração do luto; analisar a percepção das viúvas sobre o processo de intervenção realizado; e refletir

sobre as possibilidades do uso desse procedimento em situações semelhantes como forma de contribuir para a elaboração do luto.


Método

Foi adotado o método clínico-qualitativo de pesquisa, que visou analisar e conhecer as particularidades das pesquisadas, deixando-as livres para verbalizações, compreendendo a lógica interna das participantes dando conhecimento de sua “verdade” (Minayo, 2012), utilizando vários referenciais teóricos para discutir a interdisciplinaridade de um conjunto de métodos para descrever e identificar os significados dados aos fenômenos relacionados à vida do indivíduo (Turato, 2013). O pesquisador que utiliza esse método é movido por atitudes de acolhida das angústias e ansiedades das pessoas, mostrando- se útil em casos de fenômenos que tenham certo grau de complexidade por se tratar de eventos íntimos e de difícil verbalização. O pesquisador procura uma relação face a face, valorizando as trocas afetivas e a interação pessoal, escutando tudo que o pesquisando tem para falar (Turato, 2013).

Participaram do estudo seis mulheres, tendo como critérios de inclusão: viúvas entre 30 e 55 anos cujos maridos tenham falecido de forma repentina nos últimos dois anos, que não estejam trabalhando e que tenham filhos de 0 a 18 anos.

Após a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa, foi realizada uma chamada via redes sociais (Instagram e Facebook) com o convite para participação no estudo. Foram realizadas quatro sessões individuais de aproximadamente 50 minutos, organizadas da seguinte maneira: 1) entrevista inicial semiestruturada, que possibilitou conhecer as informações de identificação das participantes, assim como colher a sua visão sobre o luto e avaliar as suas condições subjetivas para participar de forma colaborativa (Duarte, 2004); 2) aplicação da técnica do desenho-estória-temático, permitindo que a participante projetasse conteúdos internos utilizando a consigna: “A minha vida após a morte do meu companheiro”; 3) discussão sobre as temáticas levantadas na contação da história do desenho-estória- temático, possibilitando à participante refletir sobre os seus sentimentos em relação ao luto; 4) entrevista final com o propósito de investigar os benefícios ou não da técnica para a participante e sua participação na pesquisa e, quando necessário, realizar acolhimento e encaminhamento para psicoterapia.

Por se tratar de uma pesquisa clínico-qualitativa, as informações fornecidas foram encontradas a partir da subjetividade dos indivíduos em estudo. Nesse caso, a pesquisadora respeitou com fidelidade as falas das entrevistadas, considerando o significado que cada uma estabeleceu (Turato, 2013).

Esse material foi submetido à Análise de Conteúdo na modalidade temática (Minayo, 2012), que visa a ultrapassar o alcance descritivo da mensagem, os conteúdos manifestos, até atingir os conteúdos latentes, mediante a inferência, uma interpretação mais profunda dos fenômenos apresentados.


Resultados e Discussão

Cada ser humano está inserido em um determinado contexto social que tem significados e vivências individuais e subjetivas (Mazorra, 2009). Os significados sociais em relação à morte de uma pessoa querida podem facilitar ou dificultar o processo de enfrentamento do luto.

A idade das participantes variou entre 34 e 52 anos; todas elas tinham pelos menos um filho menor de 18 anos; somente uma era do lar, as demais exerciam atividades profissionais no mercado de trabalho. A morte do marido ocorreu há mais de 1 ano e 6 meses, exceto uma em que a morte ocorreu há 2 meses. Todos os companheiros morreram de complicações devido à covid-19.

Tabela 1 - Apresentada a caracterização das participantes quanto a idade, profissão, número de filhos, tempo de viuvez e causa morte do companheiro.



Codinome


Idade


Profissão


Número de filhos

Tempo de viuvez

Causa da morte do companheiro


Magnólia


46 anos


Do lar

4 filhos, sendo uma de 13 anos

1 ano e 7 meses

Complicações devido à covid-19


Violeta


46 anos


Administradora

2 filhos, um de 14 anos e uma de 11 anos

1 ano e 5 meses

Complicações devido à covid-19


Açucena


44 anos


Advogada

2 filhos, um de 16 anos e um de 4 anos

1 ano e 7 meses

Complicações devido à covid-19


Rosa


52 anos


Professora


1 filho de 10 anos


2 meses

Complicações devido à covid-19


Margarida


34 anos


Professora


1 filha de 4 anos

1 ano e 7 meses

Complicações devido à covid-19


Tulipa


36 anos


Farmacêutica

2 filhos, um de 6 anos e uma de 4 anos

1 ano e 8 meses

Complicações devido à covid-19

Fonte: Elaborada pelas autoras (2023).

A perda de uma pessoa vai além da perda física, pois diversas perdas acompanham a morte do ente querido. Em relação às mulheres participantes deste estudo, como visto na Tabela 1, pode-se supor perdas múltiplas, incluindo perda financeira, perda de momentos com os filhos devido ao aumento do tempo de trabalho externo à casa, perda do parceiro, do confidente, do amigo, do pai dos filhos, do parceiro sexual, da fonte principal de renda (para algumas), dos sonhos, dos bens construídos e da possibilidade de partilhar a educação dos filhos, como já relatado em estudo de Ducati (2005).

Ao realizar a análise dos dados obtidos, foi possível agrupá-los em quatro categorias: relacionamento amoroso e luto; maternidade no processo de viuvez; rede de apoio; e reelaboração da perda após a realização do desenho-estória-temático. Todas as participantes foram identificadas com nomes de flores com o propósito de manter o sigilo ético.


Relacionamento amoroso e luto

As mulheres, ao perderem seus companheiros (maridos), vivenciam a perda da conjugalidade por morte, que em um primeiro momento pode não ter sido uma perda de vínculo, em especial pela repentinidade do fato, necessitando de uma reestruturação psíquica, que se dará com a ressignificação (Mazorra, 2009).

Após a realização do desenho, Violeta conta: “Bom, essa história vai chamar minha nova vida, não é a vida que eu escolhi, mas que de certa forma foi imposta...”. Zanello (2018) propôs que o amor para as

mulheres pode ser compreendido por meio do dispositivo amoroso, no qual a condição de feminilidade está associada à possibilidade de ser escolhida por um homem para viver uma história amorosa junto a ele. Ser uma mulher desejável e escolhida por um homem, para muitas, é visto como central e primordial para ser aceita e legitimada socialmente. Ao se tornar viúva, a mulher precisa de uma reorganização, já que a pessoa que a escolheu não existe mais, e muitas relatam o sentimento de solidão.

Encontrar-se em um novo estado civil se torna desafiador – o estado civil de solteira nunca mais retornará (Worden, 2013). A dor sentida diante da perda de um cônjuge está relacionada com o vínculo conjugal, com a partilha, com sentimentos recíprocos e tudo o que construíram na trajetória como casal (Viegas, 2021).

Duas participantes relataram violências psicológica e patrimonial sofridas no casamento e como isso influenciou o processo de luto. Magnólia relatou ter sentido um grande alívio com o falecimento de seu esposo, pois vivia em uma realidade de violências psicológica e patrimonial, com sentimento de culpa por não ter sentido saudade da presença dele. Ela disse:

Então minha vida começou a ter cores, não é mais a coisa em preto e branco que eu vivia. ...é uma sensação de liberdade, mas ao mesmo tempo estranho. Eu perdi uma pessoa, a pessoa faleceu e eu vivi

28 anos com a pessoa. Mas assim, a sensação de completa liberdade. Hoje eu me sinto leve, principalmente pelo motivo que eu não preciso mais ouvir as barbaridades que eu ouvia...

A participante Açucena vivenciou episódios de violência psicológica, sendo menosprezada como profissional por ter a mesma profissão do marido. Após a morte dele, sentia dificuldade na educação dos filhos e falta do marido como pai, não como seu companheiro.

Essas duas participantes (Magnólia e Açucena) relataram, na entrevista inicial, que se encontraram em novos relacionamentos, mostrando que puderam acreditar ou desejar um novo relacionamento, permitindo-se vivenciar a possibilidade de serem desejáveis, mesmo que o relacionamento anterior não tivesse sido o idealizado e com vivência de violência. Açucena dizia estar passando por um processo de readaptação, pois havia entrado em uma nova família:

[...]foi mudando, mudou o ciclo de amizade, ciclo de família, hoje eu entro em outra família. É muito diferente entrar numa família com 25 anos do que hoje com 44. Já é uma família formada, já tem neto, já tem noras de mais de 20 anos e eu me sinto uma intrusa. Meus filhos não são nada deles” (família do novo namorado).


Viegas (2021) afirma que a perda da pessoa com quem um dia decidimos partilhar toda uma vida constitui um golpe bem rude nos sentimentos, nas emoções e nas expectativas que devotávamos ao sentido real da nossa existência: o amor. Diante dessa afirmação, as viúvas perderam um projeto de vida idealizado de forma dual, que foi rompido inesperadamente com a morte. Isso pode gerar uma grande angústia, que não permite seguir com os planos se o parceiro estiver morto (Viegas, 2021), mas elas podem criar planos após os sentimentos serem reelaborados.

A participante Margarida relatou o quanto diversos sentimentos apareciam após o falecimento de seu esposo. Ela viveu um relacionamento muito tranquilo, de muita cumplicidade. Margarida passou por essa situação inimaginável e inexplicável:

[...]e aí eu me sinto como um bolo de emoções como o medo, a revolta, a angústia, a gratidão por ter conhecido ele, mas geralmente os sentimentos melhores, para mim, talvez seja a minha forma de ver a vida, ou ainda seja uma fase do luto, são menores do que os sentimentos ruins. Esse medo, cansaço de ter ficado sozinha com uma criança ainda. Então esse bolo são todos esses sentimentos. É como se seu tivesse sido sugada por esse portal, e a Margarida antes de tudo isso era uma e agora é outra Margarida, outra vida.


Quando existe a conjugalidade, a ausência do parceiro desencadeia insegurança, medo de não conseguir criar os filhos e sentimento de incapacidade (Viegas, 2021), como ocorre com a participante Tulipa, que diz que sua vida não tem mais sentido sem o marido, pois ele foi uma pessoa que marcou muito a vida dela:

Nossa, eu acho que não tenho uma história feliz. Talvez se eu contar não seja uma história feliz. Não sei, a gente sente sozinha, perdida, por mais que a gente tenha as crianças, falta alguma coisa. Conheci meu marido quando eu tinha 21 anos, ele foi meu primeiro namorado, então tudo que a gente fazia era junto, desde acordar até a hora de dormir. Tinha nossa rotina, trabalhamos juntos 8 anos, ficamos mais grudados.


O luto por morte do cônjuge é uma fase de transição na qual o sobrevivente, no caso, a viúva, precisa criar uma identidade e apropriar-se da nova realidade. Até o momento de reelaboração, muitos sentimentos são vivenciados e o espaço para que outra pessoa faça parte de sua vida amorosa está associado a isso (Viegas, 2021).


Maternidade no processo de viuvez

A maternidade é um fenômeno social profundamente entrelaçado com a história da humanidade e tem desempenhado um papel central nas diversas culturas e sociedades ao longo do tempo. O conceito de maternidade não se limita apenas à biologia, mas também engloba aspectos sociais, culturais e econômicos que moldaram e continuam a moldar a experiência das mulheres como mães, que muitas vezes criam sua identidade por meio dela (Machado, Penna & Caleiro, 2019).

A associação entre a mãe biológica e a maternidade como aspecto sociocultural advém da Idade Média, em que a procriação era valorizada como uma contribuição fundamental para a comunidade e para a continuidade da linhagem. Em muitas culturas, as mulheres eram valorizadas principalmente por sua capacidade de dar à luz e criar filhos. A maternidade estava frequentemente ligada a noções de virtude e honra, e as mulheres que eram mães eram consideradas como cumprindo seu papel sagrado (Moura & Araújo, 2004).

Ao longo da história, as perspectivas sobre a maternidade evoluíram em resposta a mudanças sociais, econômicas e culturais. Durante períodos de industrialização, por exemplo, a dinâmica da maternidade se modificou em virtude do deslocamento das famílias para as cidades em busca de trabalho e da entrada na mulher no mercado de trabalho da indústria, levando a mudanças na forma de as mães cuidarem de seus filhos, muitas vezes enfrentando condições precárias de vida e de trabalho que afetavam sua capacidade de se dedicar exclusivamente à criação dos filhos (Moura & Araújo, 2004).

No século XX, com o avanço dos movimentos feministas e das lutas por direitos das mulheres, a maternidade tornou-se um terreno fértil para debates sobre autonomia, escolha e igualdade de gênero. As mulheres passaram a reivindicar o direito de decidir quando e como se tornariam mães, realizando, muitas vezes, planejamento com seu parceiro (Moura & Araújo, 2004). Zanello (2016, pp. 113-114) denomina o dispositivo materno a: “...um lugar de subjetivação no qual as mulheres são constituídas como cuidadoras ‘natas’. ...esse dispositivo se construiu historicamente, sobretudo a partir do século XVIII, momento no qual a capacidade de maternagem foi compreendida como desdobramento da capacidade de procriação”. A maternidade se refere à procriação, enquanto a maternagem se trata da capacidade de cuidar. Dessa forma, Zanello (2018) propõe que é necessário diferenciar os dois termos, pois a questão da maternagem pode estar presente em todos os seres humanos. Tal pontuação desmitifica a questão de que toda mãe tem um amor incondicional pelo filho, como já relatado por Badinter (1985) e Silva, Cardoso, Abreu & Silva (2020).

Essa visão das mulheres sobre a maternidade aparece nesta pesquisa ao relatarem o quanto era difícil lidar com o isolamento social (devido à pandemia de covid-19) e, ao mesmo tempo, ter a responsabilidade de lidar com as suas questões emocionais e as dos filhos. Após a viuvez, é uma jornada marcada por desafios emocionais, adaptação e coragem. Para mulheres que enfrentam a perda do parceiro enquanto estão criando ou criaram seus filhos, a experiência de ser mãe pode tomar um significado intenso e amplo.

Quando uma mãe se encontra nessa situação, ela muitas vezes se vê diante de uma série de responsabilidades e decisões que antes eram compartilhadas com o parceiro. A maternidade após a viuvez requer resiliência e capacidade de adaptação, pois a mulher é desafiada a assumir múltiplos papéis

sem o apoio que tinha antes, pois uma das principais preocupações para mães viúvas é proporcionar estabilidade e suporte emocional e financeiro aos filhos. Violeta, Açucena e Tulipa relataram que precisaram aumentar a carga horária de trabalho para manter o padrão de vida que tinham antes, enquanto Margarida e Rosa optaram por reduzir o tempo de trabalho e lidar com uma renda menor para poder dedicar mais tempo aos filhos e a dor deles, e apenas Magnólia permaneceu sem trabalhar fora, vivendo com a pensão do marido.

Diante de tantas reponsabilidades e novas funções assumidas por essas mulheres, elas não se permitiram vivenciar o luto por não tolerarem uma dor tão grande e se sentirem na obrigação de serem fortes para os filhos, priorizando cuidar da dor deles (Rego, 2012). A participante Tulipa disse, após 1 ano e 8 meses do falecimento do seu marido, que não conseguiu viver o luto por conta dos papéis que assumiu:

Às vezes passo o dia querendo chorar, mas não dá tempo, então eu acho que meu serviço e as crianças atropelaram meu luto. Eu vivo o luto todos os dias, o que eu deveria ter passado lá atrás, que eu não deveria estar nessa fase e eu ainda estou. Não dá tempo de processar tudo e igual eu falei, parece que ele está aqui.


Ao fazer os desenhos e contar as histórias, todas as mães participantes relataram que estavam sobrevivendo, trabalhando e se levantando diariamente por conta dos filhos, que eles eram a razão delas continuarem lutando.

[...]nunca senti uma dor tão forte no peito. Acho que foi o pior dia da minha vida. Mas ao mesmo tempo eu recebi tanto apoio... e também precisava seguir por conta dos dois filhos que eu tive... tenho meus filhos que são dependentes de mim ainda. (Violeta)


[...]ainda sinto muita dificuldade por conta dos meninos. Tem dias que eu falo que eu estou aqui por conta deles, se não minha vida não ia ter graça. Eu vivo porque tenho eles e sei que eles precisam de mim. (Açucena)


Para muitas mulheres, a maternidade é romantizada e idealizada. As participantes relatam o quanto esse fator pode ter sido um elemento para não pensar em sua dor e sentem que precisam vivenciar o amor maternal incondicional devido às imposições feita pela sociedade – de que a mulher deve se realizar na maternidade e sua sustentação e felicidade dependem dos filhos (Silva et al., 2020).


Rede de apoio

O luto é um procedimento mental que abarca o enfrentamento e a reorganização dos pensamentos sobre o indivíduo falecido, a privação da convivência e a rotina que se alterou devido ao óbito de alguém próximo. Além disso, o processo de luto envolve a adaptação a uma nova realidade, na qual a ausência do ente querido se faz presente no cotidiano de maneira impactante e transformadora (Almeida, Leitune, Seger, Terner & Silva, 2015). Nesse período, as emoções podem oscilar entre tristeza profunda, saudade intensa e momentos de reflexão sobre as memórias compartilhadas. É um momento de ajuste gradual à ausência física, no qual a pessoa enlutada busca encontrar maneiras de redefinir sua vida e encontrar um novo equilíbrio emocional diante da perda (Worden, 2013).

A existência de uma rede de suporte bem estabelecida se torna um elemento de suma importância. Essa rede pode desempenhar um papel crucial ao auxiliar a pessoa enlutada a encarar e sobrepujar essa fase desafiadora. O apoio emocional e prático oferecido por amigos, familiares, terapeutas ou grupos de apoio pode proporcionar um espaço seguro para expressar sentimentos, compartilhar lembranças e encontrar meios de lidar com a perda. Essa presença atenciosa pode ser um farol de esperança e força durante um momento tão sensível, possibilitando a reconstrução gradual da vida e a busca por um novo sentido após a partida do ente querido (Juliano & Yunes, 2014).

Duas das participantes, Violeta e Açucena, vivenciaram a perda próxima do marido e do pai, precisando de suporte, mas sendo suporte em especial para suas mães. A primeira pôde contar com os familiares do marido, com o irmão e com diversos amigos da família que sempre se colocaram à disposição para tudo

que fosse necessário. Açucena pôde contar com muitos colegas de profissão que a ajudaram, logo após o falecimento do marido, a se reestabelecer, além de amigos do casal e da família do marido, principalmente quando se tratava dos filhos.

Ocasionalmente, quando estamos envoltos em nossa própria angústia, a capacidade de enxergar as situações com imparcialidade pode ser desafiadora. Nesse contexto, amigos e familiares podem desempenhar um papel de extrema importância ao oferecer perspectivas valiosas. Por meio da partilha de lembranças positivas e das características admiráveis da pessoa que partiu, eles auxiliam a encontrar uma visão mais clara e significativa em meio ao que parece uma perda desprovida de sentido. Essa intervenção de apoio pode atuar como um catalisador para a reconstrução do entendimento da situação e a eventual aceitação da realidade, além de fornecer conforto durante essa jornada (Cotrim, 2017).

Ter a consciência de que as emoções são compreendidas e acolhidas por indivíduos que genuinamente se importam é um fator crucial para diminuir a intensidade de sentimentos de isolamento e solidão. Esse apoio proporciona à pessoa a valiosa sensação de que sua jornada emocional não é solitária. A percepção de que há outros que compartilham da mesma compreensão das suas emoções cria um senso de conexão, conferindo uma importante sensação de pertencimento durante um período de vulnerabilidade (Cotrim, 2017).

Para Franco (2002), a presença de uma rede de apoio social oferece um suporte essencial à demanda do indivíduo em luto, permitindo-lhe expressar sua aflição e reestruturar sua vida face à perda. No entanto, quando essa rede não está presente ou suas diretrizes são aplicadas de forma impositiva, desconsiderando as necessidades do enlutado, o resultado pode ser prejudicial, em vez de benéfico.

Magnólia foi a única participante que não teve rede de apoio. Por ter vivenciado diversos episódios de violência, ela sentiu um grande alívio quando seu marido morreu. Magnólia chegou a compartilhar com algumas pessoas os sentimentos que tinha, porém, era muito julgada, inclusive pelos familiares e amigas que já tinham perdido pessoas próximas. Dessa forma, a participante começou a se sentir culpada por tudo o que estava sentindo, não tendo apoio, suporte e validação de seus sentimentos.

A imposição de regras ou a falta de empatia por parte da rede de apoio podem agravar o sentimento de isolamento e desamparo da pessoa enlutada. Isso pode levar a uma sensação de não ser compreendido ou apoiado adequadamente, resultando em um impacto negativo sobre a capacidade de lidar com a dor e se adaptar à nova realidade. Portanto, é crucial que a rede de apoio seja sensível às necessidades individuais do enlutado, oferecendo um espaço genuíno para expressão e reorganização, a fim de verdadeiramente cumprir sua função de proporcionar alívio emocional e conforto durante esse processo delicado (Franco, 2002). Dessa forma, por meio das falas e das histórias as participantes, fica evidente a necessidade de acolhimento da dor, independentemente das circunstâncias de vivências anteriores.


Reelaboração da perda após a realização do desenho-estória-temático

O tema proposto a todas as participantes foi: “A minha vida após a morte do meu marido”, sendo solicitado que elas desenhassem essa temática. Após o desenho ser realizado, elas contaram uma história estória com começo, meio e fim, dando um título ao final. Após a realização do desenho-estória- temático, foi realizado o inquérito e, na sessão seguinte, foi feita a devolutiva com base na análise do desenho-estória-temático e na história de vida das participantes.

Magnólia fez um desenho muito colorido, com vários pássaros, árvores e flores. Na história estória, relata estar se sentindo livre por saber que não vivenciaria mais todas as dores e limitações que o marido lhe impunha. No inquérito, apareceu sentimento de culpa por se sentir livre, contrariando o que era esperado pela sociedade em um momento de dor e angústia. Na sessão de devolutiva, optou-se por ajudá- la a compreender seus sentimentos de alívio, já que havia vivenciado, por anos, um relacionamento abusivo, assim, a morte do marido foi sentida como algo bom e não negativo. Na entrevista de encerramento, Magnólia disse:

Foi uma coisa muito boa, tirei um peso que tinha por dentro, me senti libertada. Senti vontade de voltar a me cuidar e isso foi maravilhoso, vi a importância de não me deixar de lado, já que há muito tempo não me sentia assim, como uma mulher. O desenho me proporcionou enxergar isso, que eu estou viva e preciso me cuidar. A minha relação com a minha filha mudou e nem estou acreditando. Estou mais paciente, mais tranquila e pensativa para tomar decisões. Agora sei que preciso estar bem para continuar cuidando da minha filha. Até então, eu não tinha um tempo para expressar sobre meus sentimentos e o desenho me mostrou o quanto isso foi possível.


Ao ser questionada se era uma boa técnica no processo de luto, ela disse:

Ajuda muito, pois dá uma sensação de que todos os sentimentos são colocados para fora através de riscos e rabiscos em um papel (Magnólia).


Já com Violeta, foi abordada na devolutiva a importância de ela olhar para a dor dela e não se anestesiar com a correria do dia a dia. Ela disse que isso muitas vezes era uma fuga, com medo de parar para pensar em tudo que viveu e não suportar sentir uma dor ainda maior:

Foi muito bacana participar da pesquisa. No início pensei que ia ser muito triste, que iria ficar chorando, mas foi tudo muito maduro. Estava muito resistente no começo pela dificuldade de falar do assunto, mas tudo isso foi se organizando dentro de mim. Me senti livre para falar com uma pessoa que estava disposta a me ouvir. Foi difícil fazer e pensar no que eu iria desenhar, mas depois tive uma sensação boa e vi que era tudo que eu queria dizer mesmo. Me surpreendeu. Vi que o luto não tem prazo de validade, ele vai e volta. (Violeta)


Quando questionada sobre o que achava da técnica para ser usada com pessoas enlutadas, ela disse:

Achei muito bom, no desenho ficou mais fácil de expressar aquilo que eu não tinha falado verbalmente. Parece que não vai ter sentido, mas tem todo um contexto por trás que facilita o processo (Violeta).


Com Margarida, foi trabalhada a importância de pensar sobre a nova vida, mas não se deixar levar pela ansiedade e sofrer precipitadamente e que seria necessária uma ressignificação de sentimentos e emoções que ainda eram muito negativos. Conversamos sobre alguns momentos da vida em que a saudade apareceria e que ela deveria se permitir sentir, mas não se paralisar na dor. Na entrevista final, ela disse:

Gostei bastante de participar da pesquisa, foi muito válido. Foi bom falar sobre o assunto da morte e tudo que ela envolve. Contribuiu no meu processo de luto e não concordo com as fases do luto que são estipuladas, pois cada dia estou de um jeito. Foi uma troca muito importante que me trouxe a oportunidade de reflexão e ressignificação. É a história da minha vida, não vou esquecer jamais.


Sobre utilizar a técnica do desenho-estória com tema com pessoas enlutadas, ela disse:

Acho muito válido, nunca ninguém fez esse tipo de abordagem comigo, mas através dela conseguimos tirar muitos benefícios. Qualquer forma de expressão é válida e através da arte, no caso, o desenho, conseguiram melhorar nossa saúde mental (Margarida).


Na devolutiva de Açucena, foi discutido o novo relacionamento e o fato de o namorado não ser o pai dos filhos, sendo importante refletir sobre a função paterna a fim de não criar expectativas que talvez não fossem supridas. Na última sessão, ela disse:

Foi maravilhoso. Deus coloca as pessoas certas na hora certa na vida da gente. Por mais que se trate de uma pesquisa, me ajudou muito internamente a entender aquilo que eu estava sentindo e me incomodando. Foi possível tirar benefício de tudo.


Quando questionada sobre a técnica ser usada em situações de luto, ela disse:

Na minha opinião, deveria ser adotada a técnica não somente em situações de luto, mas em todos os tipos de sofrimento. Por mais difícil que seja representar a realidade em um desenho, ali aparecem muitas coisas que podem ser esclarecedoras e fazer sentido. Foi muito bom e me ajudou bastante.


Na devolutiva com Rosa, foi discutido que estava tudo bem ela sentir a ausência do marido, companheiro, confidente e pai do filho, que a morte dele era muito recente (2 meses) e que não era

momento para pensar em diagnóstico, pois o que ela apresentava eram sintomas esperados do processo de luto, mas isso não descartava o quanto era necessário observar a intensidade dos sintomas.

Na sessão de encerramento, ela relatou:

Eu acredito que deva ser utilizada com pessoas enlutadas sim, o desenho é uma forma de expressão. Por mais que tenha sido uma surpresa e não deu tempo de pensar muito antes de desenhar, consegui expressar o que eu sentia e fiquei reflexiva depois. Acho que pode ser que daqui um tempo eu venha a desenhar um buraco novamente, porém menor, com outros elementos e outra histórias. Então, para mim, foi muito interessante, me ajudou muito participar e receber um acolhimento nesse momento que estou vivenciando.


Pode-se observar, pelo desenho-estória-temático e pela devolutiva, que cada uma das participantes tinha demandas diferentes referentes à vivência do luto e que o desenho-estória-temático possibilitou compreendê-las, bem como refletir sobre elas e se reorganizar internamente, para que os sentimentos manifestados pudessem ser compreendidos, percebendo-se como uma pessoa saudável e não doente – já que na nossa sociedade existem padrões estereotipados socialmente para cada momento de vida e elas muitas vezes se sentiam fora desses padrões, excluindo a vivência única de cada processo (Stroebe & Schut, 1999; Worden, 2013).

Tal possibilidade foi relatada na última sessão, na qual todas as participantes mencionaram que compreenderam melhor o processo que estavam vivenciando e o quanto a dor estava presente em suas atitudes, sem que pudesse ser percebida, em decorrência da sobrecarga diária. Concluíram que, para que pudessem ressignificar a dor, era preciso entrar em contato consigo mesmas por meio do contato com o outro que as pudesse ouvir sem julgamento, sentindo-se acolhidas e facilitando o processo de encontro com a própria dor. Esses dados são corroborados por outros estudos que utilizaram a técnica em diferentes contextos, como pontuados em Trinca (2020), que apresenta o uso do desenho-estória como recurso terapêutico.


Considerações Finais

Vivenciar o luto é uma experiência individual e subjetiva de cada ser humano, que depende de alguns fatores, como o vínculo com o ente falecido, a forma como a morte aconteceu – se já era esperada ou não –, idade da pessoa que faleceu e as histórias vivencias ao longo da vida com essa pessoa.

Este estudo objetivou analisar o desenho-estória-temático como instrumento disparador a ser utilizado no psicodiagnóstico interventivo em situação de luto em viúvas por morte repentina do companheiro. As mulheres que participaram da pesquisa viveram um luto por morte repentina, em que os companheiros faleceram de covid-19.

Dessa forma, pode-se perceber que cada uma das participantes estava vivenciando processos diferentes, algumas tinham conseguido retomar as atividades, reorganizando-se e conseguindo entrar em um novo relacionamento, enquanto outras ainda estavam vivenciando todo o processo da perda, sentindo muitas dificuldades em conseguir seguir em frente com a ausência do companheiro.

Algo em comum ficou evidente entre elas: a maternidade, ao relatarem como se sentiram após ficarem viúvas. Todas se entregaram integralmente aos filhos em relação à preocupação e à esperança, dizendo que a vida só fazia sentido tendo-os por perto, sugerindo que, se não vivessem a maternidade, teriam desistido de continuar a viver depois de uma perda tão impactante.

Foi possível perceber o quanto a rede de apoio é importante no processo de luto. Tratando-se de mulheres com filhos menores de 18 anos, receber acolhimento e ajuda é fundamental, já que a vivência da maternidade se intensifica, até mesmo em decorrência da sobrecarga de trabalho e burocracias que passam a assumir.

Com relação à utilização da técnica do desenho-estória-temático, mostrou-se um instrumento eficaz para trabalhar aspectos do luto, permitindo que as participantes conseguissem expor seus aspectos conscientes e inconscientes e pudessem, a partir dessa vivência, refletir sobre seus recursos e suas dificuldades diante das situações vivenciadas. Assim, ao se permitir perceber o seu percurso, relatá-lo e ampliar sua capacidade de ressignificação, todas puderam ver o processo como algo que contribuiu na elaboração do luto, com algumas delas vendo a necessidade de ter um acompanhamento psicológico e outras podendo seguir com a vida de maneira mais salutar.

Vale ressaltar que a aplicação do desenho-estória-temático não substitui o processo de psicoterapia, mas este trabalho mostrou o quanto esse instrumento foi eficaz no processo de luto e pode ser adotado no psicodiagnóstico interventivo e na psicoterapia como recurso para elaboração do luto de viúvas com morte repentina dos maridos. Para que essa técnica seja efetiva, é importante que sejam feitas mais pesquisas com maior número de viúvas e em outros momentos diferentes do vivenciado durante a pandemia de covid-19.


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