Do crime à violência urbana: Desafios para o estudo do medo na América Latina

André Luiz Gomes Soares; Joana Domingues Vargas

doi:10.34024/csr.2025.61.2.17376

Autores

André Luiz Gomes Soares Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (NECVU/IFCS/UFRJ) Autor https://orcid.org/0000-0002-9353-089X
Joana Domingues Vargas Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Autor https://orcid.org/0000-0001-5714-9568

DOI:

https://doi.org/10.34024/csr.2025.61.2.17376

Palavras-chave:

Medo, Violência urbana, América Latina

Resumo

Neste artigo pretendemos mostrar como o contexto latino-americano impõe desafios ao estudo do “medo do crime” por exigir uma análise do medo em sua associação com a violência, que tem forte presença na região. Inicialmente, discutimos as dificuldades de se conceituar medo, crime e violência e propomos algumas formas de tratamento destes termos. Com base em revisão de estudos, elencamos as especificidades da violência na América latina e situamos, em um “gradiente do medo”, as abordagens que consideramos, segundo alguns critérios, as mais profícuas na associação medo e violência. Ao fazê-lo, corroboramos a aplicabilidade do modelo de gradiente e identificamos algumas insuficiências na abordagem da associação violência e medo que podem despertar novos estudos.

Biografia do Autor

André Luiz Gomes Soares, Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (NECVU/IFCS/UFRJ)

Doutor em Sociologia no Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Pesquisador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (NECVU/IFCS/UFRJ).
Joana Domingues Vargas, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Doutora em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ). Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Pesquisadora do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (NECVU/IFCS/UFRJ).

Referências

Acosta, T.; José, W. (2015). Reinforcement of home security for fear to crime and uncivilized conducts. Study of a case at a politically polarized community in Caracas, Venezuela. Revista Criminalidad, 57(1): 91–102.

Almeida, S. L. de (2019). Racismo estrutural. São Paulo: Polén Livros.

Arias, E. D.; Goldstein, D. M. (2010). Violent Democracies in Latin America. [s.l.] Duke University Press.

Atlas da Violência 2023 / coordenadores: Daniel Cerqueira; Samira Bueno – Brasília: Ipea; FBSP, 2023.

Batista, V. M. (2003). O medo na cidade do Rio de Janeiro: dois tempos de uma história. Rio de Janeiro: Editora Revan.

Bauman, Z. (1998). Modernidade e Holocausto. São Paulo: Editora Schwarcz - Companhia das Letras.

Bauman, Z. (2009), Confiança e medo na cidade. São Paulo: Editora Schwarcz - Companhia das Letras.

Beck, U. (2010). Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34.

Borges, D. (2011). O medo na cidade do Rio de Janeiro: uma análise sob a perspectiva das crenças de perigo. Curitiba: Appris.

Borges, D.; Ribeiro, E.; Cano, I. (2021). Qualidade dos dados de homicídio na América Latina. Mediações - Revista de Ciências Sociais, 26(3): 639–658. https://doi.org/10.5433/2176-6665.2021v26n3p639.

Briceño-León, R. (2007). Violencia Urbana en América Latina: Un modelo sociológico de explicación. Espacio Abierto, 16(3): 541–574.

Caldeira, T. P. do R. (2000). Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Editora 34.

Castel, R. (2019). La inseguridad social ¿Qué es estar protegido? [s.l.] Santa Fe, Asociación Civil Mirame Bien.

Cavalcanti, M. (2008). Tiroteios, legibilidade e espaço urbano: Notas etnográficas de uma favela carioca. Dilemas - Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, 1(1): 35–59.

Chalhoub, S. (1988). Medo Branco de Almas Negras: Escravos, Libertos e Republicanos na Cidade do Rio. Revista Brasileira de História, 8(16): 83–105.

Cohen, S. (2002) Introduction. In S. Cohen, Folk Devils and Moral Panics: The Creation of the Mods and Rockers. Third edition. London: Routledge.

Dammert, L.; Malone, M. F. T. (2006). Does It Take a Village? Policing Strategies and Fear of Crime in Latin America. Latin American Politics and Society, 48(4): 27–51. https://doi.org/10.1111/j.1548-2456.2006.tb00364.x.

Dammert, L., Salazar, F. (2017). Fear and insecurity in Latin America, In: M. Lee e G. Mythen (org.), The Routledge International Handbook on Fear of Crime. Taylor & Francis Group, p. 339–353.

Delumeau, J. (2009). História do medo no Ocidente 1300-1800: uma cidade sitiada. São Paulo: Companhia de Bolso.

Ditton, J., Bannister, J., Gilchrist, E., Farrall, S. (1999). Afraid or Angry? Recalibrating the ‘fear’ of Crime. International Review of Victimology 6(2): 83–99. https://doi.org/10.1177/026975809900600201.

Duncan, G. (2006). Los señores de la guerra: de paramilitares, mafiosos y autodefensas en Colombia. [s.l.] Planeta.

Durán-Martínez, A. (2015). Drugs Around the Corner: Domestic Drug Markets and Violence in Colombia and Mexico. Latin American Politics and Society, 57(3): 122–146. https://doi.org/10.1111/j.1548-2456.2015.00274.x.

Elias, N. (1990). O Processo Civilizador 1. Rio de Janeiro: Zahar.

Elias, N. (1993). O Processo Civilizador 2. Rio de Janeiro: Zahar.

Farrall, S., Bannister, J., Ditton, J., Gilchrist, E. (1997). Questioning The Measurement of The ‘fear of Crime’: Findings from a Major Methodological Study. The British Journal of Criminology 37(4): 658–679. https://doi.org/10.1093/oxfordjournals.bjc.a014203.

Fernandes, L., Rêgo, X. (2011). Por onde anda o sentimento de insegurança? Problematizações sociais e científicas do medo à cidade. Etnográfica. Revista do Centro em Rede de Investigação em Antropologia, 15(1): 167–181. https://doi.org/10.4000/etnografica.869.

Ferraro, K. F. (1995). Fear of Crime: Interpreting Victimization Risk. Albany, New York State: University of New York Press.

Ferraro, K. F.; Lagrange, R. L. (1987). The Measurement of Fear of Crime. Sociological Inquiry, 57(1): 70–97. https://doi.org/10.1111/j.1475-682X.1987.tb01181.x.

Flauzina, A. L. P. (2006). Corpo negro caído no chão: o sistema penal e o projeto genocida do Estado brasileiro. Dissertação de mestrado. Brasília, DF. Universidade de Brasília - UNB, 146 p.

Flauzina, A. L. P.; Freitas, F. da S. (2017). Do paradoxal privilégio de ser vítima: terror de Estado e a negação do sofrimento negro no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Criminais: RBCCrim, 25(135): 49–71.

Focás, B.; Kessler, G. (2015). Inseguridad y opinión pública: debates y líneas de investigación sobre el impacto de los medios. Revista Mexicana de Opinión Pública, 19(S.I.): 41-59. https://doi.org/10.1016/j.rmop.2015.07.001.

Foucault, M. (1977). Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes.

Garland, D. (2002). The Culture of Control: Crime and Social Order in Contemporary Society. Oxford: Oxford University Press.

Garofalo, J. (1981). The Fear of Crime: Causes and Consequences. The Journal of Criminal Law and Criminology (1973-), 72(2): 839–857. https://doi.org/10.2307/1143018.

Gonzalez, L. (2020). Por um Feminismo Afro-Latino-Americano: Ensaios, Intervenções e Diálogos. Rio Janeiro: Zahar.

Gurr, T. R. (1981). Historical Trends in Violent Crime: A Critical Review of the Evidence. Crime and Justice, 3: 295–353.

Howard, D.; Hume, M.; Oslender, U. (2007). Violence, Fear, and Development in Latin America: A Critical Overview. Development in Practice, 17(6): 713–724.

Imbusch, P. (2003). The Concept of Violence. In: W. Heitmeyer e J. Hagan (org.), International Handbook of Violence Research. Dordrecht: Springer Netherlands, p. 13–39.

Imbusch, P.; Misse, M.; Carrión, F. (2011). Violence Research in Latin America and the Caribbean: A Literature Review. International Journal of Conflict and Violence (IJCV), 5(1): 87–154. https://doi.org/10.4119/ijcv-2851.

Kessler, G. (2009). El sentimiento de inseguridad: sociología del temor al delito. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores.

Kruijt, D.; Koonings, K. (2002). Introducción: la violencia y el miedo en América Latina. In: K. Koonings; D. Kruijt (Eds.). Las sociedades del miedo. El legado de la guerra civil, la violencia y el terror en América latina. [s.l.] Universidad de Salamanca, p. 21-49.

Lee, M. (2001). The Genesis of `Fear of Crime’. Theoretical Criminology, 5(4): 467–485. https://doi.org/10.1177/1362480601005004004.

Lee, M.; Farrall, S. (2008). Fear of Crime: Critical Voices in an Age of Anxiety. [s.l.] Routledge.

Lessing, B. (2018). Making Peace in Drug Wars. [s.l.] Cambridge University Press.

Liberatori, M. (2019). Las ambigüedades del miedo: un análisis etnográfico sobre inseguridades en una villa de Córdoba, Argentina. Etnográfica, 23(1): 27–47. https://doi.org/10.4000/etnografica.6255.

Machado da Silva, L. A. (1993). Violência urbana: representação de uma ordem social. In: E. P. Nascimento e I. Barreira, (org.). Brasil urbano: cenários da ordem e da desordem. Rio de Janeiro, Notrya, p. 131–142.

Machado da Silva, L. A. (2004). Sociabilidade violenta: por uma interpretação da criminalidade contemporânea no Brasil urbano. Sociedade e Estado, 19(1): 53-84. https://doi.org/10.1590/S0102-69922004000100004.

Machado da Silva, L. A. (2010). “Violência urbana”, segurança pública e favelas: o caso do Rio de Janeiro atual. Caderno CRH, 23(59): 283-300. https://doi.org/10.9771/ccrh.v23i59.19104.

Magalhaes, C. A. T. (2004). Crime, sociologia e políticas públicas. Belo Horizonte: Editora Newton Paiva.

Mattei, L. F. (2017). Trajetória e atualidade da desigualdade na América Latina. REBELA - Revista Brasileira de Estudos Latino-Americanos, 7(2): 242-261.

Mauss, M. (1979). Marcel Mauss: Antropologia. São Paulo: Ática.

Misse, M. (1999). Malandros, marginais e vagabundos: a acumulação social da violência no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ. Tese de doutorado. Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro da Universidade Candido Mendes - IUPERJ/UCAM, 402 p.

Misse, M. Apresentação. (2004). In: C. A. T. Magalhaes, Crime, sociologia e políticas públicas. Belo Horizonte: Editora Newton Paiva.

Misse, M. (2006). Crime e violência no Brasil contemporâneo: estudos de sociologia do crime e da violência urbana. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris.

Misse, M. (2008). Sobre a construção social do crime no Brasil: esboços de uma interpretação. In: Misse, M. (org.), Acusados & Acusadores. Estudos sobre ofensas acusações e incriminações. Rio de Janeiro: Revan, p.13-32.

Misse, M. (2010). Crime, sujeito e sujeição criminal: aspectos de uma contribuição analítica sobre a categoria “bandido”. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, 79: 15–38. https://doi.org/10.1590/S0102-64452010000100003.

Misse, M. (2016). Violência e teoria social. Dilemas - Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, 9(1): 45–63. https://doi.org/10.4322/dilemas.v9.n.1.7672

Misse, M. (2019). Alguns aspectos analíticos nas pesquisas da violência na América Latina. Estudos Avançados, 33(96): 23–38. https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2019.3396.0003.

Misse, M.; Werneck, A. (2012). O interesse no conflito. In: M. Misse e A. Werneck (org.), Conflitos de (grande) interesse: estudos sobre crimes, violências e outras disputas conflituosas. Rio de Janeiro: Garamond, p. 7–25.

Morera, A. R. (2022). La ‘justicia por mano propia’ como un performance moral en Colombia y México: Perspectivas analíticas para un modelo pragmático de la ‘violencia’ en la teoría social contemporánea. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, 15(3): 775–802. https://doi.org/10.4322/dilemas.v15n3.44163.

Pinho, O. (2021). Ontologia(s): Perspectivismo e Afropessimismo. Novos Debates, 7(2): E72181. https://doi.org/10.48006/2358-0097-7218.

Porto, M. S. G. (2006). Crenças, valores e representações sociais da violência. Sociologias, 8(16): 250–273. https://doi.org/10.1590/S1517-45222006000200010.

Ribeiro, E.; Cano, I. (2016). Vitimização letal e desigualdade no Brasil: Evidências em nível municipal. Civitas - Revista de Ciências Sociais, 16(2): 285–305. https://doi.org/10.15448/1984-7289.2016.2.23066.

Schinkel, W. (2010). Aspects of Violence: A Critical Theory. Erasmus University of Rotterdam, The Netherlands: Cultural Criminology.

Schütz, A. (1979). Fenomenologia e relações sociais: textos escolhidos de Alfred Schutz. Rio de Janeiro: Zahar Editores.

Soares, A. L. G. (2021). O estudo do “medo do crime” na América Latina: estado da arte e uma proposta de organização. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro, RJ. Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, 157 p.

Soares, A. L. G. (2024). The analytic gradient of “fear of crime”: An emotional structuring of the topic from a Latin American literature review. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, 17(1), p. e57668. https://doi.org/10.4322/dilemas.v17.n.1.57668.

Tuan, Y. (2005). Paisagens do medo. São Paulo: Ed. Unesp.

UNODC. (2019a). Global Study on Homicide: Homicide trends, patterns and criminal justice response. Vienna, [s.n.].

UNODC. (2019b). Global Study on Homicide: Executive Summary. Vienna, [s.n.].

Vargas, J. C. (2017). Por uma Mudança de Paradigma: antinegritude e antagonismo estrutural. Revista de Ciências Sociais, 48(2): 83–105.

Vargas, J. D. (2012). Em busca da “verdade real”: tortura e confissão no Brasil ontem e hoje. Sociologia & Antropologia, 2(3): 237–265. https://doi.org/10.1590/2238-38752012v2310.

Vargas, J. D.; Neri, N. E. (2016). From the Desire to Live to the Readiness to Kill. The Result of Legal and Extra-legal Punitive Practices Involving Children and Adolescents in Rio de Janeiro. In: S. Espinosa, A. Fazio, A. F. Vargas (Eds.), Globalization, Violence and Security: Local Impacts of Regional Integration. [s.l.] Peter Lang, p. 111–134.

Vilalta, C. (2020). Violence in Latin America: An Overview of Research and Issues. Annual Review of Sociology, 46(1): 693–706. https://doi.org/10.1146/annurev-soc-073018-022657

Waiselfisz, J. (2012). Mapa da Violência 2012: a Cor dos Homicídios no Brasil. Rio de Janeiro: Cebela, Flacso.

Warr, M. (2000). Fear of Crime in the United States: Avenues for Research and Policy. Criminal Justice, 4(S.I): 451-489.

Zaffaroni, E. R. (2007). O inimigo no direito penal. Rio de Janeiro: Revan.

Zaffaroni, E. R. (2021). Direito penal humano & poder no século XXI. São Paulo: Tirant lo Blanch.

Zaluar, A. (1994). Condomínio do diabo. Rio de Janeiro: Revan.

Zaluar, A. (2004). Integração perversa: pobreza e tráfico de drogas. Rio de Janeiro: FGV Editora.

Zilli, L. F.; Vargas, J. D. (2013). O trabalho da polícia investigativa face aos homicídios de jovens em Belo Horizonte. Ciência & Saúde Coletiva, 18(3): 621–632. https://doi.org/10.1590/S1413-81232013000300008.