Da mediatização do sofrimento social à experiência pública de injustiça

testemunhos online de catadores de materiais recicláveis em torno da desativação do Aterro do Jóquei, no Distrito Federal

Resumo

A Política Nacional de Tratamento de Resíduos Sólidos no Brasil determina que rejeitos orgânicos e sólidos tenham disposição final ambientalmente adequada e ordena a desativação de lixões a céu aberto no país. O descarte de resíduos em aterros precariamente controlados, conhecidos como lixões, constituem um sério problema socioambiental que atinge 59% dos municípios brasileiros. Mas, apesar de se traduzirem em espaços de duplo registro moral: fonte de riscos sanitários e de injustiças sociais, os lixões se constituem em lócus de “trabalho sujo” para milhares de catadores de materiais recicláveis e, neste sentido, suas desativações provocam incertezas para a subsistência desses trabalhadores. Nossa pesquisa trata de coletores de resíduos sólidos, no Distrito Federal, confrontados ao momento crítico dos movimentos pela interdição da atividade de catação no Aterro do Jóquei, o chamado “Lixão da Estrutural”, na Cidade Estrutural. Os catadores criticam as condições de fechamento do aterro sem haver garantias de compensações pelo serviço insalubre de coleta seletiva que prestam à sociedade. Com base na análise sociológica do discurso de testemunhos desses trabalhadores sobre sua situação problemática, em protestos coletivos no espaço público e em vídeos gravados e publicados na rede social Facebook, discutimos a mediatização do seu sofrimento social enquanto micro prática discursiva de demanda por justiça social. Trata-se de um ato de superação de injustiças hermenêuticas que constituem uma verdadeira infrapolítica de visibilidade de “atores vulneráveis” como parte significativa da estratégia de mobilização social em torno da solução do problema público da inclusão socioprodutiva dessa categoria socioprofissional na economia circular local da reciclagem.