Portos e Cidades Portuárias: Algumas Considerações Historiográficas
DOI:
https://doi.org/10.1590/2236-4633Palavras-chave:
Portos, Cidades e Mundo AtlânticoResumo
Ao longo de mais de duas décadas tenho me dedicado à reflexão da relação entre porto e cidade no Brasil. Inicialmente em minha tese de doutorado e, posteriormente nos vários grupos de pesquisa os quais participo, dentre eles o nosso “Grupo de Pesquisa Estudos do Atlântico e da Diáspora africana”.
Para este Congresso, achei por bem trazer algumas das reflexões teórico-metodológicas que temos desenvolvido com minha equipe da UFF e um pouco da maneira como tenho com elas lidado. Mas ainda, pela percepção de que estes aspectos acabam sendo supostos e não debatidos como deveriam.
Primeiramente, temos que definir mais claramente o período e a realidade a qual devemos dar atenção. Afinal, tanto o porto quando as cidades são realidades dinâmicas, em que constantes construções, reconstruções não só são devido às suas realidades intrínsecas, às exteriores e à própria dialética existente entre eles.
Ressalve-se que estamos falando de portos e cidades portuárias, não apenas de cidades litorâneas, mas daquelas onde a atividade portuária interfere diretamente na configuração da cidade e na sua dinâmica urbana, econômica, social e cultural. Isto por si só, reduz a nossa problemática a algumas cidades brasileiras onde realmente o porto é intrínseco a sua própria existência.
Para o historiador de ofício isto já é um grande problema: estamos lidando com uma realidade em constante processo de mudança e, dependendo do período, muito rápidas. É como se tivéssemos uma equação com várias incógnitas – variáveis – e que, como em toda equação, forma um sistema dialético onde dependendo do valor de cada uma delas, altera-se o resultado final.
No caso de um porto capitalista tal realidade é ainda mais complexa por envolver diretamente interesses locais, nacionais e internacionais na sua operação, além, é claro, do surgimento de outros setores econômicos e sociais que dependem, direta ou indiretamente, da atividade portuária.
Exatamente por tais aspectos que agora apenas apontamos, podemos perceber a necessidade do historiador definir com clareza qual o seu foco temático, o período cronológico, a metodologia a ser utilizada e as fontes de pesquisa a serem trabalhadas.
Tentando avançar um pouco mais para podermos explorar uma questão com tantas variáveis - sem nos descolarmos de uma perspectiva de uma história global -temos que “congelar” um tempo, ou seja, definir uma cronologia que dê conta, ao mesmo tempo da especificidade do objeto e da própria conjuntura mais geral.