https://doi.org/10.24316/prometeica.v0i16.203


Editorial


CEM ANOS DEPOIS …

Embora não tenhamos qualquer especial aderência à perspectiva histórica positivista – que se apoia na figura de grandes nomes e nas efemérides –, é natural lembrarmos que o ano de 2018 marcará a passagem de um século do término da I Guerra Mundial. Assim, ao longo deste novo ano que agora se inicia, inevitavelmente, um sem número de publicações, obras acadêmicas e filmes farão alusão ao aniversário de cem anos do final do primeiro grande confronto mundial no século XX.


Aquela foi, talvez, a maior de todas as guerras. Tendo origem na grande crise que o capitalismo enfrentou ao final do século XIX e nas disputas em torno das colônias e de novos mercados, o confronto militar alcançou nações de todos os continentes que combateram em sua própria casa ou em territórios estrangeiros. Por isso mesmo chamada de Mãe de todas as guerras, o conflito envolveu 28 países e batalhas terrestres, navais e aéreas. Funcionando como uma verdadeira máquina de massacre - e sem quaisquer precedentes na história das guerras, a I Guerra Mundial levou soldados para as trincheiras inundadas de água e deixou um saldo devastador: segundo o historiador Eric Hobsbawm, em A Era dos Extremos, a França perdeu mais de 20% dos seus homens em idade militar e apenas um terço de seus soldados conseguiu voltar ileso para casa. A Inglaterra perdeu meio milhão de homens com menos de trinta anos. Perto de 3,4 milhões de alemães e franceses morreram no conflito. Em apenas um ano e meio de combate, as tropas americanas perderam quase 120 mil homens.


Cem anos depois, as lições desse desastre parecem não terem sido suficientemente apreendidas. Na Europa, as ameaças à unidade da União Europeia colocam em risco as perspectivas de um continente unido e pacífico. Os governantes, em raivosa tentativa de garantir a segurança de seus países, comparam artefatos e arsenais nucleares. A fome alastra-se pelas regiões até hoje mantidas à margem do progresso econômico e o desemprego atinge as nações industrializadas e desenvolvidas. Em tempos de internet e de força das mídias sociais, fake news espalham-se com rapidez surpreendente, ameaçando a autoridade da grande imprensa, encobrindo a realidade e dificultando a análise e a atribuição de significado aos fatos.

Nesse contexto, a responsabilidade da comunidade científica aumenta de maneira considerável e, não à toa, os critérios de objetividade são os pilares que sustentam nossa comunicação e os nossos esforços de divulgação científicas. E, se o rigor metodológico e a honestidade intelectual são as condições sine qua non do nosso trabalho editorial, é a esperança que nos mantém unidos em torno do projeto da Prometeica. Esta esperança de um mundo melhor, e que povoa os pensamentos de todos no início de cada novo ano, é a matéria-prima que nos mobiliza e nos incentiva a seguir em frente.


No número 16 da Prometeica, trazemos o trabalho de Alejandro Granados-Garcia e Manuel Guerrero- Martelo que, em El Coraje Del Sujeto, retomam as ideias de Foucault e sua busca por uma genealogia da ética a partir da história da sexualidade. Em Hacia un concepto amplio de magnitude escalar, Alejandro Sobrino propõe a ampliação do conceito de magnitude escalar, investigando suas propriedades e suas relações contextuais. Miguel López Astorga, em Possibilidades da disjunção na teoria de modelos mentais, discute os questionamentos de Baratgin e seus colaboradores com relação à teoria dos modelos mentais, propondo que suas críticas não impactam esse corpo teórico naquilo que ele tem de central. Em Rorty y Heidegger: dos críticas contemporáneas a la epistemología en tanto filosofía, Nahir Fernandez, retomando Heidegger e Rorty, analisa os desdobramentos das críticas à epistemologia moderna, em especial no que diz respeito à distinção entre sujeito/objeto e capacidade de conhecer/atuar n(o) mundo. Em Estudio desde la filosofía de la ecología de la noción de impacto ambiental: relación entre los saberes que la conforman y sus consecuencias epistémicas, Tomás Emilio Busan e Guilhermo Folguera abordam, sob a luz da Filosofia Ecológica, as noções de impacto ambiental do ponto de vista do diálogo com outros campos do conhecimento. Na seção de Debates, trazemos os trabalhos de Gonzalo Castillo e de Mónica Maisterrena González, No primeiro, em Docencia e investigación en la Universidad Nacional de San Juan (1994 - 2015), discute-se, a partir

de uma perspectiva histórico-estrutural e da reflexão bourdiana, os impactos de dois dos mais importantes instrumentos de estímulo à pesquisa no ambiente científico-universitário da Argentina; no segundo, em La inserción laboral de los egresados del sistema universitario con perfil de investigador en México: Un breve análisis de factores históricos y problemas institucionales académicos, o tema abordado diz respeito à análise sobre o emprego e a mobilidade do trabalho no campo da pesquisa no México. Finalmente, Jimena Yisel Caballero Contreras resenha a obra Aportes para la construcción de teorías del videojuego: neste livro, sete diferentes autores (de diferentes áreas do conhecimento) buscam entender os videojogos como objetos específicos de pesquisas científicas, bem como retomam os esforços para a construção de um corpo teórico capaz de investiga-los sob o ponto de vista de sua linguagem específica, das interações entre usuário e plataforma, da semiótica social e dos seus desenvolvimentos histórico-tecnológicos.


Convidamos a todos à leitura deste novo número e aproveitamos a oportunidade para desejar aos nossos colaboradores e leitores um ano novo repleto de realizações.


Ivy Judensnaider
(Universidade Paulista, Brasil)

ivy.naider@gmail.com